segunda-feira, maio 31, 2021

Dead Trigger (2017)

Vamos dar mérito aos dois incompetentes que realizaram isto pelo facto de terem adivinhado que em 2021 o mundo estaria de pernas para o ar por culpa de um vírus. E pronto, é isto. Nem o estatuto de herói de acção do Dolph Lundgren, a experiência do Isaiah Washington ou aquela cara laroca da Autumn Reeser salvam este pós-apocalíptico de uma história sensaborona - nem uma pitada de humor negro - e desconexa, de uma mão-cheia de jovens actores que não seriam sequer contratados para fazer um anúncio publicitário a uma escola de ensino especial, de sets de interior com paredes feitas de cartão, ornamentadas com folhas A4 impressas cinco minutos antes para desenrrascar. Provavelmente, por questões de orçamento, com a mesma tinta que o Dolph usou para pintar o cabelo de negro. Depois do sucesso dos videojogos de computador adaptados ao cinema, toda uma nova era arranca de forma gloriosa: a cinebeatificação dos jogos de telemóvel. Ou não. Porra Dolph, assim qualquer dia desisto.

domingo, maio 30, 2021

Friends: The Reunion (2021)

Todos cheios de plástico na cara à excepção do Matt LeBlanc e da Lisa Kudrow; o James Corden a querer ter protagonismo num formato de conversa que apenas serviu para desvirtuar o reencontro, as emoções autênticas entre os seis que partilharam risos, lágrimas, paixonetas e infinitas histórias, nos bastidores e não só, durante uma década. Desfiles de modelos, entrevistas a figuras públicas nada relacionadas com a série - o mais deslocado e sem nada de relevante para acrescentar o amiguinho de Corden, David Beckham - e a Lady Gaga a cantar um tema que devia ser apenas e só da Phoebe. Um quiz que nunca desenvolve para lá do óbvio. Tanta porcaria enfiada no meio deste reencontro e, ainda assim, aquele aperto no coração, aqueles olhos inchados no final ao perceber que o tempo não volta atrás. Para nós e para eles. Porque envelhecer é isso mesmo, passar da paixão à compaixão, perdoar tudo e valorizar qualquer memória de tempos em que para sermos felizes bastava um simples "How you Doin'?".

sábado, maio 29, 2021

Two Distant Strangers (2020)

Curta-metragem nomeada à mais recente edição dos Óscares que tem sido um verdadeiro caso de amor-ódio entre o público. Nem tanto ao mar nem tanto à terra: percebem-se as queixas de quem acha a mensagem tão simplificada quanto detentora em si do mesmo ódio que critica; mas também os elogios de quem não resiste ao conceito de uma narrativa em time-loop recheada de homenagens aos que sofreram - e morreram - às mãos, aos joelhos e aos disparos de um ciclo vicioso de racismo estrutural enraizado na sociedade norte-americana. Dos nomes no telhado à poça de sangue moldada no formato do continente americano, fica a metáfora eficaz - exactamente por ser polémica e talvez até inapropriada - de um problema cruel sem fim à vista.

sexta-feira, maio 28, 2021

Nalgas Flash Review: Skyscraper

quinta-feira, maio 27, 2021

Blue Ruin (2013)

A estreia impressionante de Jeremy Saulnier como realizador, guionista e cinematógrafo nos grandes palcos. Promessa que entretanto se tornou certeza, num noir moderno que faz quase tudo bem, sem pressas nem exaltações, com muitos cinzentos - de tons azulados - num género - revenge movies - que normalmente prefere o preto e o branco moral de uma boa vingança. Como que um círculo vicioso de violência de quem não a quer mas que não resiste a procurá-la, do homem bom que pensa que perdeu tudo e por isso mesmo nada mais tem a perder, da necessidade de justiça que causa exactamente o mesmo tipo de injustiça naqueles que assistem de fora à punição dos pecados de um ente querido. Interpretação irrepreensível de Macon Blair, nos graves (com barba) e nos agudos (penteadinho), em casa da irmã ou na sua ruína azul, o Pontiac onde os seus pais foram assassinados.

quarta-feira, maio 26, 2021

Daredevil (2003)

