quarta-feira, junho 30, 2021

Black Bear (2020)

A minha teoria: duas partes que fazem parte do processo criativo da personagem principal enquanto escreve um guião. O urso negro como símbolo do chamado "bloqueio de escritor", altura em que muitas vezes se rasga tudo e se arranca de novo, aproveitando apenas algumas ideias da versão anterior. Certa ou errada - outras teorias na internet apontam para um choque entre "expectativas" e "realidade" -, a verdade é que todo o processo criativo idealizado por Lawrence Michael Levine resulta maravilhosamente no ecrã independentemente da nossa percepção das suas verdadeiras ideias. Estaria ou não a personagem da magnética Aubrey Plaza a recomeçar o seu novo "guião" cada vez que se sentava naquela secretária? Acredito que sim, não passando o primeiro "draft" disso mesmo e o segundo, também muito verde ainda, de uma nova tentativa, desta vez inspirado na execução de uma espécie de making-of da primeira ideia com alguns twists nas personagens "originais" - a mulher fiel que passa a ser a amante, por exemplo. Um espécie de "Inception" sobre a arte de criar um filme, com um final em aberto que não deixa ninguém frustrado, pelo contrário.

terça-feira, junho 29, 2021

Exit Through the Gift Shop (2010)

Documentário ou mockumentary? A dúvida permanece uma década depois. Encenação ou não, crítica real ou construção satírica à ascensão meteórica e inesperada do francês que vendia roupa barata e filmava graffiters como hobbie a génio da "arte de rua" ou simplesmente uma nova estratégia tremendamente eficaz de promoção do seu trabalho através de um novo meio, a mensagem do projecto do conceituado Bansky passa de qualquer maneira: o que é "arte", quanto vale a "arte", qual a importância, contexto e subjectividade da "crítica de arte"? A piada faz-se sozinha e, mais importante que tudo, nenhum elefante foi ferido na elaboração deste documentário. Tudo muito bonito, só faltou ter coragem para afirmar perante o mundo que também existem vândalos sem talento nenhum a sujar paredes pelo mundo inteiro com a desculpa de que "tudo é arte".

segunda-feira, junho 28, 2021

Shaun of the Werewolves

domingo, junho 27, 2021

Luca (2021)

O New York Times chamou-lhe o "Calamari By Your Name". Ri muito, mesmo que ache que seria mais apropiado um trocadilho com o "The Shape of Water" de Del Toro. História simples, objectivos modestos, sentimentalismo eficaz - assente nos valores da amizade e das ambições/desejos que nos tornam humanos, falíveis, tão expostos à felicidade quanto à tristeza. Verdadeira parábola da caverna de Platão, provavelmente o mais próximo que a Pixar já se aproximou da Ghibli, não tanto no estilo da animação mas sim no contexto envolvente às personagens e à narrativa, sendo bom exemplo disso o nome dado à vila de Portorosso. Por falar nisso, boa oportunidade para relembrar o mundo que mais vale ser porco do que fascista. "Luca" está longe de ser um belo naco de atum braseado, mas também sabe bem uma sardinhada no pão de quando em vez.

sábado, junho 26, 2021

Executive Decision (1996)

Steven Seagal, sem direito sequer a nome nos créditos iniciais, a morrer logo no primeiro acto do filme. Ninguém estava à espera desta - foi a primeira vez que "morreu" na sua carreira -, mas percebe-se: rezam as crónicas que foi a única maneira de o despachar mais cedo das filmagens depois de ter agredido John Leguizamo e criar mau ambiente com todo o elenco. Primeiro milhão da Halle Berry, o Kurt Russell a aterrar, sozinho, um 747 todo esburacado no aeródromo de Cascais - um Oceanic, a mesma companhia que haveria de se tornar famosa em 2004 com a série "Lost" - e terroristas islâmicos a sequestrar um avião para o espetar em território norte-americano, cinco anos antes desta ideia ter resultado num atentado bem real que chocou o mundo. Muita antecipação, muito planeamento, muito trabalho de bastidores dentro e fora do avião, para tão pouco e fraco momentum de acção efectiva entre heróis e vilões. Carreira curta como realizador de Stuart Baird, percebe-se porquê.

sexta-feira, junho 25, 2021

quinta-feira, junho 24, 2021

Boomerang (1992)

