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terça-feira, janeiro 07, 2025

Crank (2006)

Realização à Guy Ritchie da Temu com todo um elenco secundário da Wish, que ainda assim consegue montar hora e meia de diversão punkrock pateta, sem regras nem grandes lógicas, com canzanadas em público em Chinatown, felácios a meio de uma perseguição automóvel, carros a atravessar escadas rolantes em centros comerciais, tiroteios em rooftops e uma cena final em "queda livre" que encerra em si mesmo todo o espírito de paródia que coloriu este showdown de Statham. Nem um bocejo... e só isso vale muito!

quinta-feira, dezembro 15, 2022

Night at the Museum (2006)

Um macaco que tem mais piada que o Ben Stiller e um homem das cavernas que é melhor actor que o Owen Wilson. Ricky Gervais completamente desenquadrado numa personagem que não o aproveita minimamente e um Robin Williams presidencial a cavalo, num manequim de cera sem sangue quente a correr pelas veias e que, por isso, não lhe dá liberdade para explodir e improvisar como sempre tanto gostou. O Rami Malek tão novo mas já com cara de quem merecia um par de chapadas para perder aquele ar irritante e a Carla Gugino a precisar de um homem a sério. A criançada até pode ter achado piada a isto tudo, mas para os adultos há aqui muito pouco: um mesmo acto que se repete vezes sem conta - meter ordem na confusão durante a noite - e tanto "então... mas..." que, por muito boa vontade que haja, faz com que absolutamente nada faça sentido tirando a parte que supostamente deveria ser a mais difícil de explicar. Sim, a de tudo o que está no museu ganhar vida quando ele fecha. Sequelas? Nem pens... claro filhotes, vocês é que mandam!

quarta-feira, março 23, 2022

RV (2006)

Robin Williams já numa fase descendente da sua carreira - o ar pesado e depressivo nas suas feições não desaparece nem nos momentos mais alegres do filme - e mais uma comédia familiar de início de século construída em torno de animais a atacar humanos, piadas de caca - literalmente - e cenas de dança/cantoria cringe de actores que deram tudo o que tinham durante décadas para acabar nestas figuras. Culpa de Barry Sonnenfeld - o Irv que está estampado na caravana, realizador da saga "Men in Black" -, culpa de um guião preguiçoso, culpa de quase tudo. Até do mini Peeta de roupas largas e do capitão, oh meu capitão, a passar de Walt Whitman para um qualquer rapper dread. Caraças, não podiam ter dado isto ao Chevy Chase?

quinta-feira, janeiro 20, 2022

The Pink Panther (2006)

Nem sei por onde começar. Jason Statham, seleccionador nacional francês de futebol e namorado da Beyonce, assassinado com um dardo no pescoço no final de um jogo contra a China. Anos e anos a levar pancada da grossa para nada. Clive Owen como agente secreto 006. A Emily Mortimer como secretária tontinha. O Jean Reno como polícia que confunde a manobra de Heimlich com uma canzanada. O Kevin Kline como chefe da polícia malvado. E o Steve Martin a desrespeitar completamente a memória de Peter Sellers, destruindo uma personagem cujo humor nem sempre subtil mas quase sempre inteligente deu lugar a peidos em estúdios de som e uma série de parvoíces tão parvas e infantis que transformam tudo em seu redor numa parvalheira pegada, bem longe da classe do original de Blake Edwards.

quarta-feira, julho 14, 2021

Bug (2006)

Maluquinhos a serem maluquinhos nas mãos de William Friedkin, que definiu "Bug" em entrevista como uma comédia romântica negra. Na cabeça dele, talvez, mas não há genero nem tom que encaixe na brincadeira do conceituado realizador da "Nova Hollywood", uma história de paranóia que gera paranóia repleta de incongruências nas reacções daqueles que conseguem assistir a esse "loop" tresloucado de fora - como a amiga lésbica ou o ex-marido. Mérito seja dado à entrega desenfreada de corpo inteiro de Ashley Judd e à cisma habitual de Michael Shannon, como peixe na água sempre que o propósito é ser estavanado do juízo. Tudo o resto para quem cedo percebeu o "truque" de Friedkin, simplesmente um vazio nada recompensador enquanto experiência cinematográfica.