Anos a fio enganado pela opinião consensual do público que este "Daredevil" era lixo tóxico. Já sei, já sei, provavelmente o problema é meu e daquela garrafa de Mirabilis branco que despachei sozinho ao jantar. Seja como for, tirando o arco narrativo em que o Demolidor e a Electra andam à pancada porque ela não reconhece que se trata do namorado debaixo daquela máscara que deixa meia cara de fora - e porque raio em vez de bater na namorada e levar com uma facada no ombro, o Ben não disse apenas "Electra, calma, sou eu, o ceguinho que te anda a queimar a rosca todas as noites" -, tudo o resto pareceu-me mais competente e divertido que estas MARVELadas recentes que se levam demasiado a sério. Ben Affleck convence enquanto cego - nem por isso enquanto super-herói ou advogado -, o sorriso com covinhas da Jennifer Garner deixa qualquer um, uma ou não-binário de beiços, o big bad boss possante de Michael Clarke Duncan saudades do bom gigante e até o sacana do Colin Ferrell arranca um dos mais intrépidos e convincentes vilões do género com aquela colecção infindável de manias e tiques de expressão. Vou deitar-me que estou com a boca seca, mas amanhã já pego no "Elektra".

terça-feira, maio 25, 2021

Nas Nalgas do Mandarim - S08E08

segunda-feira, maio 24, 2021

Presumed Innocent (1990)

Thriller competente q.b. de Alan Pakula ("All the President's Men") que, infelizmente, raramente sai da sua zona de conforto. O mistério em torno do crime aguenta-se ainda assim até bem perto do fim - ainda que se perceba que o culpado tem que ser alguma das pouquissímas personagens que fazem parte do círculo de confiança do Rusty Sabich de Harrison Ford - ao contrário da ténue e frustrante intensidade que é colocada nas cenas de tribunal, sem um único momento de exasperação de um homem presumivelmente inocente. Propositado ou não para nos deixar na dúvida em relação à sua inocência, o que acaba por dar nas vistas é a forma gulosa como a italiana Greta Scacchi apalpa aquele rabo - e tudo o resto - do Han Solo sempre que pode. Fã da força, a Greta deve ser.

domingo, maio 23, 2021

The Woman in the Window (2021)

Tanto talento - Amy Adams, Gary Oldman e Julianne Moore - para tão pouco. Homenagem descarada a Hitchcock, qual "Rear Window" moderno que apesar da cinematografia expressiva e de um set design digno de louvor, raramente convence nas dinâmicas forçadas entre as personagens e na forma pouco ortodoxa como todas as peças tentam encaixar umas nas outras para construir um mistério sólido. Diálogos medíocres, um terceiro acto atabalhoado completamente deslocado no tom e na forma dos dois primeiros, pouca ou nenhuma tensão e a óbvia conclusão que não basta gostar de Hitchcock para ser um. Joe Wright, amigo, dedica-te aos dramas de época.

sábado, maio 22, 2021

Voyage to the Planet of Prehistoric Women (1968)

Cinco minutos de créditos iniciais com o mar a bater em rochas. Estamos no futuro - 1998 para ser mais específico - e sai uma nave espacial de latão da Terra em direcção a Vénus. Morre tudo, culpa de um meteorito. Passam mais uns anos e desta vez sai um foguetão de papelão com dois homens e um robot a bordo com o objectivo de finalmente chegar ao planeta cujo nome foi inspirado na deusa romana do amor. Chegar chegam, mas espetam-se na aterragem e perdem as comunicações com a Terra. Não há problema, vão já mandar outro foguetão com mais um trio de artistas para os salvar. Salvar de lagartos gigantes, de um Deus réptil voador, de um robot vira casacas e de mulheres com conchas como soutiens que comunicam telepaticamente entre si, entenda-se. Parvoíce total, com reaproveitamento extensivo de material de outros dois filmes - apenas filmaram novas cenas relativas ao arco feminino da história - e uma musiquinha de fundo de cortar os pulsos. Foda-se Peter Bogdanovich - também narrador moralista da história que assinou como Derek Thomas -, como diria o outro, que passou-se?

