terça-feira, outubro 30, 2018

Bohemian Rhapsody (2018)

A certa altura de "Bohemian Rhapsody", quando um muito bem disfarçado Mike Myers arrasa com o tema que dá nome a esta biografia cinéfila dos Queen - e que serviu de mote para o arranque do seu "Wayne's World" -, Freddie Mercury defende que as "fórmulas são más" e que a sua banda quer inovar, romper com o esperado, fazer algo nunca antes feito. Algo completamente ignorado por quem orquestrou este projecto amaldiçoado durante quase uma década, com várias escolhas confirmadas e canceladas para elenco e realização, culpa de um controlo criativo excessivo por parte de Brian May e companhia. Para quê arriscar quando não há como falhar com uma banda-sonora irresistível e uma história de vida que funciona pela simples sugestão em cena? Para quê enfrentar os demónios de forma suja e paranóica quando a famigerada fórmula quase romântica do bem e do mal, do amor e do ódio, chega? E assim se fez, uma biografia dos Queen disfarçada como sendo de Mercury - mas que nunca o é, ignorando ou desvalorizando a sua carreira a solo e todos os momentos em que se afastou da banda. E fica a ilusão do que seria se um realizador como David Fincher fizesse de Mercury o seu cisne negro.

segunda-feira, outubro 29, 2018

Nação de cordeiros

domingo, outubro 28, 2018

Take 49 - 10 Anos

Dez Anos de Take, cinquenta edições (da Take 0 à 49), trinta e seis (2-37) delas comigo como editor. Muitas histórias para mais tarde recordar: os desafios de edição, a recruta de colaboradores, as esperanças e os obstáculos, os TCN, as quedas e os renascimentos, os incontáveis almoços no Saldanha. A Take Cinema Magazine continua em boas mãos e certamente andará por cá, mais ou menos activa, daqui a dez anos. Porque quem corre por gosto não cansa. Parabéns a todos os que fazem ou um dia fizeram parte dela; esta história foi escrita por todos vós.

sábado, outubro 27, 2018

2015: O Despertar da Fúria

No ano em que os Estados Unidos e Cuba reataram relações cinco décadas passadas da invasão da Baía dos Porcos, Charlie Hebdo e Germanwings fizeram capas em todo o mundo pelas piores razões e David Letterman retirou-se do Late Show da CBS ao fim de trinta e três anos de entrevistas e gargalhadas, nas salas de cinema muitos foram os sucessos, vinte e nove para ser mais exacto, que só nos EUA amealharam mais de cem milhões de dólares na bilheteira. Entre eles "Spectre", "The Martian", "San Andreas", "Furious 7", "Rogue Nation" ou "Jurassic World", filmes que não voltarão a ser referidos daqui em diante; porque dinheiro não é sinónimo obrigatório de qualidade.

Em "Raiders!: The Story of the Greatest Fan Film Ever Made", três rapazes de onze anos decidem recriar "Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida" cena por cena, recorrendo a qualquer objecto ou cenário que tenham perto de casa; trinta e cinco anos depois (sim, leram bem, trinta e cinco!), finalmente terminam aquele que já foi considerado o "fan film" mais famoso do planeta quando Eli Roth descobriu uma cassete a circular na universidade com uma versão incompleta e apresentou-a ao mundo em alguns festivais de cinema de pequena dimensão. Mas aqui, neste documentário que mostra como toda esta homenagem surgiu, muito mais importante do que a adaptação caseira do clássico de Spielberg, é absorver o desenrolar das relações entre o trio, a forma como o filme sempre os uniu e protegeu do mundo exterior, dos divórcios dos pais, da vida complicada que todos tinham. E como, com o crescimento, as namoradas, os quinze segundos de fama, as drogas e tudo o mais, três amigos quase se odiaram de morte.

Festim para os olhos foi "Sicario", dono e senhor de uma cinematografia de excelência onde cada plano, cada sequência de acção ou introspecção, perto ou longe, de dia ou de noite, no interior de um túnel ou no meio de um deserto, é filmada e pensada ao mais ínfimo pormenor; um elenco todo ele irrepreensível, de Blunt a Brolin, onde o magnânimo Del Toro consegue, ainda assim, sobressair graças ao infinito imenso que é o seu olhar frívolo. Um possante exemplo da beleza do cinema enquanto arte visual.