sábado, maio 08, 2021

Altered (2006)

Depois do sucesso inesperado estrondoso de "The Blair Witch Project" na sua estreia na realização - em parceria com Daniel Myrick -, o cubano-americano Eduardo Sánchez voltou sete anos passados à carga com este "Altered", uma abordagem com contornos extraterrestres que passou despercebida ao radar - como todos sabemos também acontece com as naves alienígenas na vida real - do público em geral. Meios modestos com óptimo retorno a nível visual/gore - quase que sentimos aqueles intestinos a darem o nó nas mãos do bicho - mas com uma história de fundo muito desinspirada, confusa e sensaborona e um conjunto de actores e personagens que raramente convencem, com especial destaque para a namorada. Efeito medusa extraterrestre - o domínio telepático através do contacto visual - que só funciona quando dá jeito e um final que não ata nem desata. Fica a intenção.

sexta-feira, março 22, 2019

Lewis Black: Red, White and Screwed (2006)

Segundo especial de stand-up comedy do multifacetado Lewis Black para a HBO, "Red, White & Screwed" traz-nos uma versão bastante contida do comediante que se celebrizou pelo seu estilo agressivo de crítica política, religiosa e social, sem problemas em ridicularizar quaisquer visados - ou mesmo a si próprio. Nesta hora de palco agora disponível na plataforma da HBO Portugal, Black entretém mas nunca deslumbra, talvez culpa do formato, bem longe dos habituais curtos e suculentos minutos com que nos habituou na sua longa estadia no "The Daily Show". Um tiro ao lado... em homenagem a Dick Cheney.

sexta-feira, julho 03, 2015

Obsluhoval jsem anglického krále (2006)

Realizado pelo conceituado realizador checo Jiri Menzel, o provocador sarcástico que há cerca de cinquenta anos foi oscarizado fora de portas com "Closed Watched Trains", "Eu Servi o Rei de Inglaterra" é uma sátira política volúvel sobre a vida na Checoslováquia imediatamente antes e depois da Segunda Guerra Mundial. Uma mão cheia de boas ideias, nem sempre bem executadas, ora muito Buster Keaton da parte do búlgaro Ivan Barnev, ora num estilo muito subtil no que toca a outras personagens. A ironia passa pela noção de que a invasão dos nazis apenas serviu para tornar o povo escravo de um regime comunista, algo que ainda assim não mata os sonhos de um zé-ninguém, as debilidades de um boémio, as desilusões de quem tudo tem. Uma obra que parece ter sido filmada em plenos anos setenta ou oitenta do século passado, algo que o torna tão singular quanto fora de moda.


sábado, março 08, 2014

Outsourced (2006)

Comédia sobre o choque cultural entre os costumes norte-americanos e as tradições indianas, "Outsourced" é a história de Todd Anderson, responsável por um callcenter de bugigangas americanizadas que não lembram a ninguém cujo emprego é transferido para Bombaim por uma questão de gestão de custos. Lá terá que treinar o seu futuro substituto, bem como ensinar toda uma equipa de indianos a vender produtos americanos de utilização duvidosa - e que não fazem qualquer sentido para estes - a... americanos. Mas, pior do que isso tudo, será adaptar-se a um estilo de vida onde comer carne de vaca é uma heresia e a mulher pela qual se sente atraído está de casamento marcado com um homem que nem conhece.

