Existem poucos momentos tão satisfatórios e deliciosos na história do cinema como aquele em que a Katharine Hepburn despede a sua "amiga" racista. Numa época em que o casamento interracial era proibido em dezassete estados norte-americanos e o país fervilhava em torno do racismo instalado na sociedade - Martin Luther King haveria de ser assassinado no ano seguinte -, o filme de Stanley Kramer é uma aula de tom leve e descontraído - mas peito cheio, o peito de Poitier - sobre quase tudo: racismo, valores culturais, hipocrisia liberal, relações amorosas e familiares, misoginia, entre tantos outros assuntos sociais tão relevantes quanto fracturantes. Serviço público especialmente então - mas infelizmente ainda agora também -, numa masterclass de harmonia e empenho cativante de todo um elenco, que conquista o público nas palavras de Spencer Tracy - o seu último filme -, nas lágrimas contidas de Hepburn, no virtuosismo inocente de Katharine Houghton - a filha perfeita - e, por fim, claro, na coragem sensata de Poitier. Tão importante na sua mensagem, que se perdoa aquela dança completamente despropositada do rapaz do talho. Reviravolta das reviravoltas? Nunca vemos sequer o jantar.
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