Numa faceta mais independente, o que dizer de "Kung Fury"? Minha nossa senhora. Dinossauros que falam, um Hitler paneleirote com jeito para as artes marciais, o Thor, o Triceracop (sim, um polícia metade humano metade dinossauro), a Barbarianna e a Katana. Um Kung Fury cheio de estilo - mau actor que até dói - e uma banda sonora absolutamente irresistível. Uma curta-metragem tão ridícula que se torna deliciosa, um mash-up perfeito do cinema de acção, ficção científica e artes marciais dos anos oitenta, numa produção financiada pelo público através do Kickstarter que acabou a criar burburinho no Festival de Cannes e, surpresa das surpresas, a merecer uma adaptação a videojogo e uma sequela. Entretenimento rasca repleto de one-liners, aspecto muita foleiro e interferências típicas dos VHS. Tão mau que é bom ou tão bom que é mau, é amor puro - e, logo, tolo - à cinefilia. E ainda "Turbo Kid", provavelmente o filme pós-apocalíptico mais naif cool de sempre, uma ode encantadora ao cinema underground de ficção-científica dos anos oitenta.

Num equilíbrio notável entre os factos improváveis de uma suspeição pavorosa e as razões prováveis de uma paranóia com origens familiares traumáticas, chegou-nos também "The Invitation", uma obra que sabe queimar lentamente os seus trunfos, vivendo e alimentando-se da dúvida constante, enquanto deixa o semi-desconhecido elenco deambular entre comportamentos normais e momentos bizarros. Na poesia do ridículo, "Ele Está de Volta" parte de um pressuposto tão simples quanto polémico e audacioso: e se Hitler, como que por magia, voltasse à Alemanha dos dias de hoje? Um país repleto de turcos, programas estranhos nas televisões, miúdos com camisolas do Cristiano Ronaldo e em que todos têm acesso a uma tecnologia fantástica chamada... Google. Uma sátira tão deliciosa quanto impetuosa, que deambula entre um estilo Boratesco e um registo ficcionado do Mein Kampf, que num tom jocoso aborda uma mão cheia de problemáticas sociais e políticas que a Alemanha, em particular, e a União Europeia, em geral, enfrentam nos dias que correm. Duas cenas para dificilmente esquecer? Hitler a ser espancado por neo-nazis e a criação da sua conta de e-mail. O fim da picada? Quando Hitler dá cabo de um cão. Assim anda o mundo.

Não nos esquecemos, claro, do grande vencedor dos Óscares, "O Caso Spotlight", um filme de uma importância extrema por duas razões primordiais: primeiro, relembra que o jornalismo não pode nunca perder a sua faceta de utilidade e serviço público em prol do negócio, das metamorfoses das redacções, das necessidades do momento, da falta de disponibilidade financeira ou pessoal para permitir investigações pertinentes e profundas que custam tempo e, consequentemente, dinheiro. Porque o jornalismo deve, mais do que nunca, servir como força em alerta constante para descortinar e revelar qualquer ilegalidade ou legalidade imoral que possa ter sido cometida longe dos olhos da justiça - ou mesmo perto dela, caso esteja corrompida. Em segundo lugar, porque recorda - ou apresenta, aos mais distraídos - a podridão que reina na mais poderosa e mafiosa das instituições mundiais: a igreja católica. Porque não se trata de um caso em específico, mas de um fenómeno.

Para terminar, os dois grandes momentos cinéfilos de 2015: "Star Wars: The Force Awakens", meio reboot, meio reciclagem da fita que deu início a tudo, o sétimo episódio galáctico de Han Solo, Luke Skywalker, Chewbacca e companhia revitaliza uma saga cinematográfica histórica para novas gerações, conseguindo ainda assim agradar os fãs velhotes que olham agora para o futuro com esperança. J.J. Abrams e a Disney infantilizam um pouco os conceitos outrora complexos, imperfeitos (no melhor dos sentidos), ambiciosos e visionários de Lucas, tornando a chancela "Star Wars" acessível a toda a família. Uma espécie de Harry Potter no espaço, um hábil e sólido recomeço, ainda assim longe de ser a obra-prima aguardada e anunciada.

