quinta-feira, julho 31, 2014

Transformers: Age of Extinction (2014)

Considerados agora um perigo para a humanidade, os Transformers são uma espécie em vias de extinção. Os poucos que sobreviveram escondem-se agora das autoridades norte-americanas e de interesses corporativos que os caçam com o único objectivo de desenvolver a sua revolucionária tecnologia molecular e, com isso, ganhar milhões. Até que o planeta e as bestas dos humanos ficam, uma vez mais, em risco de passarem desta para melhor e os Autobots, incompreendidos e mal-amados, acabam por se revelar a única hipótese dos terráqueos contra os Deceptions. O que se segue é um festival doloroso - para não dizer merdoso - de efeitos especiais, em que imagens digitalmente criadas lutam e atropelam-se umas às outras, para gáudio de todos aqueles que esqueceram que o cinema, mesmo nesta vertente bilionária da ficção científica, é uma arte cujo espectador merece muito mais profundidade narrativa do que aquela que acontece neste jogo de computador visualmente desordenado e confuso, sem coração nem razão, que vive e sobrevive com o propósito único de encher os bolsos às custas de resultados de bilheteira, nesta altura do campeonato, inexplicáveis.

Sem dúvida alguma o pior capítulo de uma saga que, por si só, já estava nas ruas da amargura cinéfila, "Transformers: Era da Extinção" é, além de uma nulidade narrativa e intelectual assente em todos os clichés patrióticos típicos de Michael Bay, uma fita visualmente cansativa, que destrói qualquer neurónio resistente com a chuva de metal digital que salpica cada plano da história após a introdução das personagens. Se esses primeiros vinte minutos safam-se entre a lente hábil de Bay a filmar as simples conexões familiares e o magnetismo habitual da figura feminina da série (Nicola Peltz é uma digna sucessora corporal - reparem no detalhe - de Rosie Huntington-Whiteley e Megan Fox), o resto é lixo metálico enferrujado, perigoso para qualquer cinéfilo que não esteja vacinado contra o tétano. E a prova final num julgamento antigo que insistia em acreditar que Michael Bay seria o mais capaz sucessor de James Cameron. Talvez numa outra vida.


quarta-feira, julho 30, 2014

Simples. Brilhante.

terça-feira, julho 29, 2014

Para (re)descobrir

segunda-feira, julho 28, 2014

There is no Max without Mel

domingo, julho 27, 2014

The Two Escobars (2010)

Andrés Escobar foi um dos jogadores colombianos mais respeitados da história, um cuja alcunha popular "Cavalheiro dos Relvados" dizia quase tudo sobre a sua personalidade e atitude dentro das quatro linhas. Fora delas, Andrés era também um dos principais lutadores contra o estigma internacional que rotulava todos os colombianos como drogados ou traficantes de droga. Já Pablo Escobar - o apelido que partilhava com Andrés era pura coincidência... mas acabaria por não ser a única que os ligava - era, além do barão de droga mais conhecido em todo o mundo - um que entrava regularmente na lista da Forbes dos mais ricos do planeta com um lucro diário (sim, diário) estimado de 60 milhões de dólares -, dono e presidente do Atlético Nacional, equipa de futebol pela qual Andrés conquistou a primeira Copa Libertadores da história do país, em 1989. Tudo possível graças aos milhões de Pablo, que usava o futebol como estrutura para "lavar" dinheiro e legitimar os seus negócios clandestinos, que todos conheciam mas ninguém ousava colocar em questão. Quem o fez, de árbitros a ministros, de candidatos à Presidência da República a polícias e simples bandidos, todos acabavam baleados e mortos. Rei indiscutível e temido do submundo colombiano, Pablo era também um herói dos pobres: foi ele quem generosamente construiu e financiou campos de futebol - onde muitos dos grandes nomes do futebol colombiano surgiram -, hospitais e moradias para os sem abrigo, um pouco por toda a Colômbia.

