quinta-feira, abril 30, 2020

The Good, the Bad and the Ugly (1966)

Muito já foi escrito sobre os talentos de Sergio Leone: génio sarcástico ou imitador de toque europeu que despreocupadamente presta tributo com ironias e hipérboles, com cenas que depois de desconstruídas revelam tanto de surrealmente único como de solecismos incompreensíveis - vejamos aqui o momento em que o "Bom" e o "Vilão" chegam a um cenário estrondoso de guerra sem se aperceberem ou a forma como o "Mau" aparece do nada no cemitério, já perto do fim, quando pelas características do cenário deveria ter estado visível muito antes. Seja como for, ninguém pode negar o impacto desta sua sentença disfarçada de homenagem aos westerns norte-americanos, o mimo visual, técnico e artístico de cada cena, quase tudo enquanto Eastwood masca charutos com desdém ao som maravilhoso das notas arrepiantes de Ennio Morricone, naquela que será provavelmente a colaboração mais influente e conceituada da sua brilhante carreira. Ainda assim, não cometam o mesmo pecado do que eu: a versão mais longa do filme lançada no início do século prejudica o ritmo da narrativa em diversos momentos, ao ponto de percebermos o que é que certamente não entrou no cut original. Talvez por essa mesma razão tenha perdido o comboio do deslumbramento neste visionamento de estreia, sem volta a dar agora.

quarta-feira, abril 29, 2020

Bad Times at the El Royale (2018)

Não há nada pior que um ripoff Tarantinesco falhado, uma série de histórias de antologia de pouco interesse que não conseguem conectar-se, que perdem-se entre flashbacks desorganizados e fora de tempo, num filme que dificilmente sobreviveria em noventa minutos, quanto mais em cento e quarenta. Entediante, vazio, sem nada de jeito para dizer, Drew Goddard enche os momentos mortos com lindas músicas soul dos anos sessenta, como se isso fosse suficiente para disfarçar tudo o resto. Encurralado na sua Rashomoniada falhada, não há Hemsworth em modo Jim Morrison e Hamm sabe-se lá porquê ali metido que salve o que, verdade seja dita, não merecia ser salvo. "Bad Times" foi um gigantesco understatement para esta experiência.

terça-feira, abril 28, 2020

The Apartment (1960)

Um empregado que empresta o seu apartamento aos superiores, na esperança de vir a ser promovido, para que estes possam cometer adultério em segurança. Premissa ousada para uma comédia que é, na verdade, muito mais do que isso. Ora sátira mordaz, mórbida e desencantada a uma sociedade (do)minada por jogos de poder, de desejos de aceitação social que rapidamente transformam o filme de Billy Wilder num tabuleiro de processos de inversão, um reflexo de um mundo repleto de mentiras e manipulações: o empregado ganha mais a nível profissional a tratar dos "alugueres" do apartamento do que efectivamente a trabalhar e os vizinhos pensam que ele é um garanhão, quando na verdade é um solitário sem vida sexual. Neste mundo de vampiros, onde todos usam o seu poder hierárquico para obter vantagens, Jack Lemmon brilha como vítima de uma bola de neve que não parece ter fim. Sempre naquela linha fina que divide o cinismo do sentimentalismo, sente-se o drama naquela noite de natal passada num bar, acompanhado por álcool e uma jukebox e, finalmente, o romance, numa série de reviravoltas com a personagem de Shirley MacLaine, amante do patrão de Baxter. Envelheceu bem, ou não continuasse tudo igual.

segunda-feira, abril 27, 2020

Hogar (2020)

Depois dos simpáticos "Carriers" e "Los Últimos Días", os irmãos espanhóis David e Àlex Pastor juntam-se à Netflix para apresentar uma espécie de one-man "Parasitas", a história de um publicitário com sonhos grandes, outrora conceituado e respeitado, que se vê confinado a um quotidiano pobre e banal de pai fracassado. Desilusão atrás de desilusão em casa e fora dela, decide roubar a vida ao homem que lhe sucede no aluguer do apartamento que sempre sonhou e que, devido à crise e ao desemprego inesperado, teve que prescindir. Boas ideias, tensão a rodos (que podia ter arrancado bem mais cedo) e um papelaço de Javier Gutiérrez, sempre no tom certo, sempre com a expressão convincente de alguém que sabe que se tornou o vilão que nunca pensou ser. Pena que a dupla espanhola não tenha conseguido juntar a família ao "plano" de Javier, tornando a trama muito menos impessoal ao mesmo tempo que colocava uma ambiguidade moral nas acções repugnantes da personagem-chave.

