domingo, maio 31, 2020

Los ojos de Julia (2010)

Há tensão, há atmosfera, há até alguma crueza inesperada em várias cenas - como a da miúda na parede da cozinha - mas, na verdade, o filme de Guillem Morales, co-escrito pelo fenomenal Oriol Paulo, quase nunca surpreende. Depois de um arranque convincente repleto de mistério, a narrativa começa a arrastar-se, cliché atrás de cliché, perdendo força e energia após cada revelação insípida sem grande imaginação para fugir ao óbvio. Tecnicamente irrepreensível - com destaque para a homenagem ao "Silêncio dos Inocentes" -, Belén Rueda sempre pronta a finalizar na área mas, e que grande mas, uma equipa de ressaca, sem chuteiras, não chega para vencer a este nível.

sábado, maio 30, 2020

Nas Nalgas do Mandarim - S07E08

sexta-feira, maio 29, 2020

Coffee & Kareem (2020)

"Arma Mortífera" versão Nickelodeon fora-de-horas, um misto de entretenimento juvenil apimentado com piadas homofóbicas e racistas gratuitas, violência gráfica moldada para a gargalhada - a granada que desfaz em mil pedaços uma personagem, os tiroteios com Ed Helms e câmara lenta à mistura, etc. - e uma mão cheia de elementos tradicionais dos saudosos buddy cop movies dos anos oitenta e noventa, tão previsíveis quanto aprazíveis. Tudo somado, nada que fique para memória futura, mas também nada que faça muito estrago ao ego e à disposição em hora e meia que passa num instante. Pena que, ao contrário da opinião da maioria, aquele olhar vazio da Betty Gilpin continue sem me convencer.

quinta-feira, maio 28, 2020

Paul Blart: White Supremacist

quarta-feira, maio 27, 2020

Russkiy kovcheg (2002)

Tecnicamente impressionante - um único longo take de hora e meia que envolveu dois mil actores e três orquestras -, narrativa e pedagogicamente uma completa nulidade para quem não tiver conhecimentos e conceitos pré-estabelecidos de momentos e figuras importantes específicas da história russa como, por exemplo, da imperatriz Catarina II, dos czares Nicolau I e II ou do cerco de três anos a Leninegrado. Guarda-roupa e espaços visualmente arrebatadores - o Palácio de Inverno do Hermitage de São Petersburgo com mais de duzentos e trinta mil metros quadrados - que são um mimo para os olhos mas que, entre um narrador fantasma e um marquês que quebra constantemente a quarta parede, servem de muito pouco para qualquer leigo na matéria. Um pouco como se metêssemos os russos no mesmo tipo de encenação no Palácio Nacional da Ajuda: aposto que ficariam frustrados de estar tanto tempo à nora com o período pombalino e o reinado de D. Luís. Sem sequer saberem do que se tratava.

terça-feira, maio 26, 2020

Blackapocalypse Now

segunda-feira, maio 25, 2020

Hard Ticket to Hawaii (1987)

Uma valente parzorro de mamas (naturais, nada de silicones) a arrancar dá o mote para o que vem de seguida: um filme com todos os elementos típicos de Andy Sidaris, diversão em estado animalesco puro, qual sonho molhado de acção e erotismo soft, sem regras, sem limites, sem qualquer tipo de coerência narrativa, sem sentido nem necessidade dele. Bonecas insufláveis e cobras gigantescas despachadas a tiro de torpedo, vilões a jogarem frisbee na praia enquanto seguram metralhadoras, missões secretas entregues dentro de sanduiches, sonoplastia de videojogo, créditos iniciais e finais em papéis impressos colados em caixotes de armazém e maminhas, muitas maminhas, cena após cena, porque todos sabemos que as mulheres - e os homens - pensam melhor quando estas estão em liberdade. Como não amar Andy Sidaris?

domingo, maio 24, 2020

VHS vs Nalgas @ Chick Flick Arena

sábado, maio 23, 2020

Strange Days (1995)

