Escrito e realizado pelo estreante J.C. Chandor, "Margin Call - O Dia Antes do Fim" conta com um dos mais interessantes e dinâmicos elencos dos últimos anos, num choque proveitoso de gerações onde a experiência de veteranos como Kevin Spacey, Jeremy Irons, Stanley Tucci ou Demi Moore traz algum cinismo ao entusiasmo de actores como Paul Bettany, Zachary Quinto ou Simon Baker. Numa obra onde não há heróis, apenas vilões, surge-nos um retrato tão corajoso quanto metódico, tão frio quanto intenso, tão abstracto como complexo de uma realidade que a maioria de nós tão mal conhece, mas que a todos nos afecta. Mais dramático do que propriamente didáctico, o ritmo calmo e a narrativa aberta de “Margin Call” pode não agradar a todos os cinéfilos; mas mesmo esses não terão problemas em admirar os trunfos técnicos e artísticos da fita, das panorâmicas de Manhattan aos jogos de luzes e sombras dos escritórios – a escuridão da noite vs a luz dos ecrãs -, sem esquecer o enfoque dado às reacções humanas e não a uma lista interminável de números em computadores.
Sem respeito nem pudor com conveniências sociais, Chandor traz-nos a sua visão de como o capitalismo corrompeu a afamada tradição do trabalho árduo em prol do sonho americano. Porque, diz-nos o filme, há três maneiras de ter sucesso hoje em dia: ser o primeiro, ser mais inteligente ou… fazer batota. E, com apenas três milhões e meio de dólares de orçamento, a batota de Chandor para chegar às bocas do mundo foi simples, honesta e indolor: ir buscar nomes grandes de outras décadas e oferecer-lhes os seus melhores papéis em vários anos. Haverá melhor cartão de visita?
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