Produção independente que venceu uma mão-cheia de galardões em festivais secundários e que acabou por dar origem a duas séries televisivas - a britânica "Mumbai Calling" e a norte-americana homónima "Outsourced" - "Despachado para a Índia" revela-se um filme simpático e competente sobre o fenómeno da globalização, que vai conquistando o espectador a cada desventura cultural ultrapassada de forma atabalhoada por Todd. Entretenimento sem grandes exageros nem lições de moral, num conceito despretensioso que, ainda assim, provou funcionar melhor em formato televisivo, devido ao sem número de possibilidades narrativas que as diferenças culturais entre dois mundos tão distintos permitem.

sábado, outubro 17, 2009

The Ex (2006)

A carreira profissional de Tom Reilly (Braff) está longe de ser aquela que ele tinha imaginado enquanto estudava. A trabalhar como cozinheiro num restaurante nova-iorquino, resta-lhe como satisfação o casamento com uma advogada de sucesso, a sua carinhosa e bela esposa Sofia Kowalski (Peet), que tão perfeita é que nem sequer se importa de ser ela a sustentar a família. No entanto, quando o primeiro filho do casal nasce, Sofia sente a necessidade de ficar em casa e Tom, entretanto despedido do seu restaurante por ter defendido um colega cozinheiro, vê-se obrigado a arranjar uma profissão com melhores perspectivas de futuro. Assim, Tom e Sofia trocam Nova Iorque por Ohio, onde o sogro de Reilly tem um cargo na sua empresa de publicidade reservado para ele. O problema é que tudo o que Tom faz acaba por envergonhar o sogro e Chip (Bateman), o seu novo director mas também um ex-namorado de Sofia com todas as qualificações possíveis e imaginárias, agora numa cadeira de rodas para toda a vida, começa a apostar forte e feio na possibilidade de um reatamento amoroso. E é aqui, nesta luta entre o ex e o actual, que o filme ganha o seu título e foca grande parte dos seus trunfos cómicos. Sem sucesso, no entanto.

Sem sucesso, porque a verdade é que “O Ex” não é mais do que uma comédia medíocre – para não dizer banal. Com um elenco robusto, experiente e versátil, com nomes como Zach Braff, Amanda Peet ou Jason Bateman, mete dó ver tamanha infantilidade narrativa colocar em cheque o talento de uma geração de novos actores que tantas provas já deram em séries televisivas como “Scrubs”, “Studio 60 on the Sunset Strip” ou “Arrested Development”, respectivamente. Mas, como seria de esperar, acabam por ser estes que salvam, dentro do possível, as suas personagens ocas e superficiais, fazendo com que o público se esqueça não só do guião pateta da fita, mas também da falta de exigência do realizador Jesse Peretz para com a sua equipa de guionistas. Não admira pois que três anos passados da estreia internacional de “The Ex” – sim, o filme chega a Portugal com mil dias de atraso, literalmente -, Peretz ainda não tenha dado o salto.

E fica o alerta no que toca a Braff: depois dos elogios e dos louvores de que foi alvo pelo seu desempenho em “Garden State”, o jovem actor norte-americano parece não encontrar a “next big thing” no cinema. E, erro após erro de casting, perde o seu estatuto de revelação e promessa. Por fim, destaque para os breves mas sempre deliciosos minutos de ecrã de Charles Grodin, Mia Farrow, Paul Rudd ou Amy Adams.

sábado, agosto 08, 2009

All the Boys Love Mandy Lane (2006)

Porquê? Eis uma questão chave de construção narrativa que faltou ao jovem realizador Jonathan Levine na sua longa-metragem de estreia, “All the Boys Love Mandy Lane”. Tudo o que acontece ao longo de hora e meia, bem ou mal executado, carece de uma justificação final que explique a razão de toda a sua trama. Mas comecemos pelo título: é o melhor que o filme tem. Ao rejeitar os padrões típicos do género – usando, inclusivamente, a lógica oposta -, cria uma conjuntura de esperança por algo diferente e original. O contexto independente em que foi montado, com pouco dinheiro e pensado para uma estreia absoluta no Festival de Toronto, reforçava essa expectativa. Pois bem, três anos depois de Toronto, percebe-se agora a razão pela qual “Sedução Mortal” demorou tanto tempo a estrear comercialmente um pouco por todo o lado. E se o fez agora, bem pode agradecer ao sucesso inesperado de “The Wackness”, comédia romântica de 2008 que despertou a curiosidade de um sem número de cinéfilos sobre as capacidades de Levine – que afirmavam que Jonathan poderia ser mesmo o próximo Cameron Crowe em Hollywood.

