Fábula sobre a banalização cínica e populista da televisão enquanto meio de aculturação de gerações, através da estupidificação de emissores e receptores, "Escandâlo na TV" narra a história de como uma estação pública de televisão norte-americana trocou a ética e o jornalismo sério e de respeito pelas audiências de topo e, consequentemente, pelos milhões de dólares provenientes do mercado publicitário. Na UBS, com uma nova direcção, passa a valer tudo: de um pivot demente a astrólogas no lugar de meteorologistas, sem esquecer terroristas pagos clandestinamente para fornecerem imagens polémicas dos seus actos, tudo o que dê mais um ponto ou outro de share é aceitável.
Realizado de forma excelsa e energética por Sidney Lumet e com uma mão-cheia de interpretações poderosíssimas que valeram, pela última vez, três dos quatro óscares de representação (Peter Finch, Faye Dunaway e Beatrice Straight), "Network" declara-se uma sátira em tom de aviso quase profético daquilo que viria a acontecer em massa com o mundo/negócio da televisão um pouco por todo o globo, com o aparecimento dos reality-shows e dos formatos jornalísticos que privilegiam os dramas quotidianos de rápido consumo ao jornalismo de investigação. Cardiograma ao coração frágil da sociedade, é impressionante a forma detalhada e certeira como Paddy Chayefsky, o Aaron Sorkin dos anos sessenta e setenta em Hollywood, previu o que iria acontecer ao meio televisivo. Cínico, sombrio e provocador, nem os comunistas resistiram a tornar-se capitalistas. Último e merecido destaque para o papelão de William Holden, dissimulado entre as loucuras insensatas de Finch no ecrã.
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