Kathryn Bigelow não tem uma carreira vasta, mas sempre que chamada a filmar cenas e sequências completas de acção, fê-lo como poucos: estilo, energia e uma abordagem técnica revigorante que emprega, como neste caso, uma espécie de first-person shooter a saltar entre prédios ou perseguições automóveis que acabam no fundo do mar. Ficássemos por aí e este sci-fi cyberpunk de gatilho rápido e universo tão complexo quanto palpável teria sido um sucesso ímpar na memória de gerações, um pouco como aconteceu com o êxito anterior de Bigelow, "Point Break". Mas, infelizmente, a narrativa, o mistério policial que o exuberante papel de embrulho tapa revela-se demasiado simplista e formulaico, encurralado num destino previsível e esperado que nem a fibra da Angela Bassett, a vontade do Ralph Fiennes, o peito da Juliette Lewis ou o cabelo do Tom Sizemore - nunca confiem num tipo com aquela gadelha - conseguem evitar. Sobrevivem no tempo as músicas dos Skunk Anansie e a caótica passagem de ano no final, "estranhos prazeres" num visionamento de paladar agridoce.

sexta-feira, maio 22, 2020

Road Raging with Crowe

quinta-feira, maio 21, 2020

White Lines (S1/2020)

A mais recente série de Álex Pina, responsável por um dos maiores e mais inesperados hits da Netflix ("La Casa de Papel"), passa-se em Ibiza e resulta no mesmo misto de emoções e expectativas de quem lá vai pela primeira vez: uma pessoa planeia tudo e viaja cheia de vontade, diverte-se à brava dois ou três dias (episódios), conhece duas ou três personagens que deixam marca (Boxer, Zoe e Axel), faz uma série de asneiras que não devia fazer (histórias paralelas com drogas, orgias, retiros zen e o chouriço do Paulo Pires, um grande chouriço diga-se, tudo enfiado na narrativa para ganhar tempo) e acaba por voltar a casa mais arrependido do que satisfeito, com um peso na consciência difícil de lidar. Peso que advém de um final decepcionante, onde a grande revelação é feita por confissão, relações e conexões criadas pelo caminho são completamente abandonadas e esquecidas (o casamento de Zoe, a relação com a filha, a paixão com Boxer, as relações familiares dos Calafat, etc.) à espera de uma possível segunda temporada que, na verdade, pouco sentido fará se o principal objectivo for seguir a linha do narcotráfico induzida pela cena final entre Marcus e Andreu. Para a memória fica um papelaço do nosso Nuno Lopes, que certamente lhe abrirá muitas portas (e corações) a nível internacional.

quarta-feira, maio 20, 2020

Fred Willard (1933-2020)

terça-feira, maio 19, 2020

Anatomy of a Murder (1959)

"You need an excuse, not a justification. There is no justification for walking into a bar and shooting an unarmed man five times. It’s a crime of the most serious order — the intentional, premeditated and deliberate killing of another human being. The elements are there: the actus reus and the mens rea, the guilty act and the guilty mind. You’re going to jail, and for a long time—unless you can find an excuse. Not a justification". Um olhar cínico sobre o sistema legal norte-americano, sem twists, sem flashbacks, sem clichés do género, sem artimanhas narrativas fáceis e comuns que manipulem o nosso julgamento, deixando cair rapidamente a sua faceta de thriller para aprimorar e valorizar uma excursão ambígua e provocadora pelos caminhos da justiça, tanto legal como moral. A certa altura dos seus rapidíssimos cento e sessenta minutos, deixamos de saber se torcemos por Stewart ou Scott - que elenco maravilhoso -, se Gazzara merece ou não absolvição, se o destino de um homem deve estar mesmo nas mãos de doze cidadãos tão diferentes quanto provavelmente inaptos a decidirem o que quer que seja com pressupostos legais. Porque são plasticina nas mãos de quem acusa ou defende, parte do circo que se forma em torno de um julgamento aparentemente óbvio, de um crime confessado e presenciado por inúmeras testemunhas. Juntem a tudo isto a banda sonora - e o cameo - de Duke Ellington, os créditos iniciais sob a alçada de Saul Bass, uma realização repleta de pormenores deliciosos de Otto Preminger - como a cena de tribunal em que Scott tapa propositadamente a linha de visão de Stewart - e, não é demais voltar a frisar, um James Stewart fenomenal (naquela que foi a última nomeação aos Óscares da sua carreira) e temos neste clássico do cinema um obra muito mais complexa do que aquilo que aparenta, um retrato em torno da ética da advocacia com muito mais perguntas do que respostas, tão actual há sessenta anos como agora.