No seu sumo, não há mesmo nada em “All the Boys Love Mandy Lane” que destrone as armadilhas comuns do género. As personagens estão longe de ser tridimensionais e a personagem central, Mandy Lane, não passa de um exemplo de mulher bela e formosa, de olhos azuis, cabelo loiro, sorriso encantador e virgindade promitente. Mas uma personalidade que cative o espectador? Longe disso. Faltou a Amber Heard um pouco da sagacidade de Veronica Mars. Aos restantes membros do elenco, faltou tudo – Whitney Able, por exemplo, não passa de uma Paris Hilton wanna be - e o seu destino era, mais do que esperado, justo. Esqueçam uma futura sequela, que poderia dar muito bem pelo nome “All the Boys Hate Mandy Lane”.

A história é simples – para não dizer que é a do costume: Mandy Lane é a rapariga mais sexy do liceu, desejada por rapazes, invejada por raparigas. Na esperança de a conquistarem, um grupo de estudantes organiza uma festa num rancho isolado. Tudo sobre rodas até os jovens irem aparecendo mortos, um por um. Quem será o culpado? Bem, nem isso é escondido. A previsibilidade durante os assassinatos é tanta, que o freguês desconfia e sabe que terá de haver uma reviravolta final inesperada. E qual a única possível? A que acaba por acontecer. Tremenda desilusão que nem esse trunfo tenha sido aproveitado nesta obra de terror de adolescentes... para adolescentes. Porquê?

sábado, abril 18, 2009

The Ron Clark Story (2006)

Baseado em acontecimentos verídicos, “The Ron Clark Story” narra a história de um professor de ensino básico do interior dos Estados Unidos que decidiu, já perto dos trinta, trocar a segurança de uma vida simples por um dos seus sonhos de sempre: arriscar uma carreira em Nova Iorque. Quando chega à metrópole, arrenda um quarto reles – a única janela dá para uma parede imunda - e, sem dinheiro ou escola em que pudesse leccionar, começa a trabalhar num bar temático, onde todos os seus colegas são jovens actores à procura do estrelato. Até que um dia consegue convencer o reitor de uma escola de Harlem, a zona mais pobre da cidade, dominada por jovens de etnia negra, a ser o professor de uma turma que mais ninguém queria. E aqui começou a jornada que o tornou num dos mais conceituados professores norte-americanos, com direito nos dias que correm a instituto e academia homónima.

“The Ron Clark Story” é um telefilme da cadeia televisiva norte-americana TNT que arrecadou várias nomeações em 2007, em cerimónias tão distintas como os Globos de Ouro ou os Emmy. Ao conseguir agarrar Matthew Perry para o papel principal – ele que andava a ressacar do estigma “Chandler Bing”, que o conotava obrigatoriamente a papéis declaradamente humorísticos -, a realizadora californiana Randa Haines (“Children of a Lesser God” ou “The Doctor”) tratou desde logo de reclamar para a obra a atenção que esta acabou por provar que merecia. E é Perry, numa interpretação eficaz e natural, mesmo que através dos clichés típicos do ofício, que faz a diferença. Actor de excepção, tal como provou recentemente no delicioso “Studio 60 on the Sunset Strip”, Perry faz-nos acreditar que a sua personagem preocupa-se mesmo com aquelas crianças problemáticas. E é essa naturalidade que coloca o filme de Haines num patamar equivalente ao de “Dangerous Minds”, com Michelle Pfeiffer.

terça-feira, janeiro 06, 2009

Black Christmas (2006)

Remake de um dos clássicos de terror dos anos setenta, “Black Christmas” narra a história de um grupo de estudantes universitárias do sexo feminino que partilham uma casa e que, misteriosamente, começam a ser assassinadas uma a uma na noite de Natal. Sem maneira de saírem de casa – as tempestades de neve vêm sempre a calhar nos planos malévolos de alguém - e desconfiando que a matança não deixará sobreviventes, resta agora unir forças e evitar males maiores.

