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terça-feira, julho 08, 2025

Jolt (2021)

A Kate Beckinsale com uma condição médica chamada "Transtorno Explosivo Intermitente", que é, chamemos-lhe, "despoletada" quando alguém faz algo que lhe irrite. Caramba, o prólogo e a narração inicial que lança estes dados é miserável, mas eu estou rendido à ideia. Sim, sou um daqueles que deixaria de bom grado esta Kate Beckinsale pré-plástico em excesso encher-me de porrada. De preferência, com pouca roupa. Mas se fosse preciso enervá-la, até era homem para vestir calças de ganga com havaianas. Bem, saindo dos meus sonhos, entrando nos dela, ri-me uma série de vezes com aqueles cenários imaginados na sua cabeça; ri-me com o 9 que cai da porta e transforma-se, entre sombras, em 69, como que a antever o que se seguiria. Como se tudo isto não bastasse, t-shirt sem soutien, e aquele frio que arrepia. Caraças, eu nem acredito que isto foi realizado por uma mulher. Quando larga o humor por volta da meia hora e foca-se mais na acção, perde quase todo o seu charme, a sua graça, mas ainda assim entretém, seja na maternidade com bebés a voar ou numa qualquer cave de tortura. E ainda temos direito a reviravolta inesperada bem perto do fim, que me apanhou de surpresa tão relaxado que eu estava. Guilty pleasure aqui em casa, digam o que disserem.

domingo, março 31, 2024

The Sadness (2021)

Incursão refrescante num subgénero que anda zombie há muito tempo: o dos zombies, esse mesmo. Violência extrema, não só nas ideias que não tem medo de concretizar - chamemos-lhe morte por sexo ocular - como na forma extremamente gráfica como as apresenta. Não costuma nada ser a minha praia - não consegui sequer tocar em alguns exemplares europeus das últimas duas décadas que fizeram mossa na crítica e no público -, mas há aqui uma vertente de entretenimento e diversão que é rara nesta extremidade cinematográfica. Covid para brutos, pupilas dilatadas, adrenalina nas veias e muita maldade naquelas cabeças. Lá pelo meio, uma história de amor que infelizmente não convence, seja pelo pouco peso histórico da relação, seja pelo amadorismo dos marmanjos que lhe dão corpo. Efeitos especiais de primeira, cinematografia e sonoplastia caótica - um caótico bom - naquela que foi a estreia promissora de um canadiano (Robert Jabbaz) em... Taiwan. Em tempos de pós pandemia, belo gorefest para relembrar os medos e os anseios que todos enfrentámos.

quinta-feira, dezembro 21, 2023

A Hero (2021)

Melodrama social, cultural e humanista sobre como a percepção da verdade é mais importante do que a verdade em si. A complexidade do bem e do comportamento humano, do heroísmo e de tudo o que lhe rodeia - os abutres da atenção, os filantropos de ocasião -, dos quinze minutos de fama e da cultura de cancelamento. Curva após contracurva, preso por ter cão e por não o ter, numa narrativa que nunca mete pé a fundo no drama mas que, também por isso, nunca se descarrila nem se perde nas suas intenções. Um "Ladrões de Bicicleta" dos tempos modernos, numa sociedade tão distante da nossa quanto inquietante e relacionável, numa era em que deixaram de ser as más acções, mas sim as boas, que precisam de justificação.

sábado, maio 06, 2023

Schumacher (2021)

So Schumacher was a nasty driver and had a terrible attitude with his opponents even when it was all his fault - check his accident with Jacques Villeneuve that led to his disqualification from the 1997 championship - because... he was a Capricorn? Jesus Christ, really? Never liked Schummy as a sportsman, but can't help to have sympathy for him and his family in these hard times. As a documentary, it lacks Kapadia's brilliance and audacity in "Senna", but, at least, it manages to show all his sides - including the dark ones - and to be fair about his career. His legacy is undeniable, and let's all just hope that he'll be able to get back to the paddock someday to cheer for his son.

quinta-feira, abril 27, 2023

Boiling Point (2021)

An intense heart-pounding movie experience through the chaotic world of a high-class London restaurant. One impressive ninety minute take - the third out of four that were filmed in just two days -, nothing short of a triumph technically speaking, a testament of talent of everyone involved, from crew to actors. Much more than just a gimmick, the technique really immerses us in the frenetic energy of everyone inside the restaurant, from the madness in the kitchen to the rudeness of a racist group of customers. Under so much pressure, the tension never lets up, a sort of out of control poem about the restaurant's bustling environment. Great cast, believable/grounded characters and tense atmosphere for almost sixty minutes; the last third becomes a little bit anticlimactic, but nothing that diminishes the overall impact of "Boiling Point". Chef knives out!