sexta-feira, maio 21, 2021

Nalgas Flash Review: The Big Sleep

quinta-feira, maio 20, 2021

The Girl from Rio (1969)

Rio de Janeiro. Falam todos espanhol ou inglês. Português, nada. Femina, uma cidade/reino ali perto que é considerada a capital do mundo das mulheres. Homens, proibidos. O objectivo da Sununda, a líder deste clã de mulheres jeitosas - nem uma gordinha -, é claro: acabar com qualquer homem no planeta numa posição de poder ou domínio em relação a uma mulher. Obras com eles, são bons é a construir casas e a servir as mulheres, género maior e superior. Um casal que passeia pelo Rio é abordado por uns capangas com umas máscaras assustadoras. Não sabemos quem é o casal nem a quem respondem os capangas. Não interessa. Levam uma coça deste aparente "James Bond" e na cena seguinte, pinocada no hotel. Afinal não são um casal, o Sir Pintas nem sabe o nome dela. "A coisa mais segura para roubar é dinheiro roubado", diz-nos a rapariga. Não está mal visto. Um arqui-vilão viciado em banda-desenhada do Popeye. Sir Pintas raptado pela Sumuru, acaba na Femina a aprender como a cidade funciona: as mulheres são treinadas para serem irresistíveis para qualquer homem e quem não dominar a arte, morre. Simples e pragmático. Uma prisão dentro do reino das boazonas repleta de homens ricos que caíram nas tentações destas piranhas; é assim que elas acumulam riqueza. Cena lésbica com plano de destaque para mamilos rijos. Sir Pintas escapa de Femina num Fairchild C-82 Packet, um cromo raro e clássico do mundo da aviação. Tanta mulher bonita e foi isto que me deixou de pau feito. Todos atrás de uma mala com dez milhões de dólares do Sir Pintas, o primeiro homem de sempre a escapar de Femina. O vilão dos espinafres quer aproveitar esse know-how para destruir o reinado de Sununda. Uma ventoinha de plástico da Worten como arma de tortura. Fodasse Jess Franco, que confusão que para aqui vai. Já vos disse que isto é o Rio de Janeiro e não há um habitante local que não diga "gracias" em vez de "obrigado"? Chega, o resto fica para descobrirem, como eu, nas profundezas do catálogo da Amazon Prime.

quarta-feira, maio 19, 2021

Skyscraper (1996)

A Anna Nicole Smith com umas unhas a rivalizar os seus melões, a fingir que pilota um helicóptero sozinha enquanto vemos o ombro do verdadeiro piloto no canto inferior esquerdo do enquadramento. Uns mauzões sem medo de tiroteios mas com necessidade de uma rampinha para descerem de um camião. O governo norte-americano, num carro devidamente identificado como sendo do governo, a comprar ilegalmente num beco a outros - ou serão os mesmos? - mauzões uma espécie de jogo electrónico de Batalha Naval capaz de mudar o jogo geo-político mundial. Vários disparos de bazuca contra um carro mais resistente que o Kitt. Ainda nem passaram cinco minutos e o nível já é este. Anna Nicole nua no chuveiro, Anna Nicole nua na cama, Anna Nicole com desejos de ser mãe. Seria o bebé com o maior reservatório de leite materno da história, mas o papá é polícia e quer o depósito só para ele. Mais tiros de bazuca. Ninguém acha estranho na cidade andarem mísseis de um lado para o outro, não vale a pena avisar a polícia. Segue-se o "Die Hard" com vilões de sotaque francês e cabelos Pantene. A Anna Nicole, claro, faz de Bruce Willis. Estou a rir muito, coitada, não consegue dizer duas frases seguidas sem parecer que está num filme porno ou na creche, a falar com recém-nascidos. Calma, alerta flashback: vamos ver o momento em que a Anna Nicole aprendeu a disparar. Ah esperem, não, afinal foi só mais uma desculpa para uma cena de sexo com a fruta toda à mostra num piquenique. Não me estou a queixar, atenção, mas já vi homens morrem sufocados por menos. Bazucas contra bombeiros; porra, devia haver limites. A Anna Nicole num macacão que a faz parecer gorda; mas não, são as mamas que chegam à cintura e criam essa ilusão de óptica. Muitas quedas do arranha-céus, deviam ter metido uns vidros mais resistentes ao impacto. Anna Nicole kickboxer salva o dia e acaba fechada com o namorado numa ambulância. Pronto, o filho vai ser enfermeiro, não se fala mais nisso.

