sábado, abril 30, 2022

Yellowjackets (S1/2021)

É um guisado - e não uso o termo de forma inocente - de elementos misteriosos à "Perdidos" - a queda de um avião, os elementos sobrenaturais da "ilha", as dinâmicas de grupo em tempos de sobrevivência - com questões triviais da adolescência e da vida adulta - as paixões, as traições, os cools e os nerds. Temporada cheia de surpresas e reviravoltas - envenenamentos, eleições políticas, suicídios, raptos, rituais canibais e satânicos, etc. -, elenco de primeira linha - com destaque para Ricci e Lewis, em espectros bem distantes mas igualmente fenomenais - e um finale que equilibra de forma muito competente a necessidade de satisfação do espectador por algo concreto ao mesmo tempo que escancara as portas para a segunda temporada. Com tantas pitadas de humor negro, gore e hormonas desnorteadas, como não querer voltar?

sexta-feira, abril 29, 2022

Nas Nalgas do Mandarim: Tik Tok

quinta-feira, abril 28, 2022

Ladri di biciclette (1948)

História simples mas de coração cheio em torno de um pai/marido orgulhoso que luta para conseguir meter comida na mesa em casa numa Itália pós-guerra, onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão. Gasta o que tem e não tem para comprar uma bicicleta que lhe permita trabalhar, bicicleta essa que acaba roubada logo no primeiro dia do seu novo emprego. Obra fulcral no intitulado movimento neo-realista cinematográfico, uma que influenciou incontáveis realizadores, de Truffaut a Loach, num realismo cruel contaminado e corrompido pela fúria e pela revolta de um homem injustiçado pelos desígnios ardilosos da humanidade. Quem sabe se quem o roubou não o fez pelas mesmíssimas razões que levaram mais tarde Antonio a perder a sua dignidade e amor-próprio em prol de um bem maior? Um grito tumultuoso de homenagem a toda uma geração que sofreu das consequências da guerra, qual hino ambivalente de alguém que recusa ser conquistado e domado pelos obstáculos da vida. Já dizia o Miguel Esteves Cardoso: como é linda a p*ta da vida.

quarta-feira, abril 27, 2022

Hugo - A Twitch antes da Twitch

terça-feira, abril 26, 2022

The Kid (1921)

Pai é quem cria. Inspirado no seu próprio passado - cresceu em Londres num orfanato antes de se mudar aos vinte e um anos para os EUA -, Charles Chaplin criou o seu próprio género de comédia cinematográfica, um que ainda hoje tem os seus traços característicos físicos bem vincados na cultura popular moderna, dos pés chatos à cartola. Mas o que muitos ignoram é a emoção e subtileza humanistíca de muitas das suas obras, entre elas este "The Kid", a história de uma mãe solteira que se vê obrigada a abandonar o seu bebé e do vagabundo que acaba por cuidar dele. Há uma certa ambiguidade moral presente nos momentos mais criativos - como, por exemplo, partir janelas de desconhecidos para assim lucrar com o seu arranjo - que nos permite não só soltar alguns sorrisos como questionar temas relacionados com a paternidade, a religião e a justiça. Passou um século, mas este "O Garoto de Charlot" continua intemporal.

segunda-feira, abril 25, 2022

Nas Nalgas do Mandarim - S09E04

domingo, abril 24, 2022

The Batman (2022)

Carta "Para o Batman":

Já foi morcego, agora mais parece um emo vampiro
Não faz mal, ao menos não é um boneco da Marvel
Pela Catwoman da Zoë Kravitz eu suspiro
E nem desgosto deste Bruce virgem e vulnerável. 

Quando o Batsinal no céu brilha
Lá vai ele meter o eyeliner e a mascarilha
Porque o Riddle de Dano gosta de uma boa guerrilha
E nós do Giacchino a orquestrar a trilha.