Mas Pablo não era nenhum santo pecador, nem coisa que se pareça. Tornou-se um mecenas por interesse, com o objectivo de conquistar um lugar através de sufrágio na Câmara dos Representantes, impedindo assim que fosse possível a sua extradição para os Estados Unidos da América, onde devido à morte de um basquetebolista famoso devido ao consumo de cocaína proveniente da Colômbia, estava aberta uma guerra ao narcotráfico sul-americano. Dentro de portas, Pablo controlava tudo, até as prisões. Construiu uma à sua medida - La Catedral -, entregou-se às autoridades e continuou a orquestrar tudo dentro da sua nova mansão: lá combinava jogos de futebol com estrelas colombianas e não só, organizava raptos e assassinatos e continuava a mandar na Colômbia, tanto nas ruas como nos gabinetes políticos. E foi numa dessas visitas "futebolísticas" de Andrés e outros internacionais como o mítico Faustino Asprilla (Parma e Newcastle) ou Carlos Valderrama (quem não se lembra da sua característica cabeleira loura), que Pablo Escobar combinou com o lendário guardião René Higuita o sequestro do filho de um barão de droga rival que acabou por levar "El Loco" para a prisão durante quase um ano, impedindo-o de participar no Mundial de Futebol de 1994 nos Estados Unidos da América. Ninguém, principalmente Andrés, queria visitar Pablo... mas era obrigatório aceitar os seus convites, ou as consequências seriam imprevisíveis. Como diz o seleccionador de então, o respeitável Francisco Maturana, a certa altura do documentário, "se Don Vito Corleone convidasse qualquer pessoa para jantar em sua casa, alguém teria coragem para não aparecer"?

E é esta relação muito próxima entre Pablo e o futebol, entre Andrés e o mundo do narcoterrorismo, que a dupla norte-americana Jeff e Michael Zimbalist estuda e aprofunda neste seu "The Two Escobars". Como dois homens de ideias e princípios completamente opostos se viram ligados por um amor comum ao futebol que não só lhes trouxe fama e dinheiro, como uma morte antecipada. Sim, porque foi a exposição que a entrada no mundo do futebol trouxe a Pablo que o tornou num alvo fácil de capturar, e foi também, azar dos azares, um autogolo no Mundial de 94 que acabou por ditar a morte de Andrés às mãos de dois irmãos criminosos que perderam milhões de dólares em apostas com a eliminação da então principal candidata ao título - quem o afirmou foi o Deus Pelé, após a vitória categórica da selecção colombiana sobre a rival Argentina, por 0-5, no jogo decisivo de apuramento. Quatro anos, vinte e muitos jogos depois com apenas uma derrota, a Colômbia tinha tudo para fazer o Mundial da sua vida. Não o fez e a culpa pode muito bem dever-se ao facto de Pablo já não estar vivo na altura.

Esta conclusão é arriscada, todos nós percebemos. Mas os irmãos Zimbalist não têm dificuldades em explicá-la convincentemente. A morte de Pablo em Dezembro de 1993, numa operação conjunta entre as Forças Especiais norte-americanas e a polícia colombiana, trouxe o caos ao país. Todos os criminosos reprimidos e controlados antigamente pelo "El Patrón" ficaram livres de fazer o que lhes apetecia. Na falta de um líder, todos procuravam ser os mais temidos nas ruas para ocupar o lugar deixado vago por Pablo. A violência orientada do cartel de Medellín tornou-se desorganizada e descontrolada, elevando o número de assassinatos para índices nunca antes vistos. De treinador a jogadores, quase todos foram ameaçados durante o Mundial de 94: o seleccionador foi "obrigado" a deixar no banco um titular do meio-campo de modo a salvar a família deste e o irmão de um defesa que esteve menos bem no jogo inaugural com a Roménia foi assassinado após a partida, provavelmente por alguma frustração também relacionada com apostas desportivas. Antes do confronto decisivo com a equipa da casa na segunda jornada do grupo, ameaças de morte e rapto a familiares passaram nas televisões dos quartos dos jogadores. Ninguém tinha a cabeça no sítio certo para jogar futebol e ser feliz. E quando Andrés marcou aquele fatídico auto-golo, o seu olhar parecia denunciar o seu destino. Deveria ter sido Milão, que esperava pela sua nova contratação, mas acabou por ser um parque de estacionamento escuro junto a uma discoteca em Medellín. "A vida não acaba aqui", disse Andrés à comunicação social após o auto-golo. Estava enganado.