terça-feira, maio 18, 2021

Peeping Tom (1960)

Filme extremamente controverso aquando da sua estreia, "Peeping Tom" foi arrasado pela crítica, que arrumou a carreira do britânico Michael Powell na gaveta daí em diante. A caneta foi mesmo mais poderosa do que a espada no tripé de Karlheinz Böhm - que não me convenceu na pele do protagonista freudiano que tenta sobreviver aos seus demónios e que, a certa altura da sua vida, ganhou sotaque alemão, já que a criança que aparece em recordações em fita não o tinha -, numa história que com o avançar dos tempos perdeu o choque e o impacto da sua mensagem mas que, como que por ironia, ganhou o respeito do público e da crítica. Não há aqui nada sórdido ou gráfico, apenas um thriller psicológico cujo vilão é identificado logo à partida e cujo único mistério revolve em torno das razões e do destino que será dado a tão peculiar personagem. No meio das suas cores híper saturadas, não aquece nem arrefece. Comparações com Hitchcock? Poupem-me.

segunda-feira, maio 17, 2021

Maggie Q & Samuel L. Jackson

domingo, maio 16, 2021

Scarface (1983)

Obra-prima do caralho. Perdoem o meu francês, mas tenho que fazer justiça ao espírito e energia do filme de Brian de Palma, escrito por Oliver Stone - que combinação explosiva de talento e audácia. Enquadramento político e social renovado - imigrantes italianos, álcool e Chicago dão lugar a refugiados cubanos, cocaína e Miami - neste remake de homenagem ao clássico de Howard Hawks da década de trinta. Papelão maior que a vida de Al Pacino - o sotaque, os tiques, a arrogância -, uma mão-cheia de cenas que roçam a perfeição cinematográfica - a da motoserra na casa de banho, com a câmera a entrar e a sair do quarto, provavelmente a mais brilhante e ousada -, sets magníficos - a mansão, a discoteca, etc. -, um tipo enforcado num helicóptero, os cabrões dos sunsets com um laranja azulado no céu, "Miami como uma grande rata à espera de ser comida" (Tony Montana dixit) e o "olhar de quem não fode há um ano... e os olhos nunca mentem" da Michelle Pfeiffer naquele vestido verde - com a mulher certa, qualquer homem pode chegar ao topo. O percurso do canastrão de rua que mataria comunistas por prazer - mas que por dinheiro esquartejaria-os como se fosse Picasso - a big boss do narcotráfico que define capitalismo como o acto de ser "enrabado" pelos poderes instituídos, da banca ao governo. O mundo não chega para quem quer sempre mais.

sábado, maio 15, 2021

Scarface (1932)

Filme clássico e icónico de gangsters, o "Scarface" original explora todos os elementos temáticos do género - a ascensão e a queda de um criminoso, os carros, as armas, a forma de vestir, os bastidores do crime organizado - de forma tão negra e, porque não, sarcástica, quanto o então recentemente criado código Hays (ainda) permitia. Como que uma figura paradoxalmente deliciosa que representava a escumalha da sociedade ao mesmo tempo que alcançava os ideais do sonho americano - dinheiro, poder, individualismo, sucesso -, o Tony Camonte de Paul Muni - inspirado às escondidas em Al Capone, que tentou evitar que o filme fosse feito mas posteriormente tornou-se um dos seus maiores fãs - foi a face controversa de exposição de Howard Hawks a um problema real que a sociedade, a polícia e os políticos não estavam a conseguir resolver. Prova disso é o cartão de abertura - talvez até imposto pelo código Hays - que antecede o delicioso plano-sequência de quatro minutos que arranca o filme, que escarrapacha a seguinte mensagem ao espectador: "Este filme é uma acusação aos gangs na América e é uma chamada de atenção à indiferença do governo a esta ameaça crescente à nossa segurança e à nossa liberdade. Todos os incidentes representados neste filme são uma reprodução de ocorrências verídicas e o objectivo deste filme é exigir ao governo uma resposta à seguinte pergunta: "O que vão fazer em relação a isto?". O governo é o teu governo. O que é que TU vais fazer em relação a isto?". Numa época de gangsters no cinema - foram mais de sessenta os filmes lançados entre 1930 e 1932 -, "Scarface" sobressaiu dos demais. Mérito de Hawks, Muni e, porque não, daquele hilariante secretário meio surdo que não sabe ler nem escrever. Mas era um tipo leal, que não largava o telefone nem no meio de um tiroteio; e isso é que conta, meus amigos.