domingo, abril 26, 2020

Beethoven (1992)

Que experiência fenomenal foi rever "Beethoven" com os meus filhos. Ver como um filme de imagem real, na língua original, sem legendas ou dobragem de áudio que os ajudasse a perceber o que era dito pelas personagens, conseguiu colocar duas crianças de cinco e sete anos a rir e a chorar, a saltar no sofá a torcer pelo Charles Grodin quase ao mesmo tempo em que roíam unhas praticamente congelados enquanto o vilanesco veterinário - o já falecido Dean Jones - executava o seu plano maléfico para ficar com o São Bernardo que todos pedimos aos nossos pais para ter. Tudo é simples e previsível e, no entanto, tudo funciona tão bem. Que saudades destes filmes Reitmanianos/Hughianos, que enchiam a nossa juventude de alegria e excitação com o seu encanto único. E quem diria que o Stanley Tucci, o David Duchovny e o Joseph Gordon-Levitt, aqui todos eles em segundo plano, acabariam por chegar onde chegaram.

sábado, abril 25, 2020

Paths of Glory (1957)

Kirk Douglas disse uma vez numa entrevista que não precisava de esperar cinquenta anos para saber que "Horizontes de Glória" seria sempre um grande filme. Pois bem, morreu este ano, com 103 anos de muita vida, a saber que tinha tido razão. Banido durante duas décadas em França pela forma como retratava a hierarquia militar gaulesa durante a Primeira Guerra Mundial, "Paths of Glory" segue inicialmente uma batalha numa "terra de ninguém", onde tropas francesas e alemãs lutam pela conquista de metros de terreno, num jogo militar estratégico que, de forma absurda e sem qualquer objectivo plausível, provocava incontáveis baixas - principalmente aos franceses. Segue-se um julgamento por cobardia na face do inimigo, uma luta de galos - os hierárquicos superiores - que procuram encontrar bodes expiatórios para os seus fracassos ao mesmo tempo que passeiam por pomposos chateaux ou participam em festas espalhafatosas da alta sociedade. Sobrou a câmara implacável e fervilhante de Kubrick entre trincheiras e tribunais e uma performance sentida de Douglas contra a injustiça e, porque não, estupidez humana. Nos estonteantes quinze minutos finais, a esperança do espectador transforma-se em dor, numa cena de execução que afinal não teve nenhuma reviravolta que a impedisse; de seguida, a dor desvanece-se no comportamento animal e irracional do Homem perante uma rapariga alemã capturada para mero entretenimento das tropas; e eis que, quando já ninguém esperava, finalmente surge a cambalhota emocionante, uma voz apaixonante que os faz render, chorar, sentir o peso da condição humana. Por um momento apenas, claro, que a Guerra continuava logo de seguida.

sexta-feira, abril 24, 2020

The Invisible Man (2020)

Realizado pelo promissor Leigh Whannell ("Upgrade"), este "The Invisible Man" prova como material clássico - o livro original de H. G. Wells foi lançado pela primeira vez no final do século XIX - usado e revisitado inúmeras vezes pode, ainda assim, ser alvo de uma abordagem reformadora que, com alguma criatividade técnica e uma actriz de excepção, consegue fugir ao enredo esperado, mantendo o espectador preso a um medo invisível através de planos ousados e chapadões imaginários de altíssimo calibre. A agonia passa bem pelas expressões faciais e corporais de Moss e, ainda que a reviravolta final seja algo desinspirada, a experiência cinematográfica em si sai intacta. O pior? Saber que já foi anunciado um novo spin-off da obra de Wells intitulado "The Invisible Woman", desta vez com a Elizabeth Banks nos comandos. Deve ser para equilibrar as contas.