Em suma, "The Two Escobars" revela-se um documentário poderosíssimo sobre uma época em que drogas, futebol e orgulho nacional eram ingredientes comuns num cocktail explosivo de poder, dinheiro e brutalidade. Quase como se de um thriller de espionagem se tratasse, somos arremessados para uma história tão surreal quanto o pontapé de escorpião de Higuita, tão eloquente que consegue expressar em duas horas o que uma nação não conseguiu verbalizar durante duas décadas. Não lhe faltam heróis - Andrés, Maturana ou Valderrama - nem vilões - Pablo, Popeye ("com as minhas mãos matei cerca de 250 pessoas a mando de Pablo... mas só um psicopata é que faz essas contas") ou políticos corruptos - em entrevista, bem como imagens de arquivo absolutamente inacreditáveis de ambos os Escobars. O narcoterrorismo e o narcofutebol num retrato arrepiante de um país com severos traumas e estereótipos relacionados com a droga.

sábado, julho 26, 2014

Objectivo: Comic Con San Diego 2016

Só falta saber como é que vou arranjar bilhetes - pelo que li em alguns fóruns não é nada fácil - e do que é que vou vestido. Sugestões? Nada que meta o six-pack à mostra se faz favor, que não sei se consigo arranjar um até lá.

sexta-feira, julho 25, 2014

quinta-feira, julho 24, 2014

Enquanto a inglesa não volta atrás

quarta-feira, julho 23, 2014

The Dirty Dozen (1967)

Dividido em três actos - o recrutamento, o treino e a grande missão -, "Doze Indomáveis Patifes" (belíssima tradução do original) narra a história de um bando de condenados militares treinados por um implacável major do exército norte-americano (o intratável Lee Marvin) para, em vez de deixarem a vida no corredor da morte, a perderem numa missão suicida contra o império nazi. Na remota hipótese de algum sobreviver, a recompensa seria um cadastro limpo. Realizado por Robert Aldrich ("What Ever Happened to Baby Jane?"), "The Dirty Dozen" tornou-se um clássico do cinema de guerra pela forma como enfrentou o mundo com cenas de uma violência sádica improvável - a matança final, sem escrúpulos inclusive para mulheres encurraladas, tirou-lhe a hipótese de qualquer prémio de relevo -, pela forma sarcástica como abordou o patriotismo e por oferecer ao espectador um saco cheio de personagens sem passado… nem futuro. Duas horas e meia onde divertimento e crueldade dão as mãos, numa fita tão enérgica quanto niilista, um espectáculo tão anti-tudo quanto sedento por uma audiência. Além de Marvin, destaque para Bronson, Savalas, Brown (num filme que ditou o fim da sua carreira desportiva na NFL), Cassavetes (nomeado para melhor actor secundário), Sutherland e Clint Walker, naquele que foi o maior êxito de bilheteira da MGM do final dos anos sessenta, uma obra corajosa e controversa que deu origem a três sequelas menores, uma série de televisão na FOX e, corre o rumor em Hollywood, servirá ainda de base a um remake produzido por Joel Silver.

terça-feira, julho 22, 2014

segunda-feira, julho 21, 2014

CCOP - Top de Junho de 2014

São dois filmes canadianos que ocupam os lugares cimeiros do top de Junho de 2014. O primeiro deles é Tom na Quinta, do jovem cineasta Xavier Dolan e vencedor do prémio FIPRESCI do Festival de Veneza 2013, foi classificado com a nota média de 7,89 em 10. O seu único outro filme a ser avaliado pelos membros do Círculo de Críticos Online Portugueses foi Laurence para Sempre que, em 2013, recebeu a nota de 7,38. Denis Villeneuve e a sua adaptação cinematográfica do romance homónimo do Nobel português, José Saramago, ocupa a segunda posição da tabela do mês. O Homem Duplicado foi classificado com 7,88 (é ainda o filme maior amostragem do mês, com 88% de membros a terem visto o filme), mas não o livrou de ser considerado um dos filmes mais controversos de Junho, com uma diferença de cinco pontos entre as notas máxima e mínima (teve uma ocorrência de nota 10). Em Outubro de 2013, o anterior filme do cineasta canadiano, Raptadas, foi classificado com a nota média de 8,00. Em terceiro lugar surge Como Treinares o Teu Dragão 2, com a nota média de 7,67. A sequela é ainda o filme de animação com a maior classificação do ano, à frente de O Filme Lego (7,75). Nenhum dos filmes obteve classificação suficiente para constar no top 10 do ano.

