"
Não há defeito maior que a cobardia", diz a certa altura a personagem de Jean-Paul Belmondo entre cigarros, num dos muitos carros que rouba durante o filme. Inspirado nessa mensagem esquecida da obra de estreia de Jean-Luc Godard, cabe-me segui-la na maior das honestidades: muita parra e pouca uva, uma fita sobrevalorizada pelo tempo, pela evolução de um cineasta ímpar que marcou uma nova era no cinema europeu. Orçamento e equipa reduzida, "
desenrascanço" técnico constante, uma montagem que reinventou a arte do raccord (jumpcuts), tudo trunfos e méritos habitualmente atribuídos a este jogo de póquer que é "
O Acossado"; os mesmos que uso para, em resposta ao
raise da mesa, fazer
all-in para desmascarar tamanho bluff escondido atrás de planos absurdos, uma relação infantil e burlesca entre criminoso francês e paixoneta norte-americana, de um romantismo primitivo que todos consideraram vanguardista. O movimento de polegar nos lábios até à exaustão, como se uma ou outra vez não fosse suficiente para perceber que Poiccard sonhava ser Bogart - e, por vias das dúvidas, toca-o a fazer em frente a uma foto do galã, na entrada de um cinema. Um tubo de ensaio para as vitórias que se seguiram, mas nada mais do que isso.
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