Norm Macdonald: Nothing Special (2022)

Por mais respeito que tenha pelo Norm Macdonald enquanto comediante e por menos desagradável que queira ser perante um homem que enfrentava os seus últimos dias neste planeta, a verdade é que este "nada especial" da Netflix apresenta-se demasiado cru para funcionar seja como espectáculo stand-up - falta-lhe o público e todo o ruído de fundo -, seja como homenagem póstuma - nenhum tipo de contexto à sua carreira ou à sua história de vida. O próprio debate amigável que se segue com Letterman, Chappelle, Conan, Sandler e companhia acaba por ser demasiado amorfo e pouco emotivo, culpa talvez da falta de impacto e da desilusão em torno do visionamento que lhe precedeu. Até sempre, Norm.

Cyborg Cop & Sam Firstenberg @ VHS

The Tragic Real-Life Story of Pat Morita

The Tinder Swindler (2022)

Documentário de ritmo e estrutura muito competente, que manipula inteligentemente e predispõe o espectador a entrar no mesmo vórtice de ilusões e mentiras com que este burlão israelita enganou várias mulheres em dezenas de milhares de euros. Mais interessante ainda do que absorver e perceber o esquema de Ponzi luxuosamente (literalmente) bem montado pela equipa de Simon Leviev, é assistir a como, mesmo após todas as evidências apontarem para uma terrível vigarice, a esperança de um amor/paixão de um milionário acaba por levar várias mulheres a cometerem os mesmos erros inocentes, vezes sem conta. Lição para o futuro: nunca emprestem dinheiro a um bilionário. No final, sensação agridoce: Leviev acabou por ser preso pelo que fez a estas mulheres... mas um rápido fastforward no tempo mostra-o novamente solto a aproveitar o melhor da vida com uma namorada supermodelo israelita, um Bentley e um Ferrari. Como um bom vigarista é o que aproveita qualquer oportunidade, a Netflix já levou com um processo do segurança de Leviev, que pediu cerca de cinco milhões de euros de indemnização por "retrato impreciso" da sua figura. Contos de fadas, está bem está.

Old Gun

The Good Liar (2019)

Quem diria. Uma história com um velhote malandro e uma velhota adorosa transforma-se num "rape revenge movie" nazi. E o sacana do Bill Condon, realizador daqueles filmes de vampiragem emo com um alpaca lobisomem ainda tem o descaramento de nos dar a dica a meio caminho quando mete o sir Ian McKellen e a lady Helen Mirren no cinema a ver o "Inglorious Basterds" do Tarantino. Por falar nisso, todos os filmes deviam ter excertos destes bastardos. Muito de McKellen e Mirren para tão pouco que lhes é oferecido através de um guião meio atabalhoado, que aposta no valor choque da sua reviravolta principal quando tudo o que o espectador queria era gostar do avôzinho arrependido. Betty, a Shosanna de terceira idade. Fair enough!

Robin Williams @ Johnny Carson

You (S3/2021)

Mais uma temporada que consegue manter o nível, o estilo e a qualidade das anteriores, tomando no entanto uma decisão no grande finale que, creio, irá ferir - se não mesmo matar - o futuro da série. Atenção aos spoilers que se seguem. Love era o caminho a seguir. A personagem e a interpretação irrepreensível de Victoria Pedretti roubou todo o protagonismo da história ao longo dos últimos dois anos, deixando Joe em dinâmicas psicológicas e afectivas que pareceram sempre muito menos intensas, impulsivas, interessantes e problemáticas que as de Love. Já ninguém quer saber da próxima paixoneta de Joe, seja em Nova Iorque ou em Paris. Era a altura de ver Love sobreviver sem irmão, mãe e Joe - a morte deste seria até uma jogada completamente imprevisível para o espectador - e não em apostar em mais um arco taradão de Penn Badgley. Guinevere, ainda tenho saudades tuas.

Ray Liotta (1954-2022)

Trinta anos da última vez de Johnny Carson

The Punisher (1989)

Jogos de espelhos, casacos de cabedal, enforcamentos, casas a explodir e um vingador em chamas. Não passaram sequer cinco minutos e já estou de beiços pelo trabalho deste Mark Goldblatt. Um camião telecomandado a transportar whisky, arpões, artefactos ninja, arcos e flechas, facas a voar, uzis, máfia italiana e yakuzas. Fósforos no escuro, esticador de corpos na boa tradição Bond e Frank Castle, um ex-polícia norte-americano com sotaque russo, vai-se lá saber porquê. Quem o chamou para aqui? O Batman. Um guião que consegue meter o anti-herói a trabalhar em conjunto com um dos vilões para salvar o filho deste último. Como dizem os americanos, bold! Calma, ainda temos tiroteios em casinos, perseguições num autocarro, espadas e samurais e uma karateca sexy com gosto por lâminas afinadas. Tão bom limpar o palato de vez em quando.

Law of the Jungle

No Peter Stormare as the russian cosmonaut?

Perfect (1985)

Vim pelos maiots e pelos movimentos pélvicos da Jamie Lee Curtis, fiquei por todo o ângulo ético em torno do jornalismo de investigação. É difícil resistir a algo tão anos oitenta como este "Perfeição", um filme que tinha toda uma combinação de temas para falhar miseravelmente mas que, talvez até o fazendo no meio de tantos subplots - o passado da nadadora olímpica, a pressão do governo, a palavra e os deveres de um jornalista, etc. etc. -, revela-se irresistível em todas as suas imperfeições. Sequência de créditos finais mais sensual da história de Hollywood e melhor uso de sempre de um teclado, mesmo que por alguém que não sabia o que era o backspace ainda. "Wanna F*ck?". Sim, por favor, vamos tornar o cinema sexy outra vez.

