sexta-feira, dezembro 23, 2005

Desperate Housewives - Season One

Porque é sempre nas "supostas" férias que fico sem tempo nenhum para fazer seja o que fôr, fica aqui um artigo excelentemente bem pensado e escrito que encontrei no Clarice Had a Little Lamb sobre a minha série de eleição deste ano que agora termina (ok, calma, ainda vou a meio da Lost).

"O fenómeno à séria vai ser quando descobrirmos que a maior parte das trintonas já nem consegue olhar para a personagem e lembrar-se da vida que leva. Vai antes vivendo a vida de acordo com o que espera que a sua personagem faça. O role playing para domésticas. Dificilmente uma Senhora Dona Almerinda desta vida se interessava em ser um híbrido humano dragão com poderes para congelar o espaço, mas se a proposta for uma senhora suburbana, contentada e higiénica nos seus afazeres, a coisa já pega. E pega porque elas são tão engraçadinhas, tão elegantes e tão infelizes. E a tristeza fica sempre melhor com rímel.

Quando já se ganhou as solteiras com o Sexo e a Cidade, importa ganhar as casadas e as mal casadas e as adulteras e as cornudas e as desgraçadas e as atarefadas e as "coça-me aí q'eu não chego". Elas são para tudo. Para romance, humor, mistério, drama. Elas são até para acção. Logo nos primeiros episódios um dos murros mais hilariantes: Ele chega a casa brinca com os três fedelhos from hell e manda-os jogar futebol para o relvado (retirado dos flinstones). Depois diz-lhe que tem saudades e leva-a para o quarto (retirado de Arlequim & Julia).

Ela diz-lhe: "vais ter que usar preservativo", ele responde: "Não. Arriscamos!" e logo ali Zás - retirado sabe-se se lá donde, ou de um episódio do sr. Chuck Norris (que vai dar ao mesmo) - um murro nos queixos de fazer dobrar para rir. É que esta parte também conta. E muito. Esta pequena independência é um "agarra a dona-de-casa". É assim que se perpétua o mito da super mulher, com estas séries onde elas conseguem cuidar de si, dos filhos, da casa, dos trabalhos e até se defendem quando já se torna abuso. Esta é a parte mais importante porque anda tudo à procura de um exemplo a seguir e elas dão esse exemplo com as suas vidinhas mais-ou-menos misturadas com as tramas da morte misteriosa da Mary (retirado de Ficheiros Secretos ou mr. Lynch).

Ainda é capaz de ser cedo demais para dizer se o fenómeno nos toca como tocou a Laura Bush, porque bem vistas as coisas um T1 na Venda Nova ou uma vivenda ajardinada nos subúrbios de classe dos E.U.A. ainda têm algumas diferenças. De qualquer forma podemos já escolher (e até nos vendem t-shirts) qual das donas de casa queremos ser.


Primeiro temos a Mary Alice, que é quem nos conta todas as histórias a partir do seu cantinho no além. Excluída a suicida (Mão Morta ponham os olhos nesta frase refrão) ficamos com a Susan (Teri Hatcher), que é divorciada e mãe solteira, que tem uma vontade indomável de encontrar alguém, nem que seja para depois fazer dele pano e poder esfregá-lo na cara do ex-marido, mas sempre com muita doçura.

Temos ainda, e sem querer ofender, a mulher esfregona, Lynette (Felicity Huffman), a mãe dos três estarolas que largou uma carreira de sucesso para poder comprar fraldas e gomas à grande. Há também a arrepiante Bree (Maria Cross). Esta é do género barata porque se ambas sobrevivem a ataques nucleares, esta tem a vantagem de só precisar de um espanador e um bocadinho de blush para se recompor. Ainda temos uma ex-modelo, Gabrielle, que tem "todas as coisas que sempre quis" e percebe que "nunca quis as coisas certas".

Esta é a melhor prova de que a produção da série é bem cuidada, é exactamente este o tipo de frase que eu sempre espero ouvir da boca de um qualquer modelo nacional. Encaixa-se. Depois, para fechar o pacote, a Edie (Nicollette Sheridan) a tipa que, volta não volta, arca com as culpas, nem que seja pela cor do cabelo.

Obviamente esta soap aditiva é da autoria da senhora... Marc Cherry. Ok. A senhora autora é um homem. Mas ninguém disse que só um dos géneros era capaz de deslindar os desafios coquetes das stay at home women. O facto de ser um homem a escrever o guião até vem sublinhar a eventualidade verídica dos episódios. Afinal de contas alguém as deixou desesperadas. Ele deve saber quem."

Por Diana Martins Moreira, em Clarice had a Little Lamb.

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