Robin Givens com um corpinho divinal antes de ser considerada a mulher mais odiada da América pelo seu polémico divórcio com Mike Tyson - pancadaria e indemnizações de milhões à mistura -, a Halle Berry com pinta de universitária fofinha à procura do seu primeiro amor e a Grace Jones, bem, a Grace Jones a esfregar as suas cuecas na cara de um velhote e a mostrar a sua pachacha num restaurante. Tudo enquanto revira constantemente os olhos, qual actriz que nunca o foi. Duas Catwoman - a outra a tresloucada Eartha Kitt - e duas Bond girls, numa comédia romântica que de romance tem zero - Eddie Murphy não consegue sair daquele seu registo de garanhão pateta - e que, de comédia, enfim, tem o Martin Lawrence a fazer de vítima de racismo, o Chris Rock a mandar umas bocas aleatórias e os pais de um dos amigos de Murphy a javardarem de todas as maneiras possíveis e imaginárias durante um jantar. Uma estrela por cada bochecha redondinha da Halle Berry.

quarta-feira, junho 23, 2021

To Live and Die in L.A. (1985)

"Se queres pão, fode o padeiro". Classe. Sonoplastia e cinematografia apaixonante, sequência de perseguição automóvel ao nível do melhor Friedkin "francês", Dafoe a ser o melhor Dafoe que sabe ser - o que aparenta ser tresloucado mas não o é -, cabeças a explodir, energia "cocainada" típica de uma era e William Petersen na mais impactante personagem cinematográfica da sua carreira. Cinema quintessencial da década de oitenta, até nas muitas incoerências narrativas que pouco importam com aqueles sunsets estilizados de fundo a encher o olho.

terça-feira, junho 22, 2021

Nalgas Flash Review: Lady Terminator

segunda-feira, junho 21, 2021

The East (2013)

Socorro, acho que estou apaixonado pela Brit Marling e não percebo porquê. Novamente em parceria com Zal Batmanglij ("Sound of My Voice"), "The East" é menos "espiritual" que o seu predecessor, ainda que caminhe também por becos sombrios de crença e dinâmicas de cultos, desta vez ligados a uma esfera eco-terrorista. Perspectivas que mudam, comportamentos criminosos que afinal são apenas uma resposta "justa" à inacção da sociedade e das entidades competentes, há aqui toda uma camada de crítica social construída de forma competente e credível durante pouco mais de uma hora. A execução dos planos acaba por esvaziar a tensão criada em espaço fechado nos seus planeamentos, mas o pacote anarquista completo não só convence como nos deixa de beiços pela simplicidade aparente - é talento, não se deixem enganar - de Marling.

domingo, junho 20, 2021

What Happened to Monday (2017)

2043 e melhor que uma Noomi Rapace, só sete. Sete irmãs escondidas de um mundo - talvez apenas sociedade ou nação específica, não se percebe - que permite apenas um filho por casal devido à sobrepopulação do planeta, um espectáculo visual irrepreensível no que toca à partilha de ecrã pela mesma actriz, num conceito futurista tão rico que merecia um guião mais atento às inúmeras falhas e decisões incompreensíveis das personagens de Rapace. Porque razão lógica não fugiram simplesmente do apartamento em que viviam? Porque motivo não se espalharam pelos vários guetos não controlados pelo "sistema"? Nunca ninguém exigiu saber como e onde estavam a "dormir" os seus filhos? Porquê, porquê, porquê. Muitos porquês que danificam o trabalho bastante competente na realização do norueguês Tommy Wirkola, responsável pelos originais "Dead Snow", num filme que respeita o facto da segunda-feira ser o dia mais complicado da semana. "Children of Men" encontra "The Adjustment Bureau" e deixa uma lição para a vida: nunca deixar o pai escolher sozinho o nome dos filhos.

sábado, junho 19, 2021

Yvonne Strahovski vibes

sexta-feira, junho 18, 2021

Raya and the Last Dragon (2021)

Alguém disse, e bem, que a "Mulan" entrou no mundo de "Avatar" com o objectivo de descobrir "Como Treinar o Seu Dragão". Belíssima mitologia, banda-sonora competente, criação cuidada de um "novo mundo" e animação de excelência - as texturas, o mar, o céu, as personagens, tudo. O resto? Diálogos sem sal nem pimenta, sobre-exposição constante de toda e qualquer acção, narrativa previsível e história MARVELizada - a heroína que salva o mundo - que raramente consegue intimidade com o coração do espectador mais exigente. O (pouco) humor quase nunca resulta, falta química entre as personagens principais e os seus sidekicks - normalmente um dos maiores trunfos da Disney - e, por mais inspiradora que seja a sua mensagem sobre confiarmos uns nos outros, acaba por ser a persistência nessa ideia que leva a algumas das decisões mais incompreensíveis e surreais do enredo. E sim, Disney+, eu confio em vocês quando deixarem de me pedir um valor adicional por material "premium".

quinta-feira, junho 17, 2021

Filth (2013)