A primeira questão que deve ser colocada é a razão pela qual a sinopse oficial portuguesa de “Férias Assombradas” desvenda no seu conteúdo todo o enredo – apesar de este ser insignificante – da fita, apresentando logo à partida elementos contextuais que só são fornecidos no filme perto do seu final. Felizmente, a irritação inicial causada por infeliz descuido técnico acaba por ser asfixiada pela inutilidade e imaturidade da realização de Glen Morgan – o mesmo de “Willard” -, que governa sem pés nem cabeça um guião anedótico, desleixado e preguiçoso, que gasta todos os seus trunfos na concretização de um par de cenas mórbidas e enjoativas. Estreado tal como o original na semana de Natal, “Black Christmas” foi certamente uma triste prenda mesmo para os mais fanáticos do género, compensada apenas pela interessante presença de Mary Elizabeth Winstead.

quinta-feira, outubro 16, 2008

The Butterfly Effect 2 (2006)

Nick (Eric Lively) é um jovem de 26 anos com uma carreira promissora. Quando vai acampar com a namorada Júlia e os seus melhores amigos Trevor e Amanda, um terrível acidente de carro deixa apenas um sobrevivente: o próprio Nick. Atormentado por insuportáveis dores de cabeça, Nick entra constantemente em delírio, fantasiando acerca da morte dos seus amigos e viajando constantemente entre realidades do passado que vai alterando, até descobrir que estas acções têm consequências directas no seu presente e que alterarão irremediavelmente o seu futuro.

Sequela daquele que foi talvez o filme com a recepção mais bipolar de 2004, “Efeito Borboleta 2” é, uma vez mais, um filme sobre escolhas. Evocando a Teoria do Caos para manipular a narrativa a seu belo prazer, o realizador John R. Leonetti – que até aqui apenas tinha sido responsável por “Mortal Kombat: Annihilation” – não consegue, no entanto, fugir da ampla sombra do seu predecessor. Enquanto que Ashton Kutcher e Amy Smart conseguiram abalar os nossos conceitos de tempo e destino, orquestrando um filme triste mas apaixonante, esta sequela nada traz de novo que não uma pobre reinvenção da mensagem transmitida pelo original. Ironicamente, somos presenteados com uma edição em DVD com opções especiais de fazer chorar alguns dos mais interessantes títulos que flutuam pelo mercado nacional.

quinta-feira, novembro 22, 2007

God Grew Tired of Us (2006)

Em 1987, o governo islâmico do norte do Sudão declarou morte a todos os Homens cristãos do sul do país, encetando uma guerra civil sem precedentes. Como consequência disso, 27 mil rapazes fugiram a pé para a Etiópia e para o Quénia, em trilhos de centenas, por vezes milhares de quilómetros. Aos campos de refugiados das Nações Unidas chegaram 12 mil sobreviventes, que aos poucos fizeram dessas tendas as suas casas, aprendendo a língua inglesa dia após dia com as aulas dadas pelos "salvadores" ocidentais. Entre eles estavam Panther, John e Daniel, três adolescentes sudaneses que ainda em crianças enterraram com as suas próprias mãos muitos dos familiares e amigos que os acompanhavam na triste odisseia. Até que um dia, os Estados Unidos em colaboração com as Nações Unidas, possibilitaram a um limitado grupo de "Lost Boys" - designação pela qual ficaram conhecidos, por terem deixado as suas mães, irmãs e mulheres para trás - a oportunidade de emigrarem para a Terra das Oportunidades. Em troca, teriam de arranjar um emprego nos três primeiros meses e pagar em seguida os custos da viagem ao governo norte-americano.