Era mesmo preciso meter o Farrell debaixo de tanta gordura?
Já o Turturro, que belezura!
Este Matt Reeves nem está mal
Mas o Nolan é que era magistral.

sábado, abril 23, 2022

O Processo Criativo por Filipe Melo

sexta-feira, abril 22, 2022

O Homem que Gostava de Zombies (2003)

Que tesourinho raro e delicioso escondido no catálogo da Filmin. Falso documentário de Filipe Melo em torno de Eurico Bernardes Catatau, um génio de obras controversas obscuras como "Portugal Canibal", "As Amazonas de Queluz", "Chupa-me o Sangue" e "O Monstro do Lago Sexual", uma espécie de John T. Burlinson luso, fundador da Associação Liga Mutante Terrorista do Cinema Português e da Tropical Filmes, uma produtora dedicada a filmes pornográficos cujo co-proprietário era um conceituado arquitecto português. Uma história de amor com um final bizarro derivado de um acidente num primeiro take de um dos seus filmes - maldita fobia a rãs - e eis como um antigo figurante nos "Gremlins" acaba a vida como funcionário numa portagem de uma via rápida à saída de Lisboa. Música de fundo de Bernardo Sassetti e Mário Laginha, presenças saudosas de António Victorino de Almeida - o que é feito dele? - e do malogrado António Feio, em mais uma prova de que Filipe Melo devia ter, para o bem de todos nós, uma filmografia muito mais extensa.

quinta-feira, abril 21, 2022

Seinfeld and its Movie References

quarta-feira, abril 20, 2022

Um Mundo Catita (S1/2007)

Veio das montanhas cobertas de gelo, e não quer outra coisa que não grelo. Gosta de flores, amarelas ou lilás, e de romper calças por trás. Não fica indiferente à lua que brilha nas trevas, nem aos gemidos que dás quando levas. Venera o brilho das gotas de orvalho, e de uma boca a chupar-lhe o... nariz. Ama tudo o que seja viver, e de uma punheta antes de adormecer. Senhoras e senhores, Manuel João Vieira, um tipo que não sabe aquilo das vacas mas que é fortíssimo com as vinte mil éguas submarinas. O homem que assassinou a águia Vitória em directo em pleno Estádio da Luz e que considera o "Força Delta" um clássico. No ginásio, no dentista ou no cabaret, finalmente uma série portuguesa que aborda assuntos realmente relevantes como c*na fresca, chuva dourada ou oito ipod nanos no interior de uma vagina. Acting meio manhoso da maioria dos secundários - principalmente do Barracuda -, mas nada que chateie um homem apaixonado como a mulher pela qual estamos de beiços estar noiva de um tipo que acha que os Delfins são os maiores artistas musicais da história do nosso país. Ninguém dá uma festa como os irmãos Catita, de recriações de Bergman a Caligari, num produto único da ficção nacional a que quase tudo se perdoa.

terça-feira, abril 19, 2022

The 125 Best Books About Hollywood

"Movie Love goes deeper than just watching movies. Movie Love is something closer to obsession: thinking about films, talking about them, certainly reading about them. While writers have long been under-appreciated in Hollywood, there are scores of fascinating books about one of America’s most famous industries—and defining cultural exports." [Esquire]

segunda-feira, abril 18, 2022

I’ll See You in My Dreams (2003)

"Se há algo que eu não suporto nesta aldeia, é a merda dos zombies". Manuel João Vieira a levar pancada e a São José Correia a levar trancada. Minutos depois, São José à pancada na porta, o Manuel João deixa-a trancada. Nunca confiar na Sofia Aparício ou em espelhos em segundo plano. Boa caracterização dos mortos-vivos - feios e rápidos - e dois mini-twists satisfatórios a encerrar a festa que até meteu o Rui Unas como padre da aldeia.

domingo, abril 17, 2022

Gilbert Gottfried (1955-2022)

sábado, abril 16, 2022

The Adam Project (2022)