James McAvoy, actor do camandro, verdadeiro mete-nojo como diria o Rei do Kuduro. Talento, carisma, uma interpretação over the top numa personagem completamente desequilibrada que acaba por, na sua bipolaridade, providenciar os trunfos e as fraquezas de uma narrativa que brilha na arrogância entre colegas (comédia negra) mas perde força nos frágeis caminhos - alucinações - relacionados com a família (drama). Vilão ou anti-herói, pouco interessa: é a espiral tão ousada quanto insana que o leva à desgraça o foco que absorve a quarta parede, Jamie Bell, Imogen Poots, Eddie Marsan, sexo, drogas, fotocópias e tudo o resto que por lá anda.

quarta-feira, junho 16, 2021

Liam Neeson is now a movie genre!

terça-feira, junho 15, 2021

Ava (2020)

Jessica Chastain a distribuir pancadaria ora num top branco ora num vestido vermelho. São muito poucas as premissas que me conseguem deixar com pele de galinha - e mastro de cavalo - antes sequer de me sentar no sofá. Pois é, mas o que poderia ser um John Wick de mamilos erectos e franja ruiva afinal foi um drama familiar com ex-namorado agora noivo da irmã, pai infiel que virou a mãe contra a nossa heroína e irmã grávida quando o ex-namorado já estava a ver como ia safar um ménage maroto com as irmãs "once you go black, you never go back". Tate Taylor, meu grande filho da mãe, deram-te um Ferrari para as mãos e foste-te meter no Bairro Alto.

segunda-feira, junho 14, 2021

Resident Evil (2002)

Análise em modo trivia: Michelle Rodriguez, grande fã do jogo, pediu ao seu agente para fazer o que fosse preciso para que ela conseguisse um papel no filme; não teve que fazer muito, certamente. Milla Jovovich não usou nenhuma dupla para a substituir nas cenas de acção: para a coreografia em que sobe uma parede e dá um rotativo num zombiecão precisou de três meses de treino; já para mostrar ligeiramente a pelugem púbica, bastou um realizador maroto que, admirem-se, acabou por se casar com ela uns anos depois de a conhecer aqui. Filmado na sua maioria em estações inacabadas de metro em Berlim; mas foi no Japão que foi um sucesso estrondoso - o presidente nipónico da Capcom teve até um cameo como zombie. Foi o que foi, melhor do que se esperava, pior do que poderia ter sido, suficiente para garantir uma saga com seis capítulos. Gosto de sofrer, vou a todos até ao final do ano.

domingo, junho 13, 2021

Nalgas FR: Hollywood Chainsaw Hookers

sábado, junho 12, 2021

Peppermint (2018)

"E se eu fizesse parecido com o que fiz com o "Taken", mas com uma mãe em busca de vingança?", pensou o francês Pierre Morel certa noite enquanto revia Garner infiltrada na SD-6. Realização estilizada, sequências de acção aprimoradas, muito coração - pudera, marido e filha vão desta para melhor logo no arranque - e uma actriz que prova ter muito mais para dar do que aquilo que regularmente oferece nos caminhos (mais) confortáveis das comédias românticas/familiares. "Peppermint" é tudo o que se espera de um revenge movie à Morel - até nos seus defeitos, que são vários, da transformação animalesca da mãe enlutada às reviravoltas vilanescas. "Confort food", como dizem os bifes.

sexta-feira, junho 11, 2021

Tokyo! (2008)

Três histórias isoladas com Tóquio como único elemento em comum. Começamos com Gondry a transformar uma mulher numa cadeira. Sabemos mesmo quem somos? Somos o que queremos ser ou o que a sociedade quer que nós sejamos? Somos nós que transformamos as cidades em que vivemos ou as cidades que nos moldam a nós? Segue-se o pateta do enfant terrible do Carax com um monstro humano - o "Merde" - que não é nada mais do que o reflexo da sociedade que o rodeia. Politicamente incorrecto, japoneses e franceses caricaturados no seu pior, a guerra ao terror individualizada de forma tão ousada - sequência de abertura contínua e caótica, as mensagens escondidas à vista de todos - quanto presunçosa. E, por fim, Bong Joon-ho, mais pés-no-chão - ainda que a tremerem -, uma espécie de previsão apocalíptica do isolamento humano com doze anos de antecedência: seremos mesmo apenas livres, como Fernando Pessoa escreveu um dia, quando podemos isolar-nos do mundo que nos rodeia?

quinta-feira, junho 10, 2021

Keitel never won as Oscar

quarta-feira, junho 09, 2021

A Case for Physical Media

"But let’s be honest, it is not a film anymore – it’s ‘content’. I know this because I work in this business and that is what we call it. Films are no longer special, their shelf life is shorter – stream it, discard it and move on to the next binge. (...) I believe there is something to be said for that experience; picking up a tactile object, actually having to make the effort to go a store to rent and return a movie – it was a decided choice and when you got home to watch it, you were invested in giving the film your time because of that commitment. (...) The experience of watching a film no longer feels so special. And when it comes to digital libraries and streaming, you are not getting the best possible presentation, no matter how good your 4K TV is." [Dark Horizons]

terça-feira, junho 08, 2021

Elektra (2005)