quinta-feira, abril 23, 2020

12 Angry Men (1957)

Como que um curso rápido - mas extremamente eficaz - de tantos artigos da Constituição norte-americana que devem garantir a qualquer réu um julgamento justo, com presunção de inocência, sem qualquer margem para dúvidas que possam erroneamente condenar um inocente, "Doze Homens em Fúria" é, ainda hoje, uma obra cinemática ímpar. Tecnicamente - uma pequena sala de um tribunal com uma mesa, doze cadeiras, um par de janelas e uma ventoinha estragada no dia mais quente do ano serve para Sidney Lumet fazer tanto, mudando ângulos e lentes conforme o sentimento que queria passar - e, de modo fascinante, a nível narrativo; porque não vemos o julgamento, a acusação ou a defesa, o assassinato ou sequer qualquer uma das testemunhas-chave constantemente referidas. Mesmo o alegado homicida, um adolescente de uma família imigrante, apenas tem direito a dez segundos de ecrã logo no arranque do filme. Arranque esse em que o juiz manda, de forma enfadonha, como se o caso já estivesse resolvido, o júri reunir-se para deliberar o destino do réu. Não há bengalas em flashbacks, em imagética fornecida fora daquela claustrofóbica sala, nada. Apenas doze homens muito diferentes, uns conservadores outros progressistas, uns mais xenófobos que outros, uns mais sisudos, outros mais descontraídos, a discutir durante uma tarde vários pormenores do caso, tentando convencer uns e outros que não existem dúvidas absolutamente nenhumas em relação à autoria do crime. No fim, quando o voto é finalmente unânime, tudo acaba. Não sabemos se decidiram bem ou mal. Se o miúdo era mesmo culpado ou não. E é nessa dúvida eterna que reside a força de um realizador magnânimo e de um filme intemporal, que não precisa de dar biscoitos ao público para o deixar satisfeito. Porque toda a tensão veio do conflito entre pessoas e ideias e, esse, teve um final feliz.

quarta-feira, abril 22, 2020

Michael Palin in North Korea (2018)

Quem me acompanha regularmente já percebeu que tenho um certo fascínio mórbido pela Coreia do Norte, um país que vive numa realidade paralela a este nosso mundo global e interligado. Tendo visto já uma dúzia de documentários que foram acompanhando conceituados jornalistas que conseguiram autorização para entrar no país ao longo dos últimos vinte anos, é fascinante perceber neste "Michael Palin in North Korea" não só a evolução brutal da sociedade norte-coreana nos últimos dois/três anos nas mais variadas vertentes - cultural, arquitectónica, tecnológica etc -, mas principalmente como foi preciso uma figura do mundo do entretenimento, um verdadeiro globe-trotter com experiência única nestas viagens ímpares - a sua viagem no início dos anos noventa do Polo Norte ao Polo Sul revolucionou o conceito na BBC - e não um jornalista para conseguir chegar não só a locais nunca antes filmados pelo "oeste", mas também para desarmar o discurso de guias, militares, alunos e professores com o charme próprio de um homem bom, sem preconceitos nem segundas intenções. Duas semanas a correr aeroportos novíssimos em várias cidades, completamente abandonados de tráfego mas repletos de serviços; projectos megalómanos de estâncias de férias, com resorts e praias maravilhosas; ruas repletas de cartazes de propaganda e polícias de trânsito, todas elas raparigas jovens de uma beleza rara, quais robôs que não falham um movimento. No fim, fica um certo encanto proibido em todo aquele respeito imposto pelo medo; mas onde há Palin, há esperança. E nunca a Coreia do Norte deixou mostrar tanto ao mundo como aqui.

terça-feira, abril 21, 2020

The Cable Guy (1996)