sexta-feira, maio 14, 2021

Behind Her Eyes (S1/2021)

Papelão de Eve Hewson - filha de Bono dos U2 - como Adele, qual Isabella Rossellini dos nossos tempos, nesta mini-série de seis episódios que arranca como thriller psicológico e acaba, para bem ou mal dos nossos pecados, numa esfera de fantasia sobrenatural. Essa viragem radical e inesperada de tom acaba por ser o que faz o twist estrutural resultar, ainda que muitos se possam sentir enganados e defraudados por passarmos de Hitchcock para Peter Jackson sem aviso prévio. Sonhos lúcidos, interpretação constante de pistas visuais espalhadas ao longo da série, flashbacks para um hospício, cenas de sexo escaldante, enfim, todo um cocktail que acaba por convencer, nem que seja apenas nos quatro episódios iniciais em que o mistério mantém os pés bem assentes no chão.

quinta-feira, maio 13, 2021

Nalgas Flash Review: Mortal Kombat

quarta-feira, maio 12, 2021

Revenge (2017)

O rape-revenge cru e estilizado que muitos tentaram ser - quantos "I Spit on Your Grave" já temos nós mesmo? Quatro? Cinco? - mas poucos conseguiram. Bem conseguido com valores modestos de produção e orçamento, a visão de Coralie Fargeat - aqui realizadora e guionista - triunfa na audácia despreocupadamente irrealista dos seus exageros - as feridas, o banho de sangue perto do fim, o gore -, por mais surpreendente e anormal que isso possa parecer. Banda-sonora a condizer, uma heroína que afigurava-se tão fútil mas que nos conquista com o passar das suas tormentas e um trio de vilões de personalidades distintas que tanto gosto deu odiar. Final que nos sacia, tanto na brilhante e enervante execução labiríntica como no seu outcome e mais uma realizadora para seguir com atenção nos próximos anos.

terça-feira, maio 11, 2021

The Last Blockbuster (2020)

Documentário simpático e nostálgico em torno da última Blockbuster em actividade no planeta inteiro. Mesmo percebendo - e até partilhando - a ira de Lloyd Kaufman pelo facto da cadeia ter aniquilado tudo o que eram clubes de vídeo independentes com o seu então inovador e revolucionário esquema de negócio - partilhar os lucros dos alugueres com os estúdios em vez de comprar por pequnas fortunas, tal como os outros faziam, os direitos de cada cassete -, a verdade é que é impossível resistir às memórias que aquele espaço familiar em Oregon trazem a qualquer um que cresceu perdendo horas e horas todas as semanas a correr prateleiras ao pormenor nos mais variados clubes de vídeo das suas localidades. Aquela sensação de descoberta, aquele clique no ouvido da caixa a abrir e fechar, os cheiros característicos, enfim, remanescências de uma era que poucos imaginámos que um dia deixaria de existir. Nem os executivos da Blockbuster que, abrindo uma nova loja a cada dezassete horas durante uma fase de boom dos DVDs no final dos anos noventa, ignoraram a hipótese de adquirir a então modesta Netflix, considerando ser um modelo de negócio sem pernas para andar. As voltas que a vida dá, ainda para mais quando se mete um crise financeira global pelo caminho. E preparem-se amiguinhos, daqui a quinze anos temos um documentário sobre aqueles dias em que entrávamos numa loja para comprar filmes e séries. Nada temam, por essa altura abrirei com amigos o Videoclube do Sr. Joaquim, aquele que será o último lugar da resistência cinéfila no planeta. PS: Ironia das ironias, "The Last Blockbuster" está a chegar a milhões nos Estados Unidos da América graças à sua estreia na... Netflix. E fiquem a saber que nem o Covid deu cabo da resiliência daquela mulher em manter o espaço aberto.