segunda-feira, maio 18, 2020

Nas Nalgas? Mais Nisso.

domingo, maio 17, 2020

À bout de souffle (1960)

"Não há defeito maior que a cobardia", diz a certa altura a personagem de Jean-Paul Belmondo entre cigarros, num dos muitos carros que rouba durante o filme. Inspirado nessa mensagem esquecida da obra de estreia de Jean-Luc Godard, cabe-me segui-la na maior das honestidades: muita parra e pouca uva, uma fita sobrevalorizada pelo tempo, pela evolução de um cineasta ímpar que marcou uma nova era no cinema europeu. Orçamento e equipa reduzida, "desenrascanço" técnico constante, uma montagem que reinventou a arte do raccord (jumpcuts), tudo trunfos e méritos habitualmente atribuídos a este jogo de póquer que é "O Acossado"; os mesmos que uso para, em resposta ao raise da mesa, fazer all-in para desmascarar tamanho bluff escondido atrás de planos absurdos, uma relação infantil e burlesca entre criminoso francês e paixoneta norte-americana, de um romantismo primitivo que todos consideraram vanguardista. O movimento de polegar nos lábios até à exaustão, como se uma ou outra vez não fosse suficiente para perceber que Poiccard sonhava ser Bogart - e, por vias das dúvidas, toca-o a fazer em frente a uma foto do galã, na entrada de um cinema. Um tubo de ensaio para as vitórias que se seguiram, mas nada mais do que isso.

sábado, maio 16, 2020

Jerry Seinfeld: 23 Hours to Kill (2020)

Desilusão. Uma hora sem rasgos, sem sair da zona de conforto, reciclando tópicos usados incontáveis vezes no género - o casamento ou a nossa dependência tecnológica -, quase sempre de forma simples, previsível e, a espaços, enfadonha. Qualquer episódio de vinte minutos de "Seinfeld" vale mais que esta hora arrancada a ferros pela Netflix. E o salto do helicóptero, completamente descontextualizado, sem razão nem qualquer cariz humorístico associado, um bom exemplo de que tudo isto não passou de uma brincadeirinha despachada de mau gosto enrolada em papel de embrulho pelo departamento de marketing. É o que é, goste Jerry da expressão ou não.

sexta-feira, maio 15, 2020

quinta-feira, maio 14, 2020

Double Indemnity (1944)

O poder de uma mulher sedutora sobre qualquer homem que não o aguente dentro das calças. Narrado pelo assassino, verdadeiro anti-herói, num misto de reportagem e confissão, num relato que acompanha o triunfo do mal sobre o bem, do sexo e do dinheiro sobre a decência e a virtude. "Pagos a Dobrar" é nada mais que uma obra trágica em constante inversão, do profissional de seguros que se transforma em vigarista, da mulher infeliz e injustiçada que afinal de contas é uma manipuladora implacável. Os perigos e as tentações do sonho de vida americano nas lentes de Billy Wilder, a um ritmo irrepreensível, onde a personagem-chave acaba por ser a mais inesperada de todas: Mr. Keys (Edward G. Robinson), um chato de um analista obsessivo, repleto de estatísticas, que desconstrói o esquema (im)perfeito de Neff, asfixiando-o dia após dia. Uma lenta descida ao inferno que acaba numa espécie de redenção encurralada, ao bom estilo sórdido de Preminger ou Fritz Lang.

quarta-feira, maio 13, 2020

Non-Stop (2014)

A dupla Jaume Collet-Serra e Liam Neeson está para o cinema como Maradona e Careca estiveram para o futebol. À primeira vista, não tinham nada para dar certo - a rivalidade entre brasileiros e argentinos, uma equipa do sul de Itália que nunca tinha sido campeã, os problemas pessoais fora das quatro linhas, etc. - mas bastaram meia dúzia de minutos para perceber que, juntos, seriam mortíferos. E assim é com o catalão, que deixa (e bem) tudo nas costas do irrepreensível Neeson, garatindo-lhe apenas espaço, ângulos e planos para brilhar e finalizar qualquer thriller de premissa vulgar num irresistível one-man show de face e voz pesada. Encurralados num avião, num comboio, numa noite ou até, se me permitirem o oxímoro, no conhecido desconhecido, Collet-Serra e Neeson são mais do que suficientes para levantar a Taça UEFA. A Liga dos Campeões, essa, deixemos para o Keanu Reeves e companhia.