Produzido por Brad Pitt, realizado por um documentarista da National Geographic e narrado por Nicole Kidman, "God Grew Tired of Us" é uma reflexão tocante, inteligente, edificante e até divertida sobre a condição humana e o choque de culturas numa sociedade que pensa que "Sudão" é um objecto e não um país. Um novo mundo que traz autênticos pesadelos ao trio africano, que não faz a menor ideia do que é a electricidade, não sabe para que serve o frigorífico ou porque raios é que a Coca-Cola nos EUA tem o nome de Pepsi. Pequenos pormenores que ironizam a aflita situação, e que culminam no momento em que o tutor parte pensando ter explicado tudo - desde o funcionamento do chuveiro, passando pela razão de existirem sanitas e terminando na importância do congelador -, apenas para regressar no dia seguinte e ver que os alimentos congelados tinham sido comidos crus, com as mãos, pois os inocentes sudaneses não faziam a mais pequena ideia do que era um fogão nem que existiam utensílios com o nome de talheres.

E é essa evolução sócio-cultural de quem está perdido no planeta que inspira e nos faz pensar no que é realmente importante na vida. Porque a felicidade rapidamente se transforma em saudade, tornando bens materiais como a roupa e uma cama para dormir insuficientes para combater a ansiedade de voltarem a ser respeitados pelo meio envolvente. Porque, e citando um dos rapazes, "People here are not friendly to us. (...) Aren't we all sons of the same God?". Citação esta que antecede a do título da obra, tão forte e filosófica que acabou por substituir o pré-estabelecido "The Lost Boys of Sudan". E quando um filme conquista tanto o prémio do júri como o do público num dos festivais mais respeitados da indústria, o de Sundance, resta indagar o motivo pelo qual isto nunca chegou a estrear comercialmente na Europa.

sexta-feira, outubro 05, 2007

Firewall (2006)

Harrison Ford é Jack Stanfield, um especialista em segurança informática que trabalha para um dos mais conceituados bancos norte-americanos. Reconhecido no meio como o criador do mais eficiente sistema anti-hacker, existe ainda assim uma vulnerabilidade no programa de Jack que o mesmo nunca imaginou ser possível: ele próprio. Isto porque quando um vilão de aspecto normal, mas de um calculismo pouco ortodoxo (Paul Bettany) rapta a sua família, parece não haver outra hipótese para Stanfield que não corromper-se a si próprio de forma a salvar a sua família.

Sejamos claros: "Firewall" não é um grande filme, mas também não o tenta ser. Mas não menos verdade é que o realizador Richard Loncraine, o mesmo de "Wimbledon" e da obra-prima Shakespeariana - e, se me permitem, McKelliana - "Richard III", consegue alardear durante toda a fita de uma qualidade técnica de execução singular e inverosímil. Infelizmente, e porque nem tudo são rosas, Loncraine só consegue aguentar o suspanse durante as cenas "caseiras" da obra e rende-se por completo à previsibilidade na altura em que o desespero de um homem que tem tudo a perder fala mais alto.

No entanto, "Firewall" serviu para contemplar o admirável vigor de um actor que parece não ter prazo. Falo, obviamente, de Harrison Ford, que com os seus sessenta e muitos anos prova a cada fita que passa que está aí para as curvas, superando quase sempre com a sua performance a própria obra. Este caso não fugiu à regra, pois "Firewall" perde todo o seu encanto a meio caminho, servindo apenas para esperançar os adeptos de Indiana Jones e do cada vez menos televisivo Loncraine.

sábado, agosto 25, 2007

The Break-Up (2006)

Gary (Vince Vaughn) e Brooke (Jennifer Aniston) são um casal enamorado como tantos outros. Ela, bela e ainda jovem, trata da casa, da cozinha, da roupa e das restantes lides domésticas. Ele, adepto fanático da sua equipa de baseball, trabalha durante o dia e, ao chegar a casa, só quer sofá, televisão, amigos, cerveja e Playstation 2. Farta de fazer tudo sem ajuda nenhuma do marido, e apesar de o amar loucamente, decide acabar temporariamente com ele para ver “se o coloca no sítio”. Mas quanto mais esquemas mesquinhos cada um arranja para espicaçar o outro, mais difícil se vai tornando a reconciliação.