quarta-feira, dezembro 07, 2022

The Black Phone (2021)

Overrated. Já sei que a malta não resiste a este ambiente à "Stranger Things", com criançada cool que andava pelas ruas de bicicleta em vez de ficarem trancados em casa agarrados aos tablets. Sim, também gosto. Mas caramba, não nos deixemos distrair do essencial: o filme de Scott Derrickson era uma sequela e ninguém nos avisou? Porque é que a irmã tem visões? Força do amor ou força dos genes? Qual a história do telefone e porque ali continua se só deu chatices no passado ao raptor? Quais as motivações do vilão? Porquê a máscara? Como é que conseguiu escapar durante tanto tempo, com o mesmo modus operandi, sempre na mesma zona? E os pais das crianças, não ficam minimamente preocupados ao ponto de não deixarem os filhos andarem sozinhos nas ruas? Que jogo é que ele quer brincar com os petizes antes de os matar? Estava tudo explicadinho na prequela? Competente a nível técnico, boas interpretações, payoff jeitosinho. Não desculpa tudo o resto, incluindo a fraca caracterização da personagem de Hawke, sem substância ou história para justificar tamanha bipolaridade.

terça-feira, novembro 29, 2022

De uskyldige (2021)

Durinho. Mãe e filha na vida real partilham a mesma ligação na tela, o que juntamente com um trio de interpretações infantis de altíssimo - e de certa maneira inesperado - calibre e uma cinematografia e sonoplastia cuidada conferem ao filme do norueguês Eskil Vogt toda uma ânsia e angústia provocatória que dobra constantemente a fronteira do expectável - ou diria até mesmo do aceitável - num misto de drama sobrenatural em torno dos desafios e incógnitas que polvilham o amadurecimento de uma criança. Bússola moral desorientada, visualmente desconfortável - miauuu - e poucos convencionalismos em torno de temas tão sensíveis quanto a amizade ou a curiosidade natural de uma criança. Faltou pelo menos um pouco de teoria, lógica ou explicação em redor dos poderes, mas fica o retrato cruel sobre o poder de os ter em tão tenra idade. Carrie, amiga, ao menos tu aguentaste até ao baile de finalistas.

segunda-feira, novembro 21, 2022

O Lobo Solitário (2021)

Como eu gosto do Filipe Melo. Da irreverência única de "Um Mundo Catita", ao muito humano "Sleepwalk", sem esquecer o Catatau desaparecido de "O Homem que Gostava de Zombies", o nêsperiano dos sete ofícios tem, sem qualquer margem de dúvida após tantos projectos de qualidade e sucesso inegável, algo que o diferencia dos demais. Neste "O Lobo Solitário", Melo apresenta-nos um longo plano sequência que passará como verdadeiro para muitos, qual Iñárritu que sabe esconder na perfeição todas as cartas marcadas que tinha na mesa - faltou-lhe o relógio no canto inferior esquerdo do computador. Uma câmera que não pára durante longos minutos até começar verdadeiramente a tensão, o estúdio de rádio que ganha vida própria na madrugada, o julgamento em directo das redes sociais, as conclusões imediatas de quem toma partido sem provas nem factos, a equipa técnica que não aparece nos reflexos e nas webcams que transmitem o programa online. Tecnicamente impressionante, sonoplastia de categoria - o tema quase Carpentiano de Melo e Paulo Furtado (The Legendary Tigerman)-, acting de primeira linha de Adriano Luz. Faltou mais credibilidade no desespero do pai - problema talvez mais do texto do que da performance vocal - e um final que fizesse justiça a toda a tensão criada até então. O "back to normal" não faz qualquer sentido perante a incógnita do que aconteceu no outro lado da linha - fosse o radialista de Luz culpado ou inocente do que era acusado. Ainda assim, Filipe, por amor da santa, atira-te lá a uma longa metragem!

quinta-feira, novembro 10, 2022

The Little Things (2021)

