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A comparação com o livro continua inevitável. Alice Sebold analisava uma América profunda, dando respostas claras – pelo menos na sua cabeça - sobre o que se passava depois da morte, sem cair em sensacionalismos urbanos, através de uma escrita cativante. O filme de Jackson, por sua vez, transforma a filosofia fantasista de Sebold numa história de gato e do rato, em que o objectivo único parece ser o de apanhar o brutal violador até ao final da fita, pavoneando aqui e ali alguns momentos confusos sobre a permanência de Susie Salmon (a promissora Saoirse Ronan) num limbo celeste. Ou seja, uma parábola que meditava sobre a vida após a morte e o purgatório, deixando a vingança para segundo plano, foi transformada banalmente no inverso, o que acabou por transformar "The Lovely Bones" num simples thriller adolescente.
Em suma, Jackson e a sua equipa de guionistas tomaram várias decisões catastróficas que arruinaram todo o potencial de uma história única. Nem o casting escapa, com várias interpretações triviais como as de Wahlberg, Weisz ou Imperioli, que não nos conseguem transportar para a mágoa, angústia e inquietação da violação e da morte de Susie. Felizmente, Stanley Tucci agarra de forma titânica a oportunidade de interpretar um vilão brilhante na sua carreira, conseguindo inclusive uma nomeação da Academia norte-americana para melhor actor secundário, onde perdeu – justamente, diga-se de passagem – para Christoph Waltz, o genial Coronel Hans Landa de Quentin Tarantino. Numa frase, "Visto do Céu" tinha tudo para ser um grande filme... e é exactamente isso que o torna numa das mais frustrantes desilusões do ano.
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1 comentário:
Como li algures: "é o melhor pior filme de sempre".
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