Separados de Fresco” é uma espécie de comédia dramática (nunca se afirma como drama, mas também desvia-se do tom cómico) anti-romântica que tenta evitar a todo o custo, tanto a gargalhada complacente, como os clichés cinematográficos mais óbvios do género. Longe de ser uma fita convencional – como o ambíguo final bem demonstra -, “The Break-Up” peca por não se afirmar descaradamente na mensagem que tenta transmitir, perdendo alguma objectividade em função dessa indecisão artística. Mais do que tudo, “Separados de Fresco” é uma obra de identificação imediata para o mais comum dos mortais que tenha passado por uma separação indesejada…mas necessária.

Com uma realização segura – apesar de pouco ambiciosa – de Peyton Reed, e um exímio elenco secundário, onde Favreau, Bateman e D’Onofrio cumprem com distinção a leve tarefa de promoção e incitação dos momentos mais burlescos da narrativa, resta lamentar a escassa espontaneidade do casal de protagonistas, que acabou por granjear mais nas bilheteiras do que no ecrã, apesar (ou derivado…) da relação existente entre ambos na vida real na altura das gravações. No entanto, e apesar de todas as debilidades, “Separados de Fresco” acaba por se assumir como uma pequena bofetada emocional nas típicas comédias românticas que industrialmente assombram o mercado com os seus desfechos previsíveis e piadas levianas de casa-de-banho.

sábado, maio 19, 2007

The Fountain (2006)

"Um filme tão luminescente como a própria vida. Nas lágrimas de Hugh Jackman reencontro o meu próprio desespero da morte. Não a minha, mas a do meu próximo; alguém que, por egoísmo meu, tento manter presa a mim mesmo, ainda que ela própria já não o deseje." por Tiago Pimentel em Claquete.

"The Fountain é uma viagem sensorial que parte de um intimismo comovente para atingir o êxtase numa representação grandiosa da Morte como Vida. O percurso até lá não é necessariamente perfeito, mas as obras mais marcantes nem sempre rimam com a perfeição. Não é um filme de complexidade, é um filme de fé e determinação. De uma beleza miraculosa e de uma intensidade emocional que o tornam difícil de esquecer." por Tiago Costa em Claquete.

"Extraordinária também, como sempre, essa banda sonora da autoria de Clint Mansell, deixando desta vez de lado os acordes electrónicos e criando um portento que tanto sobrevive com as imagens como longe delas. E depois... depois temos essa entrega fenomenal de Hugh Jackman, completamente imerso na sua personagem, capaz de nos levar às lágrimas e de nos transmitir toda a sensação de impotência que lhe invade a alma com um simples olhar." por Paulo Costa em CinePT.

"Raramente surgem em cinema objectos de uma pura originalidade que acabam por levar a arte a meandros do inalcançável e que, silenciosamente, acabam por revolucionar o meio como o percepcionamos. The Fountain de Darren Aronofksy é uma dessas obras que toca o impossível e proporciona uma autêntica odisseia dos sentidos, o despertar de novas sensações. “Transcendente” é uma palavra demasiado frívola para descrever um filme que não tem precedentes e que nos envolve (ou não, visto tratar-se já num filme de culto algo incompreendido) de uma forma tão imprevisível, tocante e insubordinada. A visão de Aronofsky é tão única quanto complexa e densa e é das experiências mais singulares passíveis de serem vividas pelo cinema." por Nuno Gonçalves em Mulholland Drive.

"The Fountain é um Poema divinamente existencialista, imerso em conjunturas meditativas e contemplativas. Seu sistema de signos articula-se para compor um discurso. Não é fundamental desvendar todas as suas verdades camufladas, mas absorver o máximo da expedição que nos imerge pelos níveis da subconsciência (princípio de qualquer contemplação artística). “The Fountain” é Romance como Revelação e Ficção Científica como Oração. Seu conteúdo é imortal. Mesmo quando os violinos gemem e gritam estridentes num final arrebatadoramente orgásmico, sente-se a pulsação de uma Obra Transcendental que sobreviverá para além de uma sala de Cinema, alojando-se no âmago de quem sorver toda a sua excelência." por Francisco Mendes em Pasmos Filtrados.