segunda-feira, maio 10, 2021

Nobody (2021)

"De facto, iramo-nos com aqueles que nos são mais queridos porque nos deram menos do que esperávamos ou menos do que os outros obtiveram; para qualquer um dos casos, há um remédio. Ele deu mais a outro homem: contentemo-nos com a nossa parte, sem fazermos comparações: nunca será feliz aquele que atormenta quem é mais feliz que ele. Recebi menos do que esperava: talvez esperasse mais do que me era devido. Este capricho é um dos mais temíveis, pois dele nascem as iras mais perniciosas e mais capazes de atentar contra as coisas mais sagradas". Lúcio Soneca para os amigos, filósofo nascido ainda antes de Cristo, a prever a reacção de bestas ingratas como eu ao orgasmo cinéfilo que Ilya Naishuller, realizador da fenomenal curta-metragem "Kolshchik" - corram já para o YouTube para descobrir esta pérola de quatro minutos - nos deu com este "Nobody". Não foi uma pinocada daquelas épicas com espanholada pelo meio, mas com as mãos também conta, ainda para mais quando não são as nossas. Género acção? Nada disso. Género John Wick. Sem biblioteca mas com autocarro, sem cão mas com pulseirinha.

domingo, maio 09, 2021

Nas Nalgas do Mandarim - S08E07

sábado, maio 08, 2021

Altered (2006)

Depois do sucesso inesperado estrondoso de "The Blair Witch Project" na sua estreia na realização - em parceria com Daniel Myrick -, o cubano-americano Eduardo Sánchez voltou sete anos passados à carga com este "Altered", uma abordagem com contornos extraterrestres que passou despercebida ao radar - como todos sabemos também acontece com as naves alienígenas na vida real - do público em geral. Meios modestos com óptimo retorno a nível visual/gore - quase que sentimos aqueles intestinos a darem o nó nas mãos do bicho - mas com uma história de fundo muito desinspirada, confusa e sensaborona e um conjunto de actores e personagens que raramente convencem, com especial destaque para a namorada. Efeito medusa extraterrestre - o domínio telepático através do contacto visual - que só funciona quando dá jeito e um final que não ata nem desata. Fica a intenção.

sexta-feira, maio 07, 2021

The Time Machine (2002)

Guy Pearce, seja a dar aulas ou a passear na rua, sempre a quinhentos à hora de boca aberta, como se estivesse constantemente admirado com algo ou, mais grave, com problemas respiratórios no trato superior; já não se distribuem anfetaminas como antigamente nos estúdios. O assalto mais pateta, teatral e previsível de sempre. O bisneto de H.G. Wells - autor do conceituado romance (1895) que dá vida ao filme - na cadeira da realização, numa daquelas homenagens amargas de um familiar que claramente ficou ressentido por não ter sido incluído na herança. Uma máquina do tempo que aparece assim do nada a funcionar porque há uma donzela para salvar. A pobre da Sienna Guillory a morrer mais do que uma vez porque por mais que se viaje no tempo não se pode mudar o destino de alguém; podiam ter-se lembrado deste mecanismo narrativo num qualquer filme com a Kristen Stewart. Golfe na lua, com pancadas que atingem um quilómetro de distância à custa da gravidade - ou falta dela. A lua a desmoronar-se, ameaçando a vida na Terra. Malditos golfistas, já não bastava estarem sempre em contramão na N125. De repente, quase sem dar conta, "Pocahontas 2: Planeta dos Aliencacos". O Jeremy Irons branco como cal, a precisar de vitamina D. Eu, pálido, cansado de escolher filmes terríveis das prateleiras.

quinta-feira, maio 06, 2021

Shiva Baby (2020)

