Estreia absoluta na realização do desconhecido Mike Cahill – que até aqui não tinha feito nada mais na indústria além da edição de alguns documentários de segundo plano e a escrita de uma ou outra obra literária ficcional -, “O Rei da Califórnia” é uma película típica do cinema independente norte-americano, apadrinhada – que é como quem diz, produzida – por Alexander Payne, um dos nomes mais fortes desta corrente nos últimos anos. A história, para não fugir a uma das regras-chave recentes de sucesso para as fitas independentes, foca-se nas relações interpessoais de uma família disfuncional, neste caso entre uma uma filha que é adulta e um pai que é criança.
A razão para tal é simples. Miranda (a sensacional e então promissora, agora certeza, Evan Rachel Wood) é, aos dezasseis anos, uma rapariga que já sofreu todas as desilusões possíveis na vida e, mesmo assim, sobreviveu e continua a lutar por uma existência feliz. Abandonada pela mãe e sem a companhia do pai (Michael Douglas) – internado num manicómio -, abandonou a escola, comprou o seu carro pelo eBay e trabalha num McDonald’s para pagar a renda da casa. O pai, agora de regresso a casa, não parece ter melhorado. Aliás, muito pelo contrário: veio obcecado com a possível existência de um tesouro espanhol na região da Califórnia, onde os dois moram. Sem coragem para contrariar a felicidade e a odisseia do pai, Miranda vai acompanhá-lo numa aventura surreal que, aos poucos, vai ganhando forma.
A primeira nota – e logo de desagrado - vai para a distribuição nacional do filme. Com estreia absoluta internacional em Janeiro de 2007, “King of California” esteve inicialmente para estrear nos cinemas portugueses no primeiro semestre de 2008. Não o fez e foi sendo consecutivamente adiado, mês após mês, até Maio de 2009. Não há muito a ser dito que não fique explícito no intervalo temporal descrito. Para fechar a questão, basta relembrar que o filme foi lançado em DVD no restante continente europeu entre Janeiro e Maio... de 2008. Não será este “nim” das distribuidoras – que não deixa o filme estrear nos cinemas nem saltar logo para o mercado de DVD – o maior incentivo possível à tão combatida pirataria?
Outra consequência – e essa ainda mais desagradável – é não ter tido a oportunidade de acompanhar o crescimento de uma grande actriz. Evan Rachel Wood demonstrava aqui, ao lado do talentoso e multi-dimensional Michael Douglas, ser um das figuras de maior potencial na sua geração. A confirmação – “The Wrestler” -, no entanto, chegou primeiro que o testemunho de uma promessa. Em suma, uma comédia simples e simpática, que não deslumbra mas serve para espairecer dentro de um género cada vez mais comercial e rotulado por fórmulas de bilheteira.
1 comentário:
Douglas está muito bem neste filme. Pena que sua realização seja irregular.
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