Quando se fica em choque, sem palavras, o melhor é mesmo citar os vocábulos de quem conseguiu expressar o que viveu através dos seus sentidos. Apenas uma linha para asseverar que "O Último Capítulo" foi, é e será para todo o sempre abismal e eterno... como o Amor. Obrigado Aronofsky.

segunda-feira, maio 07, 2007

Death of a President (2006)

"Death of a President" tem a forma de documentário televisivo, que combina imagens reais de arquivo com ficção. Após o assassinato do presidente George W. Bush, a 17 de Outubro de 2007, o enredo centra-se nas investigações do FBI e na perseguição ao suspeito do seu assassínio. Pelo meio, Gabriel Range levanta uma série de questões relacionadas com a política externa norte-americana.

E é neste aspecto que o filme tem dado azo a interpretações diversas, anti ou pró-Bush. Entre a lógica instituída de encontrar culpados no momento, que sustentem a guerra contra o terrorismo, à incapacidade própria de uma nação de compreender a sua auto-repulsão, Range toca ainda ao de leve num dos temas mais debatidos da século XXI: o poder de manipulação dos meios de comunicação social.

Com uma ideia histórica, capaz de fomentar o interesse no cinéfilo mais apartidário possível, “Death of a President” não passa de uma conceito brilhante, mas com uma concretização desastrosa, dotada de uma previsibilidade intolerável e com uma premissa que acaba por ser mais sensacionalista do que prática. Daqueles casos raros (?!?) em que a sinopse supera o filme em si, lento e aborrecido. Mesmo assim, será que Bush sairá de casa no próximo dia 17 de Outubro?

segunda-feira, abril 16, 2007

The Last Kiss (2006)

Michael (Zach Braff “Scrubs”) está a um mês do seu trigésimo aniversário e tem tudo o que sempre quis – incluindo a sua namorada de infância, Jenna (Jacinda Barrett “Poseidon”). Mas quando ela engravida, Michael receia que a sua relação se torne numa pena perpétua de obrigações e rotinas. Assustado e indeciso, conhece Kim (Rachel Bilson “The O.C”), uma jovem estudante sensual e descontraída, que personifica toda a espontaneidade que falta na sua vida. Uma história que nos relata e descreve a vida sentimental de um grupo de grandes amigos, em que o amor, o casamento e o compromisso ameaçam tornar jovens adolescentes em homens adultos.

Da co-autoria de Paul Haggis, escritor multi-galardoado por “Crash” ou “Million Dollar Baby”, “O Último Beijo” é uma adaptação inteligente, divertida e penetrante de uma obra que só interessa ao espectador mais dotado de inteligência emocional e experiência relacional. Isto porque é um filme que, com os demais exemplos interpessoais que cada um dos casais representa, engendra e engenha um processo de identificação da testemunha do acto com o sujeito do “crime”. Desta forma, não será tarefa árdua compreender que “The Last Kiss” não deve ser visto com “a outra metade”, de forma a evitar um percurso de caminhos inevitáveis de confronto e comparação, que certamente levantarão as mais desairosas questões.

E desengane-se quem pensa que “O Último Beijo” é uma comédia romântica, tal como vem apelidado nas sinopses de jornais e revistas, e como aliás, o próprio título parece indicar. É sim, um drama intenso, com toques aqui e ali de comédia – quase todos de Braff -, que explora de forma quase irrepreensível e imaculada a peculiar ignorância que cada um de nós absorve durante a nossa juventude/maturação sobre aquilo que realmente importa nas nossas vidas. De forma pungente e compassiva, com coração, alguns sorrisos e um elenco sólido e sumptuoso, onde naturalmente Zach Braff merece especial destaque. Uma fita cinematográfica cheia de intenção, com uma narrativa reconhecida em centenas de outras películas – mas que mesmo assim triunfa de forma original - e que certamente irá suscitar opiniões e avaliações extremistas. Para uns será comovente e dolorosamente real. Para outros, não será nada mais do que hora e meia de acção insuportável e extremamente aborrecida. A Arte a imitar a Vida tal como ela é.