Riggan é Keaton, Birdman é Batman, a peça de teatro que marca o renascimento de uma lenda o filme em si, o quarto capítulo do homem pássaro nunca realizado para infortúnio dos jornalistas asiáticos o terceiro homem morcego de Tim Burton que Keaton recusou fazer por um valor recorde de quinze milhões de dólares, em meados dos anos noventa, simplesmente porque achava o guião terrível. A arte a imitar a vida, a vida de uma celebridade a criar um conflito interno com o actor de respeito que um homem sempre sonhou ser, um conjunto de interpretações fascinantes (Keaton, Norton, Stone e Galifianakis, este último finalmente num papel em que não precisa de ser idiota) que dão substância e vigor a um trabalho tecnicamente irrepreensível de Iñarritu e do cinematógrafo Emmanuel Lubezki, que depois de fazer furor com o seu engenho em "
Gravity", volta a presentear cinéfilos de todo o planeta com uma obra que parece miraculosamente filmada num único take. Um truque de magia a lembrar o que Hitchcock tentou fazer com "
Rope", uma sátira mordaz à destruição cultural que se vive em Hollywood, onde o dinheiro fala mais alto que a virtude, o valor e a excelência. Algumas transições entre cenas parecem sobrenaturais, maravilhas impossíveis de acontecer (do exterior para o interior, dos camarins para o palco, etc.) que findam num desfecho tão arriscado quanto provocador, onde um mundo metafórico dá mãos ao real e Riggan ganha, finalmente, o reconhecimento da pessoa mais importante da sua vida, que passa a ver o pai da mesma forma que ele se via a si próprio. Singular e excepcional.
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