E, por fim, o filmalhão não só do ano, mas da década. "Mad Max: Fury Road", uma orgia de acção contínua, que nunca pára para respirar, num mundo tão desconcertantemente surrealista e detalhado que parece palpável e genuíno. Um extravagante apocalipse de energia e movimento, fantasticamente maníaco, qual western sobre rodas repleto de personagens tão instantâneas quanto expressivas. Um poema de cores blasonadoras, de rimas excepcionais com o passado, de nome Max mas que, qual reviravolta inesperada, poderia muito bem intitular-se Furiosa; é ela quem comanda as prosas da sobrevivência, dá sentido e propósito à hecatombe ecológica e serve de ícone à revolta contra o massacre moral de princípios e valores humanos que corrompe - ao mesmo tempo que o engrandece - o universo criado por George Miller. Que belíssima caminhada de redenção cinéfila.

Nota: Artigo publicado na Take 49

sexta-feira, outubro 26, 2018

Freddie Mercury's Final Days

quinta-feira, outubro 25, 2018

The Haunting of Theodora

quarta-feira, outubro 24, 2018

Como o cinema conta uma história

terça-feira, outubro 23, 2018

Religulous (2008)

"A verdade é que a religião tem de morrer para que o Homem possa viver. O tempo começa a escassear para podermos permitir que as decisões mais importantes sejam tomadas por pessoas religiosas, irracionalistas; por aqueles que conduzem o governo não fazendo uso de uma bússola, mas do equivalente a ler as entranhas de uma galinha. George Bush rezou muito pelo Iraque, mas não aprendeu muito sobre o país. A fé significa fazer da ausência de pensamento uma virtude; não é motivo de orgulho. E aqueles que pregam a fé e permitem a sua ascensão são, na realidade, esclavagistas intelectuais que mantêm a humanidade manietada por fantasias e despautérios que geraram e justificaram muita loucura e destruição. A religião é perigosa porque permite que seres humanos, que não têm todas as respostas, pensem que as têm. E aqueles que vos disserem que sabem o que acontece depois da morte, garanto-vos que não sabem. Como posso ter tanta certeza? Porque não sei. E vocês não têm poderes mentais que eu não tenha. A única atitude apropriada para o Homem em relação à grande questão não é a certeza arrogante que é apanágio da religião, mas sim a dúvida. A dúvida é humilde. E é isso que nós precisamos de ser, tendo em conta que a História da humanidade é uma sucessão de erros e enganos. É por isso que as pessoas racionais, anti-religiosas, devem perder a timidez e começar a fazer-se ouvir. E aqueles que se consideram religiosos moderados devem olhar para o espelho e perceber que o consolo e conforto que a religião lhes proporciona tem um preço muito elevado." Ámen Bill Maher.

segunda-feira, outubro 22, 2018

É uma peruca, não é John?

domingo, outubro 21, 2018

The Death of FilmStruck

"I know streaming has its advantages and conveniences, and no one knows how hard it is to store all those DVD and Blu-rays better than a film nerd who lives in a cramped New York City home like myself. The disadvantages of streaming, though, are too often overlooked. Instant access is fantastic, and a wide and varied selection of titles is wonderful. But if all that access and selection exists at the mercy of corporate managers who only care about their bottom line (and not even just profit, but massive profits the likes of which a niche concept like FilmStruck will never achieve) they are worth less in the long run than a pile of Betamax tapes. At least with the Betamax tapes, if you can find a player, you could watch them." [ScreenCrush]

sábado, outubro 20, 2018

Taken 4: Snow Patrol

sexta-feira, outubro 19, 2018

Who Shot the Sheriff (2018)