terça-feira, maio 12, 2020

Jerry Stiller (1927-2020)

segunda-feira, maio 11, 2020

North by Northwest (1959)

"Intriga Internacional" começa por ser um caso clássico de espionagem ligado a uma confusão de identidades. Cary Grant é raptado na presunção de ser Kaplan, um agente fictício criado pelo FBI para confundir Vandamm, um criminoso apaixonado pela belíssima Eve - a quase centenária Eva Marie Saint, que ainda está aí para as curvas -, ela sim uma agente infiltrada com a missão de encontrar o meio com que o vilão descobre tantos segredos de estado, um verdadeiro MacGuffin revelado apenas perto do fim. Tudo o que se segue é uma rápida e cativante perseguição por alguns dos mais icónicos cenários norte-americanos, de Nova Iorque ao Monte Rushmore, com o charme inimitável de Grant e a astúcia narrativa de Hitchcock, naquele que é um dos thrillers mais bem humorados da sua vastíssima carreira. Sem qualquer pudor da desenvergonhada tensão sexual presente no constante jogo duplo, de incertezas, entre Eva e Grant, Hitchcock aproveita ainda a embalagem de claramente se ter divertido à grande neste projecto para criar algumas das sequências de acção mais memoráveis da década de cinquenta, com especial destaque para o choque da avioneta e o duelo final nas cabeças esculpidas de Washington, Jefferson, Roosevelt e Lincoln.

domingo, maio 10, 2020

I Know Jake Gyllenhaal Is Going to Fuck My Girlfriend (2016)

Curta-metragem de premissa engraçada com execução e meios técnicos simples, mas que entretém e resulta numa exploração divertida do ciúme, insegurança e paranóia em torno de uma relação amorosa. Cena após cena o conceito não se desmancha, as escolhas musicais funcionam e as interpretações, dentro do espectro amador do projecto, convencem. No fim, a dúvida numa sombra aberta à interpretação da audiência. E vocês, minhas velhacas, era o Gyllenhaal ou o Gosling?

sábado, maio 09, 2020

Nalgas Flash Review: Onward

sexta-feira, maio 08, 2020

Into the Night (S1/2020)

Quando um inexplicável desastre cósmico atinge a Terra e os raios de sol matam tudo o que mexe, qual micro-ondas galáctico, um grupo de pessoas a bordo de um avião que ligava Bruxelas a Moscovo entra numa luta pela sobrevivência, voando sempre para oeste na escuridão, aterrando apenas para reabastecer. Se o conceito é utópico - nem estou a referir uma teórica polarização electromagnética do planeta que nos mate a todos mas sim a corrida contra a luz num avião sem qualquer suporte em terra entre paragens -, a concretização do mesmo é ainda mais descuidada. Ninguém nos bastidores liga a um único pormenor, das pistas que acabam em edifícios, dos timings que não batem certo, do virar na direcção errada sem consequências, de deixarem conduzir o único que está ferido de modo a dar asneira, de um passageiro aprender a aterrar um avião comercial num video de YouTube, da falta de emoção após familiares, conhecidos e, bem, o planeta inteiro, ter ido com os porcos - literalmente, pois os animais também fritaram a tola -, de tudo o que uma narrativa a quinhentos à hora mais preocupada com os conflitos entre passageiros do que com o drama do apocalipse deixa pelo caminho. Mas, entre tudo o que provoca risos quando os fios das marionetas tentam puxar no sentido oposto - não bastava o fim do mundo, temos ainda a criança doente a precisar de um transplante, o marido que morre de cancro e a esposa que se quer suicidar -, fica sempre connosco a velocidade, os tais quinhentos à hora que não nos convencem mas que também não nos deixam adormecer. Se uma segunda temporada sobreviver aos impactos do Covid-19, lá estarei para ver o fim deste desastre aéreo.

quinta-feira, maio 07, 2020

Nas Nalgas do Mandarim - S07E07

quarta-feira, maio 06, 2020

Rear Window (1954)