Top de Junho de 2014

1. Tom na Quinta, de Xavier Dolan | 7,89
2. O Homem Duplicado, de Denis Villeneuve | 7,88
3. Como Treinares o Teu Dragão 2, de Dean DeBlois | 7,67
4. Locke, de Steven Knight | 7,54
5. Só os Amantes Sobrevivem, de Jim Jarmusch | 7,43
6. A Mamã, os Rapazes e Eu; de Guillaume Gallienne | 6,50
7. A Culpa é das Estrelas, de Josh Boone | 6,33
8. Yves Saint-Laurent, de Jalil Lespert | 5,40
9. Maléfica, de Robert Stromberg | 4,86
10. Mil e Uma Maneiras de Bater as Botas, de Seth MacFarlane | 4,86
11. Quase Gigolo, de John Turturro | 4,50
12. The Quiet Ones - Experiência Sobrenatural, de John Pogue | 4,00

domingo, julho 20, 2014

Shark Tank Portugal?

Ao que parece, "Shark Tank" vai ter uma versão portuguesa na SIC em 2015. E aquela que poderia ser uma boa nova é rapidamente arruinada pelo facto de Bárbara Guimarães estar na calha para ser a "apresentadora" do programa. Mas que apresentadora? No Japão, Canadá e EUA, é um sucesso com narrador. Chega a Portugal e leva com uma apresentadora para encher chouriços. Ainda nem começou e já está com o pé esquerdo no chão. Não me admira se acabar mesmo como um Charco do Mexilhão.

sábado, julho 19, 2014

sexta-feira, julho 18, 2014

Levels

quinta-feira, julho 17, 2014

The Game of Their Lives (2005)

Centrado na histórica vitória da selecção norte-americana de futebol, constituída na sua maioria por jogadores amadores, sobre a poderosa e aristocrata selecção inglesa, então considerada a principal candidata ao título no Mundial de Futebol de 1950 no Brasil, importa começar por afirmar que “The Game of Their Lives”, enquanto exemplar artístico e técnico desta arte que veneramos e à qual chamamos cinema, é uma miséria. Mesmo a nível factual, revelaram posteriormente alguns dos sobreviventes do jogo, quase tudo é romantizado para que uma vitória de um carteiro, dois ou três professores, um lavador de pratos e um director funerário sobre uma mão cheia de jogadores reputados na altura como sendo os melhores do planeta (principalmente Stan Mortensen e Stanley Matthews) se tornasse numa fábula de David contra Golias, ocultando detalhes, jogos e pormenores importantes no longo percurso dos norte-americanos que ajudaria a perceber um pouco melhor a forma como foi construído este resultado memorável. A maneira como o desporto em si é filmado dentro das quatro linhas, essa, é melhor nem falar; basta imaginarem Gerard Butler como um guarda-redes imbatível ou uma dúzia de jogadores à volta da bola na mesma jogada, vezes e vezes sem conta, e está tudo dito.

Porque escrevo tantas linhas sobre o mesmo então? Porque o feito norte-americano da década de cinquenta é provavelmente o melhor exemplo de que, no futebol, tudo é possível. E o leitor merece descobrir um pouco melhor o que realmente aconteceu em terras brasileiras a veteranos de guerra como Frank Borghi – que defendeu tudo o que havia para defender nesse jogo -, Pee Wee Wallace, o caceteiro Gloves – que perto do final do jogo placou um jogador inglês que se isolava como se de um jogo de rugby se tratasse - ou, acima de tudo, o haitiano que nem naturalizado norte-americano era e que marcou o golo que atirou aqueles onze desconhecidos para o panteão eterno da glória desportiva. É neste homem, Joe Gaetjens, que procuro colocar todas as vossas atenções.

