segunda-feira, fevereiro 28, 2022

Free Kid

domingo, fevereiro 27, 2022

Happy Accidents (2000)

"Vivo sempre no presente. O futuro, não o conheço. O passado, já o não tenho. Pesa-me um como a possibilidade de tudo, o outro como a realidade do nada". E nada como citar o Livro do Desassossego de Fernando Pessoa para mostrar o desassossego que é descobrir estes delírios espaciotemporais do Miguel Ferreira para o Nalgas Film Club. Uma mão-cheia de boas ideias que chegam do futuro - as religiões que desaparecem quando a ciência descobre o gene que regula o medo, as leis de um cientista chamado Blinovitch numa homenagem engraçada a "Dr. Who", os OVNIs que são viajantes interestelares de uma galáxia distante que param no nosso planeta para atestar os seus motores de dióxido de carbono, etc - enfiadas num romance meio amorfo sem o charme e a química de "Safety Not Guaranteed" nem a componente pesada de sci-fi de "Twelve Monkeys", usando dois filmes tematicamente similares como comparação. Sensibilidade indie, dúvida interessante bem aguentada até ao final sobre a "veracidade" das viagens no tempo e a Marisa Tomei de rabo de cavalo. Chega e sobra, seja em 1999 ou em 2470.

sábado, fevereiro 26, 2022

Cliffhanger & Michelle Joyner @ VHS

sexta-feira, fevereiro 25, 2022

Howl (2015)

"Isto não é um urso. Os ursos não uivam". Lobisomens e um grupo de pessoas isoladas num comboio avariado no meio do nada, de madrugada, durante uma tempestade. Se vos dessem estes conceitos para a mão, mesmo sem experiência nenhuma nem talento para o desafio lançado, o mais provável é que teriam escrito exactamente o mesmo guião formulaico e previsível, sem qualquer tipo de jogada arriscada ou memorável que transformasse este "Howl" num "creature movie" para mais tarde recordar. Desenvolvimento de personagens fraquinho - até do pobre jovem coitado trabalhador explorado que vira herói -, paixoneta sem química nem chama e, morte após morte, burrice atrás de burrice, tudo tão óbvio que quase que dá vontade de torcer pelos bichos esfomeados. Vale-lhe o ritmo e alguns efeitos especiais práticos - e não computorizados - que nos seguram até ao fim. Faltou vontade e orgulho de abraçar a série B e, por isso, sobrou um série A banal sem personalidade.

quinta-feira, fevereiro 24, 2022

Brad Pitt & Bee Gees

quarta-feira, fevereiro 23, 2022

Be Water (2020)

Documentário algo superficial sobre Bruce Lee enquanto actor e figura quase mitológica, numa visão muito mais familiar - os testemunhos constantes da mulher, irmão e amigos próximos - e política - o racismo estrutural que impediu que tivesse a carreira que merecia em Hollywood - da vida do mesmo. Do delicioso primeiro "screen test" de Lee nos EUA, qual showcase de artes marciais de fatinho, ao seu papel de sidekick na série televisiva "The Green Hornet" em que recebia um quinto do salário de Van Williams, vamos acompanhando o percurso do Dragão até à sua decisão de voltar para Hong Kong, depois do guião que escreveu para ser a estrela de uma série televisiva ("Kung Fu") ter acabado com David Carradine na pele do "herói", o insulto e a estocada final nos sonhos de Lee em tornar-se uma figura de relevo no país que o viu nascer - sim, Bruce Lee nasceu em São Francisco. Mais retrato sociológico e identitário do que propriamente cinéfilo, fica uma visão diferente sobre um ícone e uma indústria que achava que o Mickey Rooney era a escolha mais acertada para interpretar um vizinho asiático ou que John Wayne tinha pinta de Genghis Khan. A narração omnipresente da filha de Lee não me deixou de todo convencido, mas não deixa de ser um toque simbólico relevante em torno dos escritos e das memórias do pai.

terça-feira, fevereiro 22, 2022

Rambo: First Blood Part II (1985)

Não há nada que possa dizer sobre esta sequela mais musculada - viva o óleo de bebé -, machista e violenta de Rambo que já não tenha sido dito algures, que tenha apontado este capítulo como o responsável pela imagem de marca cultural que foi criada em torno da personagem. E, por isso, foco-me num pequeno extra - dois minutos - da edição de DVD que tenho cá em casa, que também pode ser descoberto no YouTube. A história de um miúdo de dezasseis anos fã do primeiro capítulo - tinha visto Rambo mais de duzentas e trinta vezes segundo Stallone -, supostamente chamado Sean Baker, com uma doença terminal, um cancro raro nos ossos. Segundo vários relatos que se podem encontrar online, tratava-se de Matthew Morrell, filho de David Morrell, o autor do livro que deu origem à saga. Os médicos deram-lhe três meses de vida, Stallone levou-lhe para o set no México, para a praia, para bem perto dele durante as filmagens. Stallone sabe que não é o génio nem a glória que medem a elevação de um homem: é a bondade. Love you, Sly.