Desconfio muito que quase ninguém estava em sintonia neste "As Pequenas Coisas", um dos projectos amaldiçoados de Hollywood que rodou uma série de produtores e realizadores desde o início dos anos noventa até finalmente ganhar vida sob as ordens de John Lee Hancock ("The Blind Side"). Denzel em piloto automático - não é mau mas sabe a pouco -, Malek sem sal nem pimenta, sempre com aquela cremalheira que parece que está prontíssimo para ser o Freddie Mercury assim que o pedirem e Leto, mais esforçado, mas entregue a uma personagem perdida entre ideias que nunca ganham vida e uma edição/montagem tão deficiente que torna impossível a sua complexa construção identitária enquanto nutjob/vilão. Um crime as comparações narrativas com "Se7en", uma patetice a equiparação técnica e visual com a televisiva "True Detective": tentar não chega e parecer não é o mesmo de ser. Como diz o outro, são "as pequenas coisas" que fazem a diferença.

terça-feira, novembro 01, 2022

Venom: Let There Be Carnage (2021)

É um Marvel série B e, só por isso, merece mais e melhor atenção do que um Marvel normal. Mas quase tudo falha: perde o factor surpresa da estreia, tem uma interpretação tenebrosa e deslavada de Woody Harrelson de mãos dadas com aquele penteadinho à fodasse, orquestra deficientemente um vilão que devia ser do carnalho - chama-se Carnage, por amor da Santa - mas que está claramente preso ao PG-13 que a fome de dólares obrigou e tenta ser romântico com uma relação amorosa platónica tão mal martelada entre Hardy e Williams que, no fundo, quase que desejamos que Eddie e Venom apaixonem-se fisicamente um pelo outro. Tal como no primeiro, acaba por ser o jogo do gato e do rato entre os dois que leva tudo às costas, qual buddy-cop movie que se vê obrigado a ser filme de super-heróis quando tudo o que sabe fazer é divertir-nos com Venom a sair do armário. Not enough Carnage, Gollum, mas mal o menos foi só hora e meia. Tão rapidinho que nem custou esperar pela cena pós-créditos da praxe.

sexta-feira, outubro 21, 2022

Val (2021)

Auto-retrato surpreendente que muda toda a percepção pública criada ao longo de décadas em torno da figura de Val Kilmer. O actor complexo de método que ama o teatro mas que não conseguiu fugir nem aos blockbusters - do icónico Iceman em "Top Gun" ao literalmente desconfortável "Batman" de Schumacher - nem aos incontáveis filmes de baixo orçamento que lhe permitiram pagar as contas entre divórcios e esquemas imobiliários ruinosos do pai. Narrado pelo filho - como que a voz de um Val Kilmer mais novo, agora que a sua lhe foge depois de um combate debilitante contra um cancro - e esquematizado quase que em formato de videoblog de uma vida, da infância marcada pela morte do irmão mais velho, a imagens de bastidores irresistíveis - dos rabos de Sean Penn e Kevin Bacon às discussões com Frankenheimer nas filmagens da "Ilha do Dr. Moreau", onde vemos Marlon Brando a ser substituído em quase todas as cenas por um duplo - sem esquecer o quotidiano actual, limitado a nível físico, a sobreviver do passado - presenças e sessões de autógrafos - e de um estúdio de arte aberto aos "sonhadores" do amanhã. Coraçãozinho apertado e o desejo de filmar tudo e mais alguma coisa de agora em diante cá em casa.

terça-feira, setembro 27, 2022

Hypnotic (2021)

Conceito de primeira, execução de segunda. Thriller competente mas sem surpresas nem caminhos apertados, por mais potencial para tal que tivesse a base da sua estrutura - hipnose e controlo da mente por parte de um psiquiatra descompensado. A Kate Siegel - a Angelina Jolie que resiste da primeira década do século, já que a verdadeira evaporou-se em ossos e peles - bem que poderia ter trazido o marido (Mike Flanagan) para o set, deixando o casal de crianças que realizou isto a brincar no parque. Ainda assim, longe de ser a miséria anunciada por quase todos, nem que seja por ter apenas noventa minutos e um Batman taradão.

quarta-feira, agosto 24, 2022

Last Night in Soho (2021)