Super-heroínas em fatos de cabedal, já sabemos no que dá, não é Halle Berry? Primeiro Marvel no "feminino", com a estrela em férias da extraordinária "Alias" de J.J. Abrams em piloto automático - obrigatoriedade contratual - numa personagem deslavada, sem o sainete de sensualidade e carácter que lhe tinha sido dada no "Daredevil" em que se apresentou dois anos antes. O que ganha em fugir ao vício apocaliptíco de "salvar o mundo", baseando-se numa narrativa mais íntima e familiar, perde no estilo demasiado sério com que tenta abordar uma história com motivações e decisões que raramente fazem sentido. E nem vou falar dos desaparecimentos mágicos em fumo verde dos "ninjas". Tom inconsistente - ora thriller psicológico negro, ora patetice quase sobrenatural de banda desenhada -, personagem enterrada para a eternidade. E ainda diziam que o "Daredevil" do Affleck era mau.

segunda-feira, junho 07, 2021

Scarface @ Segundo Take

domingo, junho 06, 2021

Porco Rosso (1992)

Um porco que não voa não passa de um porco. Mas um porco também não luta por uma questão de honra, luta por comida na pança. Tudo somado, contas feitas, mais vale ser um porco do que um fascista. E o resto é conversa. Conversa que só se percebe na dobragem inglesa disponível na Netflix, já que a legendagem portuguesa na versão original é atroz e descabida, tornando todo o enredo imperceptível. Miyazaki mais complexo do que aparenta, a história de um homem transformado em porco - sem grandes explicações - que se auto-isolou do amor, da felicidade, da guerra, da sociedade e do fascismo. Um conto bizarro (mas divertido) sobre aparências, sobre o livro de capa horrorosa com uma história fantástica no interior, repleto de ambiguidades na sua mensagem quase melancólica em torno das consequências das "guerras" desta vida, sejam com piratas da aviação ou piratas do parlamento. E aquela cena dos "aviões fantasmas"? Poesia para a eternidade.

sábado, junho 05, 2021

Bo Burnham: Inside (2021)

Torrente impressionante de criatividade, imaginação e talento de Bo Burnham. Realizador, guionista, produtor, cantor, editor, autor, técnico de luzes e de som, Burnham faz tudo sozinho, sozinho no tudo em que se transforma um pequeno quarto onde (supostamente) passou grande parte do confinamento provocado pela pandemia. Hora e meia de constante reinvenção do conceito de "especial de comédia", um projecto ímpar que independentemente de resultar na eficácia do humor - a mim raramente arrancou mais do que um leve sorriso - tem um impacto tremendo na forma como Burnham consegue reinventar o espaço e a sua figura, cena após cena.

sexta-feira, junho 04, 2021

Good Old Shy?

quinta-feira, junho 03, 2021

Spiral: From the Book of Saw (2021)

Chris Rock: de longe a pior escolha de casting de toda a saga. Ponta-de-lança de pé quente - língua afiada - enfiado na baliza com luvas, noventa minutos a tentar ser o que não é, seguido bem de perto por um defesa central (Max Minghella) que devia estar no banco. Previsível que dói, armadilhas sem tempo nem espaço para brilharem (e angustiarem), edição e montagem "tão early 2000s" e desenvolvimento narrativo estruturado de forma tão amadora e formulaica a partir do segundo acto que, chegados ao final, é maior a vontade de rir do plano do novo "Jigsaw" que o desejo de o ver novamente. Samuel L. Jackson teria feito melhor no papel principal, motherf*ckers.

quarta-feira, junho 02, 2021

Prince of the City (1981)

Pastelão seco e difícil de engolir, quase três horas que pareceram cinco ou seis. Um complexo novelo policial que Sidney Lumet não consegue desenrolar de forma minimamente cativante, ainda para mais na ausência de um protagonista com outro magnetismo e carisma - Treat Williams não consegue calçar as botas de Al Pacino, que reza a lenda era a primeira escolha de Lumet para a personagem principal - que conseguisse levar o filme para outros patamares de espectáculo. Um sem número de personagens de telenovela, um guião atabalhoado, edição e montagem sem chama nem charme e o claro sentimento final de que acabamos por sobreviver a esta viagem de autocarro num caminho para cabras quando pensámos que íamos apanhar o alfa-pendular em classe executiva.

terça-feira, junho 01, 2021

Apocalyptic Purge