segunda-feira, fevereiro 21, 2022

Nas Nalgas do Mandarim - S09E02

domingo, fevereiro 20, 2022

Até Que o Porno Nos Separe (2018)

"Ser mãe é um amor que nunca se esgota", grita Eulália Almeida directamente do fundo do seu coração e da sua alma durante os créditos finais. E é nesta esfera maternal de alguém disposto a aceitar "escancarar o seu armário" para deixar o amor derrubar qualquer preconceito - seu mas também dos que a rodeiam - que o documentário de Jorge Pelicano ganha uma camada emocional absolutamente prodigiosa e rara, que nos confronta com os nossos próprios pecados enquanto filhos, sejam eles de que natureza forem. A solidão, o abandono, a vida que nos leva para uma distância física que inevitavelmente se transforma num sentimento de ausência e ingratidão, sempre com os planos certos - os crucifixos na casa e no palco, o marido rezingão sem cara, a luz do computador que se apaga - e os silêncios nos momentos perfeitos. Falta o mesmo impacto desta vida que se esgota num desespero angustiante na perspectiva que nos é oferecida de Sydney no segundo acto do documentário - o foco está mais centrado na homossexualidade e na sua profissão do que, como creio que devia, nos seus defeitos enquanto filho -, mas ainda assim "Até Que o Porno Nos Separe" revela-se uma obra singular e excêntrica num género - o documental - que adora factos e evidências e que, por isso mesmo, raramente consegue colocar algo tão espiritual e platónico como objecto final da sua arte.

sábado, fevereiro 19, 2022

Good Luck Captain

sexta-feira, fevereiro 18, 2022

Mother/Android (2021)

Morninho. Sci-fi pós-apocalíptico que não sabe bem se há de fazer all-in no drama familiar em torno de um jovem casal adolescente à espera de uma criança num mundo em implosão ou no conceito tecnológico que levou à hecatombe da humanidade. Acaba por passar a vez sempre que tem oportunidade de ir a jogo e arriscar, mantendo-se vivo na mesa - o interesse do espectador - mas sem grande emoção ou momentos para mais tarde recordar. Nada de novo no género, um bocadinho disto - o silêncio que salva -, um bocadinho daquilo - o futuro da humanidade em cheque e o bebé que representa a salvação da raça humana - e Chloë Moretz. Meh.

quinta-feira, fevereiro 17, 2022

Nas Nalgas do Mandarim - S09E01

quarta-feira, fevereiro 16, 2022

Audible (2021)

Curta-metragem documental na corrida aos Óscares, "Audible" perfila-se como o nomeado tecnicamente mais irrepreensível da categoria, principalmente no que diz respeito à sonoplastia que potencia de forma engenhosa a questão da surdez. É também, no entanto, o mais desequilibrado na sua essência temática e narrativa. Isto porque não usa os seus quarenta minutos de duração para se focar unicamente no quotidiano e nas dificuldades de um equipa de futebol americano constituída por jogadores com deficiências auditivas, mas dispersa-se por uma mão-cheia de outros assuntos que, sendo socialmente relevantes - como o bullying, a morte de um amigo, o luto, os desafios da adolescência, as relações sentimentais frustradas ou os enigmas da sexualidade - todos juntos num bolo de tão rápido consumo, acabam por atropelar e atrapalhar um retrato que se pedia conciso e motivador de superação humana através do desporto. Ainda assim, inspirador e comovente.

terça-feira, fevereiro 15, 2022

Ivan Reitman (1946-2022)

segunda-feira, fevereiro 14, 2022

Hush (2016)

Que desilusão tem sido descobrir estas obras menos recentes de Mike Flanagan. Ideia cativante - por todas as possibilidades narrativas e técnicas que a surdez poderia trazer ao conceito de uma mulher em modo sobrevivência - transformada num thriller banal, que não só não aproveita a sua essência singular como arrasta-se numa sucessão de acontecimentos idiotas, sem credibilidade, justificação ou lógica. O vilão mascarado ganha identidade e perde "fear factor" pouco depois dos vinte minutos, e por mais bom uso que Flanagan dê à câmera, tudo o resto, da sonoplastia aos motivos para tanta hesitação por parte do psicopata em simplesmente despachar o assunto como fez com as restantes vítimas, esvazia este "Hush" num produto tão banal que Kate Siegel - mulher de Flanagan - poderia muito bem ter interpretado uma personagem com audição perfeita e pouco teria mudado.

domingo, fevereiro 13, 2022

Alex Garland & A24

sábado, fevereiro 12, 2022

Lead Me Home (2021)