"She's too perfect. She's too talented, she's too beautiful. She's too sophisticated. She's too everything but what I want". Podemos dizer que "A Janela Indiscreta" foi não só o primeiro filme norte-americano de Hitchcock, como a sua primeira incursão nos domínios da ficção científica: só isso explicaria como é que um homem sem grandes posses temporariamente preso a uma cadeira de rodas conseguiria resistir ao charme, à beleza e ao encanto de uma mulher da alta sociedade interpretada pela deslumbrante Grace Kelly. Mas aproveitando as palavras de Rui Veloso, tiremos a esta expressão todo o dramatismo, até porque se tratava apenas de um eufemismo e o James Stewart queria mesmo era descobrir o lado lunar de Lisa. O cenário único que dá vida ao filme de Hitchcock oscila de forma harmoniosa entre o neorrealismo italiano, a comédia francesa ou mesmo o miserabilismo sueco, numa sequência de planos, cenas e interpretações que entrelaçam-se de forma fascinante para orquestrar uma história em torno de um mistério - a possível morte/desaparecimento de uma vizinha - tão acessível quanto complexo.

terça-feira, maio 05, 2020

El Cuerpo (2012)

Longa metragem de estreia de um dos meus realizadores favoritos da actualidade, "El Cuerpo" é um thriller que triunfa ao conseguir controlar o descontrolo constante que vai na mente do observador: enquanto teorizamos sem grande expectativa possíveis explicações que não sejam tão óbvias como aquelas que os sucessivos acontecimentos parecem indicar, somos domados e amansados para uma reviravolta estrutural nos últimos dez minutos que nos deixa de queixo caído, tal afinal era a complexidade fascinante de tudo o que antes nos pareceu banal. Pelo menos quatro personagens construídos e desconstruídos de forma visceral - ora com flashbacks, ora com reacções e respostas inesperadas -, fotografia e sonoplastia adequadas ao ambiente tenso e escuro e a audiência em gancho constante num diálogo interno de possibilidades; Hitchcock estaria orgulhoso do catalão Oriol Paulo.

segunda-feira, maio 04, 2020

Nuno Lopes goes to Ibiza

domingo, maio 03, 2020

Ace in the Hole (1951)

A cada nova descoberta na filmografia de Billy Wilder, deparo-me com a facilidade inquietante como aquele que muitas vezes é apenas visto como um dos "mestres" da comédia consegue, dentro do mesmo filme, oscilar entre o humor e o pudor, entre o drama sórdido e a crítica sócio-ideológica, entre a obscenidade e o moralismo. "O Grande Carnaval", parábola mordaz sobre o jornalismo e o desejo de sangue ou glória das audiências ("Bad news sells best, cause good news is no news"), é outro exemplo disso mesmo, um retrato cínico cada vez mais actual que não poupa ninguém: esposa, xerife, negociantes locais, meros voyeurs, comunicação social ou até mesmo voluntários no resgate; ninguém é inocente neste socorro ao herói inesperado. Um olhar perverso que foi também o primeiro grande flop comercial de Wilder, mas que é de uma astúcia e coragem incrível, não só pelo seu final perverso e inesperado, mas também porque vivia-se uma época e uma era em que os jornalistas eram vistos como figuras de destaque que combatiam a corrupção e procuravam a verdade.

sábado, maio 02, 2020

The Hunger Games: Mockingjay - Part 2 (2015)

A segunda parte cinematográfica da capítulo final da saga idealizada por Suzanne Collins confirma as piores impressões deixadas na primeira metade: divisão totalmente desnecessária, um tiro nos pés em prol de um sacalhão de dólares, dispersando a acção e a história durante quatro horas e meia quando duas teriam sido mais do que suficientes para fazer, tal como antes, um filme satisfatório. Quem fez a sestinha pelo meio pouco perdeu a nível estrutural, numa mão-cheia de cenas sem pés nem cabeça perante o poder da "mão divina" que controla Panem - os zombies de esgoto, o petróleo que enche a praça, entre tantas outras armadilhas imperfeitas, como que feitas para propositadamente falhar -, numa narrativa longa, previsível e pouco envolvente, com o triângulo amoroso mais insonso e cansativo dos últimos anos. Coreografias de acção desleixadas perante tanta tela verde, diálogos sem capacidade para igualar a força da mensagem e uma recta final totalmente anti-climática, como que uma escapatória patética e fácil perante o pânico do fracasso - culpa do livro, talvez, mas ainda assim altamente frustrante no grande ecrã. Fappening para isto tudo.

sexta-feira, maio 01, 2020

80 years of Al Pacino