O Ryan Reynolds decidiu a certa altura do campeonato que iria ser uma versão mais soft/infantil/romântica do Deadpool em todos os filmes da sua carreira. Já perdi a conta a quantos foram, mas a verdade é que não resisto ao humor característico desta sua figura. Já pensei inclusive enviar uma carta para o consultório sentimental da Revista Maria a perguntar se serei bissexual ou simplesmente um cinéfilo de mau gosto. Cento e dezasseis milhões de budget directamente da Netflix - isto vai acabar mal um dia destes - foram mais do que suficientes para Shawn Levy meter aqui um encanto qualquer Spielberguiano que não consigo explicar, uma química entre Reynolds e Walker Scobell que convence e conquista, um contexto de ficção científica e um universo futurista construído de modo simples e eficaz para divertir os olhos e aquecer o coração. Ah e tal, a Catherine Keener é uma vilã terrível; verdade. Ah e tal, é tudo muito parvo; verdade. Não quero saber, sinto que o meu eu de doze anos ia ter gostado desta porcaria quase da mesma forma que amou os "Regresso ao Futuro" quando os viu pela primeira vez nos anos noventa.

sexta-feira, abril 15, 2022

Adults of the Corn

quinta-feira, abril 14, 2022

Phase IV (1974)

As formigas, meu Deus, as formigas. Aventura na realização do conceituado designer gráfico Saul Bass - responsável por alguns dos cartazes e title sequences mais icónicos da história do cinema, de Hitchcock e Preminger a Kubrick e Scorsese -, este "Phase IV" é um desastre narrativo que mostra rapidamente ao que vai nos primeiros dez minutos: longos planos de imagens macroscópicas de formigas a vaguear de um lado para o outro e uma narração meio National Geographic aqui e ali, qual voz do além que anuncia a chegada de um apocalipse provocado por uma nova espécie de formigas super inteligentes, capazes de comunicar com humanos através de fórmulas matemáticas e geométricas. Minha nossa. Não é bem terror nem drama, é mais um sci-fi perdido na sua própria audácia, um que resistiu ao tempo mais por curiosidade cinéfila em torno de Bass e Lynne Frederick - modelo e actriz britânica viúva e herdeira de Peter Sellers que faleceu durante o sono aos trinta e nove anos - do que por mérito próprio de uma história completamente atabalhoada, ainda para mais mexida e remexida pelo estúdio em pós-produção contra a vontade de Bass. Que, claro, desculpou-se com isso.

quarta-feira, abril 13, 2022

terça-feira, abril 12, 2022

The Thin Blue Line (1988)

Documentário de crime da Netflix muito antes de haver Netflix. Recriação "cinematográfica" dos acontecimentos - tão cinematográfica que a candidatura a melhor documentário nos Óscares não foi validada pelo carácter "ficcional" do projecto -, numa história de inocência tão óbvia após todos os factos e depoimentos obtidos por Enol Morris durante dois anos e meio de investigação que se torna quase incompreensível perceber como é que Randall Adams esteve enfiado doze anos numa prisão por um crime capital que, claro, não cometeu. Pelo seu papel no reabrir do caso e pela inovadora fórmula que haveria de se tornar banal nos dias que correm, "The Thin Blue Line" - aquela ténue linha que separa a ordem do caos, a lei da anarquia - merece provavelmente o rótulo de ser uma das mais importantes e socialmente relevantes obras da história do cinema.

segunda-feira, abril 11, 2022

Nalgas Flash Review: Pleasure

domingo, abril 10, 2022

Yep, that's a Cronenberg film all right

sábado, abril 09, 2022

Death on the Nile (2022)

Daqui a uns vinte anos sairá uma versão actualizada da "Crónica de uma Morte Anunciada" do Gabriel Garcia Márquez que lembrará este "Morte no Nilo" do Kenneth Branagh como o início do fim do CGI. Se a cirurgia plástica do Michael Jackson fosse um filme, seria esta adaptação - mais uma - do mistério de Agatha Christie entre as pirâmides de Gizé e o bigode excêntrico de Poirot. Uso completamente desnecessário e de resultado desastroso - pior do que tudo ser falso na tela, é tudo parecer falso até ao olho mais distraído -, que arrasa com qualquer mérito de um dos mais famosos "whodunnits" da história da literatura. Fica a deliciosamente imbecil inovação narrativa de criar um prólogo para explicar um bigode - com uma ferida de guerra cavada da qual não sobra a mais pequena cicatriz anos depois - e uma dança a abrir capaz de levantar a bainha das calças do Elton John. Já nem sei se torço para que venha o "O Assassinato de Roger Ackroyd" ou não.

