Sendo um dos nomes mais promissores da nova vaga cinematográfica independente e tendo já provado ser exímio na difícil arte de criar atmosferas sufocantes com poucos recursos, Marc Forster foi convidado para realizar
Monster’s Ball, uma obra cujo guião andava à circular à meia década entre vários realizadores de renome, mas que, por uma razão ou por outra – quase todas relacionadas com problemas financeiros do estúdio que detinha os direitos da história -, acabava sempre por ser adiada por problemas alheios à qualidade do argumento. Forster era “mão-de-obra” barata e os baixos cinco milhões de dólares de orçamento apenas pareciam um oásis a alguém tão necessitado de crescer e aparecer no ramo como ele. Com um elenco escolhido a dedo pelos produtores e não por Forster, Monster’s Ball foi, mesmo assim, graças ao talento de Forster e Halle Berry, um dos mais improváveis sucessos entre a crítica de 2001. Crua e inconvencional, a fita valeu à actriz norte-americana de origem africana um Óscar da Academia e a Forster uma nomeação para Melhor Realizador nos Ursos de Ouro de Berlim. De um momento para o outro, a caixa de correio do jovem realizador estava inundada: Forster já podia escolher o que queria e não trabalhar com o que tinha.
O alarido foi imenso, mas Forster não tinha pressa. Com tempo, anunciou que voltaria à ribalta com
À Procura da Terra do Nunca, uma fábula baseada na vida J.M.Barrie e nas suas motivações para escrever aquela que, ainda hoje, é uma das personagens mais lidas em todo o mundo: Peter Pan. Com Johnny Depp e Kate Winslet, Finding Neverland é pura magia cinematográfica, salteada com momentos únicos de paixão inocente e imaculada, numa calmaria bela que nunca se transforma em apatia. Poucas dúvidas restavam da aptidão notável de Forster para a sétima arte. Depois vieram
Stay – Entre a Vida e a Morte, um thriller psicótico, difícil de recomendar pelo seu estilo narrativo descuidado, quase “Lynchiano”, que oferece muitas soluções mas nenhuma explicação plausível para o que apresenta, e
Contado Ninguém Acredita, na minha opinião, a sua obra mais relaxada e conseguida. Com um Will Ferrell afastado do seu registo normal, Forster elabora uma divertida história que envolve a narração inédita e ímpar da vida da personagem principal... na sua própria cabeça, com uma precisão assustadora. Por fim,
O Menino de Cabul, adaptação de um best-seller de Khaled Hosseini e considerado por dois dos mais respeitados críticos cinematográficos do mundo – Roger Ebert do Chicago Sun-Times e Jeffrey Lions, da NBC – como um “filme magnífico”, “seguramente um dos melhores da história do cinema”. Para a revista norte-americana TIME, The Kite Runner “permite-nos acreditar que talvez exista justiça no mundo”. E se houver, o próximo James Bond será um blockbuster portentoso. Depois de rejeitar um convite para dirigir uma das sequelas de Harry Potter, Forster não pensou duas vezes quando lhe ofereceram a hipótese de ser ele o responsável por
Quantum of Solace. Com um Daniel Craig soberbo no papel do espião mais charmoso do universo e a força de uma prequela surpreendente, não há razões para desconfiar do vigésimo segundo capítulo da saga Bond. Nem mesmo pelo seu estranho título.
N.d.r: Artigo publicado em Setembro na Revista Take.