Gaetjens, nascido e formado no Haiti, lavava pratos num restaurante nova-iorquino e recebia vinte dólares por jogo numa equipa local de futebol para conseguir pagar os estudos universitários, após ter arriscado tudo numa viagem solitária para a Terra dos Sonhos. Ninguém o conhecia e apenas se juntou à selecção norte-americana umas semanas antes da equipa rumar ao Brasil, por obra e graça de um colega de equipa que o indicou ao seleccionador de modo a resolver uma lacuna grave no conjunto norte-americano, sem a disponibilidade de um par de jogadores inicialmente convocados que não obtiveram autorização dos seus patrões para se ausentarem durante duas ou três semanas. Descobriu-se mais tarde, Gaetjens nem cidadão norte-americano era e viajou para o Brasil com um passaporte falso. A FIFA investigou o caso posteriormente mas aceitou a justificação norte-americana que, na altura, um visto temporário seria suficiente para considerar o jogador como homem da casa.

No filme, é retratado como um homem negro – na verdade, fotografias a preto-e-branco desse Mundial demonstram que, quanto muito, seria mulato – repleto de rituais e crenças voodoos. A família, entrevistada recentemente pelo ESPN, diz ser tudo mentira: Gaetjens era católico não praticante como tantos outros, um rapaz banal sem manias estranhas. Apenas uma das muitas incongruências do filme – omitem os restantes jogos dos EUA no Mundial, colocam a selecção no Brasil por convite quando na verdade tiveram que eliminar Cuba num playoff a duas mãos para garantirem a qualificação, etc. etc. Mas voltemos ao herói da história, aquele que foi carregado em ombros por milhares de brasileiros em Belo Horizonte, que viram no seu golo a solução para a selecção anfitriã não defrontar o temível conjunto britânico na fase seguinte da prova. O homem que depressa desapareceu, que entre ambiguidades e desinformações tornou-se num mito. Isto, claro, até a ESPN explorar o seu destino e a sua vida aquando do Mundial de 2010.

A glória efémera no Mundial de 50 não levou Gaetjens a uma caminho repleto de sorte e fama. Alguns meses após o fim do torneio, o haitiano deixou os estudos e rumou à liga francesa, ansioso por aproveitar a reputação que o golo acrobático impossível frente aos ingleses lhe proporcionara. Fluente na língua francesa, defende a sua família que a adaptação à Europa não se revelou difícil. Mas os míseros quatro jogos que disputou pelo Racing Club de Paris - com dois golos apontados - mostram que algo falhou nesta sua experiência fora-de-portas. A sua falta de utilização e uns joelhos problemáticos acabaram por o transferir para o Troyes AC, de uma divisão inferior, numa troca directa de jogadores. Poucos anos depois voltaria ao Haiti.

No seu País natal tornou-se um ícone. Recebido por milhares no aeroporto, Gaetjens foi contratado para ser a cara da Palmolive e da Colgate nas Caraíbas. Assinou pelo principal clube do país mas lesões recorrentes diversas obrigaram-no a terminar a sua carreira aos 29 anos. Antes disso, teve ainda tempo de jogar pela selecção nacional haitiana - como acabaria por não se naturalizar norte-americano, o Haiti aproveitou legalmente o facto - e foi titular num jogo decisivo de apuramento para o Mundial de 54, contra o México. O nariz começou a sangrar sem parar e Gaetjens teve que sair. Esse seria o último jogo oficial da sua carreira.