Gosto muito de ti Edgar, mas voltemos aos tempos dos Cornettos, se faz favor. Todo sofisticadinho e tecnicamente aperaltado, mas ninguém quer saber de uma história sobrenatural como esta se não houver dedicação total a um género específico. Não é bem romance, não é bem terror e comédia não foi certamente. Foi um pouco de tudo e um pouco de nada, uma espécie de mistério que adorou pavonear-se aos espelhos para esconder todas as fragilidades que tinha nas costas. Não basta querer para ser de Palma ou Argento; é preciso ousar dar o próximo passo: apimentar o que ficou pelo certinho, aprofundar novas dimensões de uma protagonista quase plana, chocar também através do poder da caneta e não só do lápis de cor. Cinematografia impecável nas transições de época, mas caramba, alguém sentiu mesmo algum desconforto, o mais pequeno desconforto, com alguma das cenas sombrias e supostamente assustadoras? E aquela exposição toda sobre a personagem do Terence Stamp quando já todos tinhamos percebido quem era? Bom Giallozinho para totós, acompanhado como era expectável por uma banda-sonora à maneira, ou não fosse essa uma das especialidades da casa Wrightiana.

terça-feira, agosto 09, 2022

Os Últimos Dias de Emanuel Raposo (2021)

O canto do cisne, num mockumentary delicioso. "Um Cavalo Chamado Trinitá" a fechar a emissão da RTP Açores. Arte equestre de primeira linha. Que saudades de um mundo e de um tempo distante onde não havia qualquer outra alternativa, fosse o cavalo ou o cowboy. Que bom que era ser atoleimado. E que sorte temos por ser açorianos. Nos Ginetes, se a culpa não é do realizador, se não é do guionista, é das rochas! Mestre em todas as artes, burro em todas as partes. Emanuel vs Arlindo, que duelo. Corta! Não corta nada! É preciso ter descaramento! Já não se respeita os velhos, são carne para canhão agora. É os tomates! Alguém faça uma estátua no campo de São Francisco para o bêbado. Pintelhos a darem lições de moral. Arrumem-se em casa, micróbios do car@lho. Vão medir pilas, cantar o só-li-dó, a put@ que vos pariu. Amigo Vamberto, já acabaste de ler o Açoriano Oriental? PS: Que música maravilhosa é aquela nos créditos finais, da terra beijada pela espuma?

segunda-feira, junho 13, 2022

The Tomorrow War (2021)

Vamos tirar já isto do caminho: melhor e mais ousado "alien design" deste século. Assim, de caras, sem medo de se mostrar de todos os ângulos, de dar tempo de ecrã a estes bichos intergalácticos que andavam escondidos debaixo de gelo como o Carpenter tanto gostava. J.K. Simmons todo musculado quase nos setenta, o Brasil na final do Campeonato do Mundo de 2022 e referências ao "Bill and Ted's Excellent Adventure" no meio da sua lógica meio confusa de viagens no tempo. Uma espécie de "Edge of Tomorrow" menos inteligente e esforçado na narrativa, igualmente bonito, mas com muito mais coração. Porque não há amor como o de pai. Tantos milhões - aparentemente duzentos que acabaram sem vacina anti-covid a saltar dos cinemas para a Amazon Prime - de orçamento e o grande naipe de trunfo estava afinal tão longe dos ecrãs verdes e dos computadores: a família. Yvonne Strahovski com o seu olhar de cachorrinho perdido, Pratt assim-assim, longe de convencer nos momentos mais emocionais e uma extraterrestre fêmea, tal como na saga "Alien", a dar cabo de tudo e todos. No meio da metáfora ecológica e política escancarada relacionada com o aquecimento global, não sei onde encaixar esta vertente feminista - ou será machista?!? - de que o poder - ou será culpa?!? - é todo das mulheres!

quarta-feira, abril 06, 2022

Summer of Soul (2021)

Documentário vencedor da última edição dos Óscares, "Summer of Soul" tenta explorar dois tipos de registo ao mesmo tempo: toda uma geração dourada e inesquecível de músicos negros e, noutra vertente, a ainda hoje pertinente abordagem em torno de direitos e obstáculos raciais que, na verdade, nunca foram ultrapassados, apenas readaptados a contextos e épocas diferentes. E, para mal dos nossos pecados, não consegue equilibrar os dois lados, interrompendo constantemente momentos musicais que mereciam manter-se virgens na sua beleza e raridade e, em (des)sintonia, examinando todo a faceta sociopolítica de forma tão cliché e banal que sentimos que nada de novo nos é revelado que já não tenha sido explorado em incontáveis outros formatos. Entrevistas para encher, com pouco ou nenhum relevo informativo, num documentário que desconfio que teria sido muito mais prazeroso se tivesse se reduzido ao seu grande trunfo: o concerto em si. As imagens e as músicas falariam por si próprias, num grande filme-concerto que se perdeu - e continuou perdido - no meio de tanta história.