As intenções de "Lead Me Home", documentário de quarenta minutos em torno do aumento exponencial de sem-abrigos em várias cidades da costa oeste norte-americana, com especial enfoque em Los Angeles, são certamente as melhores. Levar o espectador a uma introspecção e a uma conversa que os governantes dos EUA têm evitado a todo o custo, negligenciando décadas de soluções apresentadas que resolveriam pelo menos parte do problema mas que trariam também um travão económico a um mercado inexorável: o do imobiliário. Mas além de um conjunto de histórias de vida que poderiam ser as nossas - despedimentos, divórcios, mortes familiares inesperadas, violência, sonhos e vícios que levaram tudo, até a dignidade -, faltou à dupla de realizadores Pedro Kos e Jon Shenk um esforço para serem vozes activas no processo, uma faceta de intervenção que tentasse desmascarar o problema, enfrentando - ou pelo menos acusando - o sistema (ir)responsável pelo mesmo. Mas não, preferem perder longos minutos em imagens aéreas filmadas com drones, num esforço estético que banaliza a mensagem. Não se humaniza alguém filmando-os de cima, mas sim por dentro.

sexta-feira, fevereiro 11, 2022

Wes Craven @ VHS

quinta-feira, fevereiro 10, 2022

Three Songs for Benazir (2021)

"Ou seremos bombardeados pelos estrangeiros ou mortos pelos talibãs". Esta é talvez a afirmação que marca esta curta documental nomeada à próxima edição dos Óscares, naquela que parece-me ser, e não querendo de todo ser desrespeitoso, uma jogada muito mais política da Academia do que propriamente uma escolha por mérito técnico ou narrativo da obra. Isto porque a história de Shaista, um jovem afegão apaixonado sem quaisquer perspectivas de futuro, não tem qualquer tipo de arco ousado ou inesperado que cative a atenção do espectador, resignando-se tanto Shaista como o espectador ao passar do tempo, assistindo a rituais - as canções do jovem para a sua mulher ou as conversas com o pai conservador - que não levam a lado nenhum. Um retrato de rotinas e do quotidiano de um pobre afegão que só surpreenderá os mais distraídos. Vinte minutos a sentir compaixão e tristeza pela total impotência de alguém cujo único pecado foi nascer no sítio e no tempo errado, mas tudo o resto é de uma trivialidade sem chama.

quarta-feira, fevereiro 09, 2022

Best Bruce Willis Trailer of the Week

terça-feira, fevereiro 08, 2022

Catfight (2016)

Há um humor negro quase cartoonesco neste "Catfight" que funciona na perfeição até ao realizador turco Unur Tukel - conhecido por ter disparado um "Fuc* you, you Trump fuc*s" na gravação de um podcast norte-americano de cinema, segundos antes de o abandonar abruptamente - decidir encaminhar toda a narrativa por um túnel de simetria forçada entre as duas personagens-chave, repetindo todos os acontecimentos, ideias e até as mesmas piadas em cada uma delas. Isso faz com que a cativante primeira metade se esvazie num exercício entediante e previsível na segunda parte, dando prioridade à curiosidade do engenho narrativo escolhido ao invés de se dedicar a desbravar novos caminhos na sátira humanista e, até, sociopolítica - o tipo que dá peidos na televisão depois de notícias sobre guerras e catástrofes e faz toda a gente rir ou a independência financeira proveniente do conflito no Médio Oriente - a que se propõe no arranque. Ainda assim, dois papelões de Heche e Oh e três cenas de pancadaria com um virtuosismo visual impressionante, virtuosismo esse suportado numa sonoplastia irrepreensível em cada soco, pontapé e martelada. E, assim de repente, bordoada da boa mais credível do que em incontáveis obras de realizadores que se dedicam há décadas ao género.

segunda-feira, fevereiro 07, 2022

La Casa de Papel (P5/2021)

Sejamos francos: "La Casa de Papel" não tem culpa do hype parolo e bacoco criado à sua volta. Toda a gente viu e adorou o "fenómeno", da vizinha que acha que o "Milagre na Cela 7" é o melhor filme de todos os tempos ao colega de trabalho que não sabe dizer o nome de um único filme do Dolph Lundgren mas que gosta muito daquele Rocky na Rússia. Cinco temporadas, ou melhor, cinco partes divididas em volumes - uma adaptação de nomenclatura que certamente derivou da confusão que se criou na transição da série da espanhola "Antena 3" para a Netflix - que resultaram numa jornada divertida, ousada e mais do que competente, com altos e baixos é certo, mas com uma identidade e iconografia muito própria - as máscaras de Salvador Dalí, as personagens com nomes de cidades, o Professor anarquista. O finale pareceu-me demasiado atabalhoado e over the top - ainda mais over the top do que os planos habituais de Berlin e do Professor, quero eu dizer - para ser minimamente credível, mas não estraga uma temporada com todo um festival pirotécnico e visual - até lança-chamas tivemos direito - cuja apoteose foi a emocionante morte de Tokyo. De resto, e para memória futura, fica a reviravolta em torno da personagem de Alicia Sierra, de vilã a heroína. Ou vice-versa, depende da perspectiva sobre quem representava o bem e o mal. Bella Ciao!