No auge da odisseia cómica despassarada de Jim Carrey na sua atípica carreira - ele que, na vida real, já provou várias vezes não bater com os parafusos todos -, "O Melga" surge como um objecto estranho. Não é bem uma comédia negra, não é bem uma comédia normal, não é bem Jim Carrey à solta na parvoíce como tão bem tinha provado domar e brilhar na pele de Ace Ventura ou Stanley Ipkiss. Na verdade, o filme de Ben Stiller - talvez o nome encerre nele mesmo a explicação - não sabe bem o que quer ser, tendo dificuldade em encontrar um tom que funcione, oscilando entre o ridículo e o psicótico quase sempre sem sucesso, tensão ou piada. E como Stiller nunca se foca em tornar esta personagem de Carrey num bicho concreto - inquietante ou divertido -, não admira que este tenha sido (e continue a ser) um dos filmes de Carrey mais ignorados e justamente desvalorizados.

segunda-feira, abril 20, 2020

Thor Wick em Bangladesh

domingo, abril 19, 2020

The Ultimate Warrior (1975)

Um 2012 distópico imaginado nos anos setenta, com dois gangs principais que lutam pelo poder numa Nova Iorque às moscas, culpa de inúmeras pragas que aniquilaram a população mundial. A comida é agora o bem mais raro e importante de todos e, por isso, um tipo chamado Cenoura rouba legumes a torto e a direito. Yul Brynner cheio de pinta nos minutos iniciais, qual lutador temível, que desilude cena após cena de acção num filme em constante e inexplicável queda. Isto porque tinha um realizador com estofo e histórico - Robert Clouse foi responsável por alguns dos mais memoráveis filmes de Bruce Lee - nas artes marciais e, além de Brynner, o intocável Max von Sydow no elenco. A história linear, como que escrita por uma criança, pouco tem a oferecer e o universo pós-apocalíptico apresenta um aspecto tão deslavado e vulgar, sem ponta de criatividade, que nunca entranha no espectador. Desilusão tremenda.

sábado, abril 18, 2020

Nas Nalgas do Mandarim - S07E06

sexta-feira, abril 17, 2020

Fantasy Island (2020)

Tiremos a Maggie Q. da equação e temos aqui um sério candidato para o prémio de elenco mais irritante da década, um episódio piloto de uma série intitulada "Casting Gone Wrong", onde Dave Bautista e Nicolas Cage escaparam por muito pouco, provando também eles como falhanços que todo o projecto, inspirado numa série de televisão dos anos setenta, esteve sempre entregue aos bichos. Não há ponta de terror, de suspense, de inteligência ou de imprevisibilidade; não há credibilidade nas personagens - Michael Peña como cabecilha daquilo tudo nem num spoof paródia desta Ilha da Fantasia funcionaria - nem qualquer rasgo nas suas histórias que evite que caiam num manto de imbecilidade tão enfadonho como irritante. Não há talento na execução técnica nem empenho dos guionistas. Tudo fácil e limpinho. E eu que tinha alguma consideração pelo selo Blumhouse.

quinta-feira, abril 16, 2020

Brian Dennehy (1938-2020)

quarta-feira, abril 15, 2020

You know his name, but not his past.

terça-feira, abril 14, 2020

Jaws: The Revenge (1987)

Ora então vamos ao plot de "Tubarão IV - A Vingança": a viúva do chefe Brody - descobrimos que este entretanto morreu de ataque cardíaco, isto porque não aceitou fazer um cameo e ser assassinado pelo tubarão no início do filme - acredita que existe um tubarão branco que marcou a sua família para a morte após o desaparecimento do filho mais novo nas mandíbulas de um. Segue então para as Bahamas com a família do filho mais velho, local paradisíaco de águas quentes, sem historial de existência de qualquer um destes bicharocos malvados. De avião. O piloto? Michael Caine. O que uma vez disse que apesar de nunca ter posto os olhos neste filme, viu bem a casa maravilhosa que construiu com o milhão e meio de dólares que recebeu por sete dias de filmagens nas Caraíbas. Voltando ao filme, o tubarão voodoo branco descobre mesmo a família Brody nas Bahamas e começa a atacá-los. Isto porque, claro, nenhum elemento da família consegue ficar longe da água, por mais assustados que estejam. O Michael Caine faz uma passagem baixa e assusta o tubarão. O Michael Caine amara um avião - não um hidroavião - junto ao barco onde a viúva do chefe Brody se encontrava sozinha numa luta desigual. O Michael Caine estoira dinheiro no casino e seduz mulheres. O Mario Van Peebles faz o que bem lhe apetece. O tubarão leva choques e morre às custas da viúva. O que é que vocês querem mais?