sexta-feira, abril 01, 2022

Dune (2021)

Visualmente irrepreensível - como é aliás habitual na filmografia de Villeneuve -, narrativamente um pastelão seco que só não provoca engasgamento porque esconde todos os seus defeitos - a melancolia dos longos planos para o vazio, as incontáveis visões da Zendaya que arrancam mais tempo de ecrã que a sua personagem efectiva, o Chalamet sem sal nem pimenta, o Mamoa com o único objectivo de mostrar o corpanzil, um segundo acto de duas horas que nem sequer acaba, intriga política de ensino básico e zero emoção em torno da acção e do destino das personagens - numa cinematografia e sonoplastia do mais alto calibre possível. O trabalho de Zimmer arrebatou-me por completo - até uma vuvuzela teria bom uso nas mãos do alemão - e, no meio deste nada que se mascarou de tudo para a maioria, fico apenas uma vez mais com a sensação de que o Josh Brolin faz passar por amador qualquer outro actor que partilhe uma cena com ele. Faltou ritmo, faltou alma, faltou uns oásis no meio de tanta areia. Uma mulher lindíssima de olhar, terrível para conversar. Quem se aventurar na segunda parte que depois me conte se encontrou o terceiro acto, se faz favor.

sexta-feira, março 11, 2022

Malignant (2021)

Nem tinham passado cinco minutos e já estava a perguntar à minha mulher que parvoíce era esta. Ao que ela respondeu: "calma, é um sonho, ou um filme dentro de um filme, de certeza". Não era. Era mesmo parvoíce de acting, de edição, de sonoplastia, de ângulos e efeitos numa estética tão artificial e azeiteira que os jumpscares pareciam comédia e as cenas de acção um jogo de computador qualquer rasca corrido numa placa gráfica com os drivers desactualizados. Eu nem sou dos que embirra com o James Wan, mas caramba, que sensação de filme de terror feito para passar ora na Fox Life ora no Trace Urban TV. Uma ou duas referências cinéfilas ao género e três ou quatro ideias interessantes numa história que tinha conteúdo mais do que suficiente para brilhar por si própria sem necessidade de tanto fogo de artifício. Tirando isso, todo um caos técnico estúpido que nem deixa este "Maligno" ser um mau filme descansado.

quarta-feira, março 09, 2022

The Lost Daughter (2021)

Percebe-se a nomeação de Olivia Colman a melhor actriz principal para a próxima edição dos Óscares, mas a verdade é que "The Lost Daughter", enquanto filme, é uma mão cheia de nada. Três linhas narrativas que não levam a lado nenhum - os "gregos" que parecem vilões mas nunca fazem nada que justifique tal fama, a personagem completamente aleatória e redundante do Ed Harris e a doença misteriosa da protagonista -, um acto central que molda todo o percurso das personagens - o roubo da boneca - sem qualquer tipo de explicação ou fundamento coerente - "não sei porque o fiz, sou uma má pessoa" e um suposto acontecimento passado trágico na praia de uma das filhas, que surge em flashback, que afinal não passou de um susto sem consequências graves. A mensagem parece clara: ter filhos é o cabo dos trabalhos; mas a forma como Maggie Gyllengaal monta a história, edita as imagens e trabalha as personagens é tão atabalhoada e ominosa, que até o raio de uma ilha grega transforma-se numa paisagem sem qualquer traço de personalidade. Maggie, gosto mais de ti à frente da secretária do que atrás da câmera.

segunda-feira, março 07, 2022

Cry Macho (2021)

"Esta coisa de ser macho é sobrevalorizada", diz-nos a personagem de Eastwood a certa altura deste "Cry Macho", qual declaração de redenção de uma vida e de uma carreira. "Gran Torino" encontra "The Mule", com uma narrativa pouco credível - a jovem mãe exótica líder de um gang cheia de vontade de levar um idoso para a cama revela-se um devaneio completamente despropositado e ridículo -, diálogo demasiado preguiçoso e um conjunto de interpretações - principalmente do miúdo - que roça a vulgaridade. Sabe bem ver o velho Clint no ecrã em boa forma física e mental no alto dos seus noventa e um anos, mas este exercício de contemplação cinéfila crepuscular - o fim enquanto actor/realizador está inevitavelmente próximo - não apaga a falta de chama e de coerência deste neo-western tão saudosista quanto banal.