domingo, fevereiro 06, 2022

The Fly (1986)

Como que uma adaptação modernizada e tecnológica de "A Bela e o Monstro", um romance disfarçado nos caminhos da ficção científica - teletransporte e fusão celular - e do body horror, sub-conceito que o bizarro Cronenberg tão bem explorou e potenciou nesta fase da sua filmografia. O Seth Brundle do excêntrico Goldblum transforma-se na grandiosa homenagem cinéfila dos anos oitenta a gerações de cientistas "malucos" e ousados que, dentro e fora da tela, sonharam saltar barreiras que se julgavam impossíveis. Os seus cinco conjuntos de roupa igual, o cocktail visual extravagante e visceral da transformação de Brundle, a forma como nem no "engate" consegue escapar ao seu trabalho, numa alegoria física e emocionalmente destrutiva relacionada na altura da sua estreia com a explosão de casos de SIDA mas que o realizador canadiano defendeu posteriormente em entrevista ser antes uma fábula sobre o envelhecimento e a tragédia de perder alguém que amamos para uma doença degenerativa.

sábado, fevereiro 05, 2022

Carrie (1976)

"Carrie" foi não só o primeiro grande sucesso comercial de Brian de Palma como a primeira adaptação cinematográfica de uma obra literária de Stephen King. A primeira e talvez uma das mais bem sucedidas, talvez culpa, ironicamente, do orçamento limitado que obrigou o realizador norte-americano a conseguir arrepiar e surpreender o espectador não com grandes e caros efeitos especiais mas com vários toques magistrais de realização, de entre os quais destacam-se a forma como a câmara vagueia pelo salão de festas pré-massacre, o magnífico split screen naquele que se tornou no mais famoso baile de finalistas da história do cinema, a cena inicial no balneário das raparigas e a sequência final de sonho, na altura uma artimanha que ainda não era vulgar. Duas nomeações aos óscares para duas interpretações do arco da velha - a de Sissy Spacek e a da monstruosa Piper Laurie como mãe absolutamente tresloucada e ultra-religiosa da jovem Carrie - e vários significados escondidos em torno da religião, da adolescência e da maternidade. Obrigatório e intemporal.

sexta-feira, fevereiro 04, 2022

Django & Django: Sergio Corbucci Unchained (2021)

Carta de amor de Quentin Tarantino, Ruggero Deodato e Franco Nero a Sergio Corbucci, realizador icónico que dedicou grande parte da sua filmografia aos spaghetti westerns. Histórias de bastidores, imagens de arquivo, revisitação de cenas marcantes e fanboyismo puro, principalmente de Tarantino, que inclui teorias pessoais sobre personagens misteriosas e momentos de vários filmes de Corbucci. Uma pérola com pouco mais de uma hora, disponível num canto escondido do catálogo da Netflix, que merece uma espreitadela de qualquer cinéfilo, admirador ou não do género. Impossível não ficar com vontade de seguir imediatamente para Django e companhia e sentir a alma cheia de ouvir Tarantino falar tão apaixonadamente de cinema. Podiam ter sido três horas... ou três dias seguidos!

quinta-feira, fevereiro 03, 2022

Lauro António (1942-2022)

quarta-feira, fevereiro 02, 2022

Nas Nalgas do Mandarim - S09E00

terça-feira, fevereiro 01, 2022

The Dead Don’t Die (2019)

Ponto de partida curioso com o planeta a sair do seu eixo de rotação normal, um elenco "alternativo" de luxo - Murray, Driver, Swinton, Sevigny, Buscemi, Glover, Iggy Pop e Tom Waits, entre outros - e um realizador que normalmente gosta de trabalhar longe das zonas de conforto de outros. Cinematografia interessante - aquele fumo preto que sai de cada zombie após as decapitações, sem qualquer razão aparente, dá identidade própria ao universo de mortos-vivos criado por Jarmusch - e meia hora inicial em que o tom cómico meio zonzo funciona. E pronto. Depois é repetir a mesma piada vezes sem conta, desaproveitar por excesso de tolice - Swinton - e por defeito de tempo de ecrã - Selena Gomez - uma mão-cheia de personagens, até tudo soar a uma anedota cansada, sem alma. Jarmusch parece não saber o que fazer com a história, para onde levá-la e como encerrá-la; e, por isso, aposta na táctica da pescadinha de rabo na boca. Se estão à procura de uma comédia de zombies, "Shaun of the Dead" it is, amigos.