Jane???

The Untold Truth Of Top Gun's Maverick

The Front (1976)

O que mais fica desta (mais uma) exploração à paranóia comunista que imperou nos EUA e em Hollywood durante o Macarthismo na década de cinquenta é a maravilhosa abertura com imagens a preto e branco ao som de "Young at Heart", de Frank Sinatra. Volta no fim, juntamente com aqueles parênteses tão profundos e significativos que acompanham os nomes de Martin Ritt, Walter Bernstein ou Zero Mostel, todos eles nomes "banidos" da indústria durante este período. Depois é Woody Allen menos esquizofrénico, neurótico e enérgico do que o habitual - não menos eficaz na mensagem, mas claramente menos divertido -, num filme que se arrasta na previsibilidade sempre com tom ambíguo até ao portentoso "f*ck you" final perante o comité de investigação. Importante, mas demasiadamente contido.

Still at the top of his game

Marvel Brothers going real this time

Knights of Badassdom (2013)

O anão da "Guerra dos Tronos", um dos nerds com mais piada da "Community", a Summer Glau da "Firefly" e o Joe Lynch na realização, nome que entretanto foi ganhando algum estatuto no meio. Tinha tudo para não ser uma catástrofe a mais recente escolha do Miguel para o Nalgas Film Club. Mas não. Preferia comer os tomates do Peter Dinklage com leite condensado como a ex-satânica que andou a despachar palermas do "Dungeons & Dragons" aqui do que voltar a ver um filme que acha que é suficiente meter as personagens a misturar calão com latim para ter piada. Zero gargalhadas, zero lógica, zero coração. Lynch diz que a culpa foi do estúdio, que lhe cortou vinte minutos de fita. Não sei que estúdio foi, mas obrigado. Sabem o que é que acontece quando alguém atira o Dinklage ao mar? Microondas. Dinklage que acha que as mulheres cheiram todas mal do cabelo. A essa altura não é cabelo, amigo. Porra, desculpem, foi para animar a coisa depois deste desastre.

Rebecca Hall is so underrated!

Go Big or Go Home

Body Double (1984)

De Palma perverso e malandro, entro o plágio e a homenagem a Hitchcock - tanto de "Vertigo", "Rear Window" e até de "Dial M for Murder" pode ser encontrado aqui -, numa jornada com momentos de puro deleite cinematográfico - a cena no centro comercial, por exemplo -, onde a energia e a vibe sexual, obsessiva, voyeurística e paranoica sente-se a fluir entre os planos do mestre norte-americano e as decisões confusas da personagem de Craig Wasson. Qual Giallo refinado que desconstrói Hollywood enquanto se banha nos seus vícios e manias, "Body Double" é bom exemplo da razão pela qual a Filmin continua a ser a plataforma preferida de streaming cá de casa.

Nas Nalgas do Mandarim - S09E06

Chastain & Fiennes

The Producers (1967)

Estreia de Mel Brooks na realização e logo a meter o público e o mundo a rir-se de Hitler. Uma dupla que se proclama "incrivelmente culpada" no que à química diz respeito - Zero Mostel e o então falido Gene Wilder - e um misto de tons e géneros humorísticos que nunca deixam este "O Falhado Amoroso" - não consigo honestamente perceber onde foram buscar qualquer tipo de fundamento ao filme para esta tradução - cair num só registo. Não é sátira, não é musical, não é slapstick. É um pouco de tudo e um pouco de nada, entre os delírios nervosos de Wilder e a panca nazi do alucinado Kenneth Mars. Falta-lhe alguma imprevisibilidade narrativa, talvez até algum peso dramático que contrabalançasse o regabofe de amor geriátrico e um dos Hitlers (Dick Shawn) mais ousados da história do cinema. Ainda assim, mantém-se fresco e não há como não ficar fascinado com a produção de palco de "Springtime for Hitler", a tal que deixou a plateia em choque e os produtores em êxtase pouco antes do fatídico intervalo. Não precisam de comentar, estou simplesmente a escrever um texto retórico.

Spiderhead

Another cult for Florence Pugh

Color Out of Space (2019)

Que saudades que eu não tinha do sul-africano Richard Stanley e dos seus devaneios mitológicos tão abstractos quanto esteticamente idiossincráticos. Depois da distopia cyberpunk e do western africano profundo de início dos anos noventa, Stanley regressa com a adaptação visualmente deslumbrante - mas narrativamente caótica - de uma história centenária do ícone da literatura de terror e ficção científica H.P. Lovecraft. Nada contra a fórmula do "estilo sobre a substância", mas a verdade é que entre o Nicolas Cage à "Beijo do Vampiro", as alpacas em Sintra, as críaturas mutantes, os rituais ocultos, as luzes psicadélicas e o "Deus lá sabe o que se passa aqui", "A Cor Que Caiu do Espaço" vai-se espalhando ao comprido com o desenrolar dos minutos. Talvez Stanley tenha sido mesmo a escolha perfeita para dar vida ao inexplicável, numa obra que, mérito seja dado, parece ter tido um orçamento infinitamente superior ao que realmente teve.

Nas Nalgas do Mandarim - S09E05

Sandler's Rocky