Documentário Netflix que se foca numa tentativa de assassinato sofrida por Bob Marley anos antes da sua morte como ponto de partida para a análise do confronto político e social que envolveu a Jamaica no final da década de setenta. E essa talvez seja logo a primeira grande desilusão de quem não estava familiarizado com a morte da lenda do Reggae: não, este não é um crime-doc sobre quem matou Bob Marley, que padeceu vítima de cancro em 1981. Mais: "Who Shot the Sheriff" nem sequer dá muita atenção à arte e engenho criativo de Marley enquanto músico mas sim destaque a toda a sua vertente pacificadora, social e cultural enquanto ícone do movimento rastafári. Expectativas trocadas, sabor agridoce.

quinta-feira, outubro 18, 2018

Black Swan meets Lady Gaga

quarta-feira, outubro 17, 2018

terça-feira, outubro 16, 2018

Como filmar um susto

segunda-feira, outubro 15, 2018

The One I Love (2014)

Um cenário complexo, qual aberração cósmica, dá asas a um sci-fi indie em torno da complexidade aberrante, não cósmica mas por vezes cómica, do amor matrimonial. Conceito original, repleto de potencial, que se desenrola de forma tão misteriosa quanto cativante e criativa. Mark Duplass volta a brilhar naquele registo tão próprio de um "eu" qualquer, aqui suportado em plena harmonia pela agora tão em voga Elizabeth Moss. Eis o desespero quase idiossincrático do amor, da chama que se apaga, da faísca que nem sempre chega; aqui com espaço para reaparecer em versões melhoradas de cada um deles. Será que chega?

domingo, outubro 14, 2018

sábado, outubro 13, 2018

Woody Allen Infographic

sexta-feira, outubro 12, 2018

Escape Cube

quinta-feira, outubro 11, 2018

Anacleto: Agente secreto (2015)

Algures um protótipo entre James Bond e Johnny English, Anacleto revela-se mais uma experiência da multidisciplinar e ousada indústria cinematográfica espanhola, sempre pronta a arriscar nestes moldes de "Mortadelo y Filemón", "Torrente" e outros tantos que misturam comédia e acção num produto nem sempre consistente mas várias vezes próspero em momentos e diálogos divertidos. Imanol Arias convence, a narrativa nem tanto e aquele que provavelmente foi orquestrado enquanto pontapé de saída de uma saga que se esperava longa acaba por cair no esquecimento e na sombra dos "Kingsman" desta vida.

quarta-feira, outubro 10, 2018

Máscaras

terça-feira, outubro 09, 2018

14 anos de Cinema Notebook

segunda-feira, outubro 08, 2018

Paulson, Bullock & Malkovich

domingo, outubro 07, 2018

Zombies & Aliens

sábado, outubro 06, 2018

Arkin & Douglas

sexta-feira, outubro 05, 2018

Safety Not Guaranteed (2012)

Comédia romântica repleta de charme, num tom tão intimista e minimalista quanto divertido e insólito. Um maluquinho - ou serão todos os outros que não o sabem que são - e uma jornalista estagiária em busca de uma história peculiar criam uma relação única, repleta de química graças à entrega do sempre irrepreensível Mark Duplass e da singular Aubrey Plaza, que primeiro estranha-se e depois entranha-se. Ah, e viagens no tempo. Que maravilha.

quinta-feira, outubro 04, 2018

One baby driver, two minds

quarta-feira, outubro 03, 2018

Anda a bater a saudade

terça-feira, outubro 02, 2018

The Truman Show - Rare TV Mockumentary

segunda-feira, outubro 01, 2018

The Truman Show (1998)

A superioridade do conceito é tão inegável quanto visionária - tanto assim o é que os reality shows acabariam por moldar a televisão e o quotidiano de milhões de espectadores nos anos que se seguiram ao filme de Peter Weir. Mas a sua complexidade aliada ao persistir da ilusão de Truman num sem número de rotinas desnecessárias que o envolvem - os velhotes dos seguros que o empurram contra a publicidade, os extras sempre com os mesmos movimentos, etc. etc. - acabam por ferir a construção da concepção em prol do enternecedor desfecho moral de fábula, qual charada sem mistério nem problemas, apenas soluções. Com salpicos de paranóia e negridão, esta "vida em directo" poderia ter sido inesquecível. Assim, muito mais ousado na teoria do que na prática, soube a pouco.