segunda-feira, abril 13, 2020

La Casa de Papel (P4/2020)

Não é fácil criar a dinâmica narrativa - por mais exagerada e disparatada que muitas vezes demonstre ser sem qualquer vergonha nisso - que "La Casa de Papel" criou, uma espécie de contrato com os espectadores que raramente os desilude, mesmo quando pouco ou nada avança em concreto na história de fundo, o assalto megalómano (mais um) ao Banco de Espanha. As personagens entranham-se em nós, repletas de debilidades e fraquezas que as humanizam, afastando-as daquele espectro de invencibilidade tão típico dos heróis que, verdade seja dita, aqui não o deveriam ser. A articulação com o passado continua a funcionar bem, não só contextualizando quase toda a acção como permitindo a personagens entretanto desaparecidas em combate - com especial destaque para Berlin - a oportunidade de continuarem bem perto do público. Palermo, Marselha, Bogotá e principalmente a inspectora Alicia Sierra - a polémica Najwa Nimri - revelam-se adições de luxo numa série de enorme sucesso e, por isso, sem fim à vista.

domingo, abril 12, 2020

Nalgas Flash Review: Sonic the Hedgehog

sábado, abril 11, 2020

Durante la tormenta (2018)

Interessantíssimo thriller sci-fi (minimalista) de Oriol Paulo, realizador catalão do não menos sensacional "Contratiempo". Efeito borboleta, viagens no tempo, uma catrefada de referências deliciosas à saga "Regresso ao Futuro" e, tudo somado, uma narrativa complexa com apontamentos em diversas folhas soltas que, no fim, resultam num delicioso origami, explicado passo a passo, reviravolta após reviravolta, com um sentido de oportunidade e encaixe entre camadas notável. Os espectadores não tombam nas curvas - como é costume quando o conceito envolve viagens no tempo com impacto na realidade - nem no arranque a meio gás e saem altamente recompensados, num filme pensado e realizado ao pormenor, interpretado por um elenco de excepção, com especial e merecido destaque para Adriana Ugarte, que flutua na perfeição entre a mulher alegre e a mãe em sofrimento. Oriol Paulo, tens a minha atenção eterna.

sexta-feira, abril 10, 2020

Ugarte

quinta-feira, abril 09, 2020

A Thousand Words (2012)

Esteve quatro anos arrumado numa gaveta devido ao divórcio entre a Dreamworks e a Paramount e, quando finalmente estreou nos EUA, revelou-se uma catástrofe tanto na bilheteira como na crítica. Tão grande que a estreia na Europa foi cancelada, Brian Robbins ("Hardball" e "The Perfect Score") nunca mais realizou nada e Eddie Murphy, bem, o Eddie Murphy só o ano passado conseguiu voltar com "Dolemite Is My Name". Este "Mil Palavras" está longe de ser a peste negra, mas é claramente um filme fora de época, daqueles que só funcionavam nos anos noventa, com uma mensagem bonita e espiritual sobre a vida envolta num conceito absurdo - o que não era necessariamente mau. Absurdo ao nível de "Liar Liar", mas sem o génio de Carey ou a irreverência da era dourada de Murphy. Para memória futura, a Kerry Washington vestida de Catwoman; despertei logo do sofá.

quarta-feira, abril 08, 2020

The Meg (2018)