Tive uma vez um instrutor que atirou-me com esta expressão ao fim de um longo dia de simuladores: "se isto fosse o Ídolos e eu fosse jurado dizia-te já: tu mexer, mexes-te bem; mas cantar, cantar não cantas um car*lho". Quase quinze anos depois dou novamente uso a tão sábia doutrina: a obra de estreia da jovem Emma Seligman mexe-se bem num espaço e contexto delicado - um velório judaico de uma tia que a nossa protagonista nem sabe bem quem é -, com cada interacção a tornar-se altamente stressante não só devido à sonoplastia irritante como pela forma sufocante como cada plano é fechado em si mesmo, mas, e lá vem a parte do cantar, raramente sabe (en)cantar com toda aquela conversa e drama em torno da neurose de uma jovem rapariga bissexual, em choque com os valores tradicionais da sua família, com a descoberta do universo familiar do seu "sugar daddy" e, como se tudo isso não bastasse, tremendamente insegura em relação ao seu futuro. Uma espécie de Woody Allen no feminino, que vai para a cama com homens mais velhos em vez de raparigas menores de idade. Ouch, lá vem a brigada dos psicólogos que acham que a miúda está a mentir.

quarta-feira, maio 05, 2021

Nalgas Flash Review: Cruising

terça-feira, maio 04, 2021

Shaq Life (S1/2020)

O dia-a-dia de Shaquille O'Neill narrado pelo Samuel L. Jackson. O bom gigante que diz que fez novecentos milhões de dólares apenas seguindo os conselhos da sua mãe, quer ser o melhor pai possível - uma mão-cheia de filhos, sobrinhos e familiares que vivem debaixo dos seus vários tectos -, o melhor empresário - um dos directores gerais da marca global de pizzarias Papa John's -, o melhor atleta - artes marciais diversas no ginásio que frequenta - e, finalmente, o melhor DJ do mundo. Sim, leram bem. Não um celebrity DJ como Paris Hilton ou Lindsay Lohan, mas sim um DJ a sério. Ibiza, Sardenha, Tomorrowland, Shaq vai a todos os grandes palcos da música electrónica no seu jacto privado; entre festas privadas horas antes da hora H e desleixo na preparação, nem todos correm como desejava. Zero referências a "Kazaam" e "Steel". Filme favorito: "Rocky". Só por isso já valeu a pena.

segunda-feira, maio 03, 2021

Creed II (2018)

Faltou Stallone na cadeira do realizador, faltou alma no treino - não vamos sequer falar da banda sonora que troca os clássicos de sempre de Bill Conti pelos hip hops da moda -, chama no ringue e um coração muito mais intimista fora de quatro paredes a um filme que tinha todos os ingredientes míticos da saga para funcionar, do legado Creed à família Drago - pai, mãe e filho. O pacote completo acaba ainda assim por nos entreter e (quase) conquistar (nem que seja porque queríamos mesmo muito gostar disto), mérito maior das relações familiares/sentimentais de Adonis - tanto Jordan como Thompson convencem naquele papel muito frágil de pais cujo mundo desaba de um dia para o outro - do que propriamente do confronto entre Creed Jr. e um tronco germano-romeno que arranjaram para enterrar a carreira para a posteridade, tal era o peso que tinha nos ombros. Stallone, ainda te amamos; nem pensar continuar isto sem a tua presença.

domingo, maio 02, 2021

Brightburn (2019)

Subversão interessante da história da carochinha em torno do Super-Homem, o filme de David Yarovesky é um daqueles raros casos que pedia por mais tempo de ecrã e mais desenvolvimento da personagem principal no guião. Ainda assim, cumprindo os requisitos mínimos no que toca a motivações e desafios durante o amadurecimento de um peixe claramente fora de água - ou, neste caso, um extraterrestre fora do seu planeta -, "Brightburn" conta com valores de produção magníficos para uma experiência com uns míseros seis milhões de dólares, níveis de violência e gore tão inesperados quanto de alto gabarito, uma interpretação de coração cheio da Elizabeth Banks e, tão bom mas tão bom, um final contra todas as expectativas, mesmo as mais pessimistas. Atmosfera, cores escuras e avermelhadas, sombras constantes e o toque final de génio nos créditos finais: "Bad Guy" da Billie Eilish. Porra, guilty pleasure.

sábado, maio 01, 2021

Nalgas Flash Review: Twin Dragons