Arrumadas as botas, o herói de Belo Horizonte foi para casa descansar. Familiarmente relacionado com um candidato à presidência do Haiti - Louis Dejoie -, Gaetjens tornou-se uma bandeira política na conquista de votos. Mas não chegou. Perdidas as eleições para o médico François “Papa Doc” Duvalier, o seu destino ficou traçado: Papa Doc tornou-se um ditador sem escrúpulos e, paranóico com possíveis atentados à sua liderança, pouco demorou a encarcerar/assassinar todos aqueles que sabia serem contra a sua eleição. Gaetjens e o seu irmão foram dois dos que acabaram na prisão de Fort Dimanche, prisão onde todas as noites às 22:00 um prisioneiro era chamado para o pátio e executado. No dia 10 de Julho de 1964, calhou a fava a Gaetjens. Apenas mais um entre os trinta mil que foram assassinados durante o regime de Papa Doc. E é esta história de vida, tanto ou mais que o feito inigualável dos norte-americanos no dia 29 de Junho de 1950, que merece este destaque. Se o fraquíssimo filme de David Anspaugh ("Rudy") é o catalisador que precisam para a descobrir, que assim seja. Porque há males que vêm por bem.

quarta-feira, julho 16, 2014

Nova Iorque IX

terça-feira, julho 15, 2014

Kickstarter Film Fest 2014

"That's right: you can join us for the fourth annual Kickstarter Film Fest without even leaving your couch. This year, we've made the whole program — a two-hour mix of scenes from our favorite Kickstarter-funded films — available online. So if you can't make it to our screenings in Brooklyn, London, or Los Angeles, you can still pop some popcorn and watch from anywhere you like, all summer long."

segunda-feira, julho 14, 2014

Sherlock goes Turing

domingo, julho 13, 2014

Mean Machine (2001)

Danny Meehan (Vinnie Jones) é o antigo capitão da selecção inglesa, um jogador de futebol cuja carreira de sucesso foi subitamente interrompida por corrupção desportiva, comprovada num duelo Inglaterra-Alemanha onde Meehan falhou propositadamente um penalty para beneficiar os seus interesses nas apostas ilegais. Sem trabalho nem família, perde-se agora pelos caminhos penosos da vodka e do whisky, o que lhe leva a agredir dois polícias que o tentam multar por conduzir alcoolizado. Condenado a três anos de encarceramento, Meehan é recebido na prisão de forma mista: uns nem acreditam que vão poder confraternizar com um ídolo; outros detestam-no e querem que sofra por ter feito a selecção inglesa perder aquele jogo decisivo com os germânicos. Mas quando o director da prisão o convida para treinar a equipa dos guardas prisionais - contra a vontade e ameaças destes últimos -, Danny sugere criar a sua própria equipa de prisioneiros para desafiar os guardas num jogo amigável. Nesse momento, todos os seus colegas percebem que esta partida será uma oportunidade única de vingar, sem represálias, todas as injustiças de que são alvo diariamente.

Remake de um êxito dos anos setenta de Robert Aldrich, "A Máquina" não tem a criatividade e vitalidade do original dedicado ao futebol americano com Burt Reynolds no papel principal, mas não deixa de ter o seu encanto no desencanto rude do seu protagonista - ele próprio um ex-futebolista na vida real - e na forma surpreendente como o desporto em si é filmado, com actores claramente escolhidos a dedo pela forma como tratam a bola com os pés. À excepção das que envolvem o guarda-redes marcial de Jason Statham, quase todas as jogadas são minimamente credíveis, perdendo-se inesperadamente o guião em gags rídiculos de corredores, celas e balneários completamente despropositados. Destaque final para Jason Flemying na pele de um comentador desportivo muito pouco convencional.

sábado, julho 12, 2014

What a lovely day

sexta-feira, julho 11, 2014

Não dá para levar a sério depois disto

A cena inicial do episódio piloto da nova série da FX norte-americana "The Strain" é tão ridícula que, passado quase uma semana de a ter visto, ainda não consegui esquecer o facto de ter sido o controlador de tráfego aéreo de serviço que desceu da torre de controlo e foi averiguar o que se passava com o avião mistério - que, por sua vez, num dos mais movimentados aeroportos do mundo, e logo após a aterragem, estava isolado numa placa sem qualquer serviço de terra (escadas, carga, combustível, limpeza etc. etc.) por perto. Pode ter passado incólume a muito boa gente, mas para mim foi logo ali um deal breaker. Com tanta estreia televisiva nas próximas semanas, venha a próxima que esta já era.