Existem dias em que acordo sem saber qual é a questão que me atormenta; já a resposta, essa, não tenho dúvidas: é o Jason Statham num daqueles filmes de acção sem grande nexo, repleto de adrenalina, pancadaria da boa, miúdas jeitosas e cenas tão ousadas quanto patetas que resolvem qualquer dia menos bom. Uma daquelas combinações perfeitas elaboradas no céu por um anjo retardado, um teste ao existencialismo que foi deixado em branco e, por isso mesmo, obteve pontuação máxima. "The Meg", não dando margem a Statham para brilhar onde ele mais reluz, no corpo a corpo e nas ruas, desilude um pouco nesse capítulo mais másculo - o que é que vocês querem, o cérebro é apenas o meu segundo órgão favorito - mas compensa com cientistas/biólogas de primeira linha, um ou outro tubarão do demónio que come baleias ao pequeno-almoço e... bem, desisto. Até o Eusébio falhava de vez em quando à boca da baliza e sempre foi uma oportunidade que tive para usar uma mão-cheia de citações de uma série de livros do Woody Allen que ando a ler nesta quarentena.

terça-feira, abril 07, 2020

Li Bangbang

segunda-feira, abril 06, 2020

A Mãe é que Sabe (2016)

"A Mãe é que Sabe" revela-se uma espécie rara de filme dentro do panorama nacional: um sci-fi intimista e familiar em torno do efeito borboleta, um mundo repleto de "what ifs" em constante mutação, do peso das nossas (in)decisões, dos segundos que definem uma vida, da procura patética pelo perfeito que não existe. Acolhedor e desconcertante na sua simplicidade, esta primeira longa-metragem do promissor realizador português Nuno Rocha - algumas das suas curtas-metragens de início de carreira estão disponíveis online, com especial destaque para "Vicky and Sam" - é uma belíssima ceia em bom português, com tudo o que nos distingue e caracteriza em personagens tão díspares como o labrego do primo Fernando ou o patriarca Adelino, ferrenho adepto da bola que não sabe falar de mais nada à mesa que não do seu Belenenses. Elenco seguríssimo, realização virtuosa que permite aos malabarismos interdimensionais brilhar sem chocar ou ridicularizar a narrativa e uma série de mensagens - ou serão lições de vida? - que enchem o coração ao mesmo tempo que nos esvaziam a alma. Aceitemos o nosso passado, por mais imperfeito que seja, para aproveitar ao máximo o presente e o futuro.

domingo, abril 05, 2020

Nas Nalgas do Mandarim - S07E05

sábado, abril 04, 2020

The Godfather (1972)

"Acredito na América (...) mas para justiça temos de dirigir-nos a Don Corleone". Exploração mítica de uma família envolta em sangue e ambição, um filme que marcou de forma indelével a história do cinema, qual épico de uma era norte-americana transformado numa ópera gangster de tecnicismo ousado, sequências imponentes (a famosa cabeça de cavalo, os assassinatos, as inesquecíveis frases de Brando, etc) e elenco do outro mundo (Pacino, Duvall, Cazale, entre outros). Obrigatório para qualquer cinéfilo perceber onde nasceram tantos pilares de uma arte e de uma indústria, ao mesmo tempo que se deixa envolver na melancólica banda sonora de Nino Rota.

sexta-feira, abril 03, 2020

Polícia de Palmo e Meio

quinta-feira, abril 02, 2020

Dog Day Afternoon (1975)

A história verídica que dá vida a "Um Dia de Cão" acaba por se tornar o elemento chave que potencia quase todo o interesse em torno de "Um Dia de Cão", bem como o factor que limita - e muito - a narrativa a um arco que, para se manter a par da história, não tinha outra escapatória possível. Al Pacino no seu auge - tinha acabado de filmar a sequela de "O Padrinho" -, numa personagem num estado de ansiedade quase histérico que encarna de modo irrepreensível. Sidney Lumet nos comandos daquele que se viria a tornar o filme exemplo para todos os assaltos que correm mal, um retrato envolvente de uma sociedade à beira do colapso - "Attica, Attica" gritvam as pessoas na rua, como que a relembrar a rebelião prisional que anos antes tirou a vida a trinta e nove pessoas em Nova Iorque -, de uma cidade tão complexa quanto sufocante. Um golpe como celebração da contracultura, que apenas peca por um final insonso e anticlimático, claramente circunscrito pela realidade.

quarta-feira, abril 01, 2020