sexta-feira, abril 08, 2022

Hackers @ VHS Podcast

quinta-feira, abril 07, 2022

E vocês, clonavam a Karen Gillan?

quarta-feira, abril 06, 2022

Summer of Soul (2021)

Documentário vencedor da última edição dos Óscares, "Summer of Soul" tenta explorar dois tipos de registo ao mesmo tempo: toda uma geração dourada e inesquecível de músicos negros e, noutra vertente, a ainda hoje pertinente abordagem em torno de direitos e obstáculos raciais que, na verdade, nunca foram ultrapassados, apenas readaptados a contextos e épocas diferentes. E, para mal dos nossos pecados, não consegue equilibrar os dois lados, interrompendo constantemente momentos musicais que mereciam manter-se virgens na sua beleza e raridade e, em (des)sintonia, examinando todo a faceta sociopolítica de forma tão cliché e banal que sentimos que nada de novo nos é revelado que já não tenha sido explorado em incontáveis outros formatos. Entrevistas para encher, com pouco ou nenhum relevo informativo, num documentário que desconfio que teria sido muito mais prazeroso se tivesse se reduzido ao seu grande trunfo: o concerto em si. As imagens e as músicas falariam por si próprias, num grande filme-concerto que se perdeu - e continuou perdido - no meio de tanta história.

terça-feira, abril 05, 2022

Como falar de amor?

segunda-feira, abril 04, 2022

Free Guy got a lot darker

domingo, abril 03, 2022

A Clockwork Orange (1971)

"Laranja Mecânica" resiste e ecoa ao passar dos anos, com a sua faceta de glamorização tão absurda quanto fabulosa de um estilo de vida violento de um grupo de adolescentes - e da personagem de Malcolm McDowell em particular - a marcarem o tom único e magistral de uma das mais polémicas obras-primas da história do cinema. Uma que foi banida por inspirar bandidagem a adaptar a arte à vida, uma que entre a sátira selvagem e pornografia intelectual e visual traçou ela própria a sua força inquietante e desassossegadora. Karma, Nona Sinfonia de Beethoven, reacções Pavlovianas e a descoberta do inesperado bem mais precioso de todos: o livre-arbítrio.

sábado, abril 02, 2022

Barb Wire @ Sala Azul

sexta-feira, abril 01, 2022

Dune (2021)

Visualmente irrepreensível - como é aliás habitual na filmografia de Villeneuve -, narrativamente um pastelão seco que só não provoca engasgamento porque esconde todos os seus defeitos - a melancolia dos longos planos para o vazio, as incontáveis visões da Zendaya que arrancam mais tempo de ecrã que a sua personagem efectiva, o Chalamet sem sal nem pimenta, o Mamoa com o único objectivo de mostrar o corpanzil, um segundo acto de duas horas que nem sequer acaba, intriga política de ensino básico e zero emoção em torno da acção e do destino das personagens - numa cinematografia e sonoplastia do mais alto calibre possível. O trabalho de Zimmer arrebatou-me por completo - até uma vuvuzela teria bom uso nas mãos do alemão - e, no meio deste nada que se mascarou de tudo para a maioria, fico apenas uma vez mais com a sensação de que o Josh Brolin faz passar por amador qualquer outro actor que partilhe uma cena com ele. Faltou ritmo, faltou alma, faltou uns oásis no meio de tanta areia. Uma mulher lindíssima de olhar, terrível para conversar. Quem se aventurar na segunda parte que depois me conte se encontrou o terceiro acto, se faz favor.