quinta-feira, julho 10, 2014

Minority Report meets Inception

quarta-feira, julho 09, 2014

Nova Iorque VIII

terça-feira, julho 08, 2014

Rise of the Footsoldier (2007)

"Rise of the Footsoldier" segue a ascenção impiedosa de Carlton Leach desde um dos hooligans mais temidos do futebol inglês até tornar-se membro de um gangue criminoso que espalhou o pânico e o terror em Londres durante o final dos anos oitenta e o início dos anos noventa do século passado. Interpretado por Ricci Harnett, Leach é retratado como um criminoso desequilibrado que encontra prazer nos seus actos violentos, os mesmos que, literal e metaforicamente, o irão levar à sua destruição. Realizado por Julian Gilbey, "Rise of the Footsoldier" custa a arrancar mas rapidamente se torna numa espécie de Goodfellas rasca de série B britânico, visualmente intenso e incómodo, que usa e abusa da violência para chocar (ou conquistar, dirão alguns) o espectador. Sem papas na língua - Scorsese teria vergonha -, não se percebe, no entanto, como é que numa biografia cinematográfica de Carlton Leach, o mesmo desaparece de cena a meio do filme. Drogas, sexo, pancadaria e mais drogas num filme em que a caracterização das personagens é baseada na quantidade de palavrões que cada um diz e não num aprofundamento lógico das relações entre as mesmas. Algumas referências culturais nostálgicas às saudosas décadas de oitenta e noventa não chegam para compensar outro filme de hooligans que se perde nos clichés do género. Ainda assim, justiça seja feita a algumas interpretações de qualidade, com destaqe para Harnett e Craig Fairbrass.

segunda-feira, julho 07, 2014

Bad Santa with Bill and no Santa

domingo, julho 06, 2014

A vida é apenas isto.

Antigamente, solteiro e estudante, via três episódios de "24" num só dia. Agora que trabalho e sou pai, demoro três dias a ver um só episódio. E não me queixo.

sábado, julho 05, 2014

Nova Iorque VII

sexta-feira, julho 04, 2014

El Penalti Más Largo del Mundo (2005)

Fernando é um zé-ninguém nos seus trintas, um tipo de mau aspecto que trabalha como repositor num supermercado de bairro e, sem mulher nem filhos com que se preocupar, passa os dias a beber cerveja e a sonhar com beldades que não pode ter. Além disso, é ainda guarda-redes suplente nunca utilizado num clube local – o Estrela Polar -, patrocinado e gerido pela direcção do supermercado onde trabalha, equipa que na última jornada do campeonato distrital enfrenta o adversário directo à subida no seu campo e, caso consiga pelo menos um empate, irá garantir pela primeira vez na história do clube uma presença numa divisão superior. Minuto noventa, tudo empatado e, num lance inacreditável em que o avançado derruba violentamente o guarda-redes mas a falta é assinalada ao contrário, penalty para os visitantes. Guarda-redes titular lesionado e, de cerveja na mão no banco de suplentes, Fernando é chamado para entrar e tentar um milagre, defendendo a grande penalidade mais importante da história do Estrela Polar. Mas eis que uma invasão de campo por parte de adeptos furiosos com a decisão do árbitro interrompe o jogo e a execução da falta é adiada para o domingo seguinte. Serão sete dias de angústia em que Fernando passa de um triste sem ambição para herói do bairro, venerado por todos de modo a motivá-lo para um momento que pode definir o futuro de várias vidas.

Comédia espanhola deliciosa sobre um meio social medíocre repleto de ilusões, um campeonato viciado pelo sistema e pela corrupção e, por fim, pela forma como o futebol é capaz de moldar as atitudes e os comportamentos daqueles que vêem no mesmo um tubo de escape às pressões do quotidiano – caso claro o jogador desempregado sem dinheiro para encher o frigorífico para o filho mas que gasta uma fortuna numas chuteiras de elite apenas para disputar meio minuto do jogo suspenso -, “O Maior Penalty do Mundo” consegue ainda manter-nos presos à narrativa devido à incógnita chave – tornar-se-á ou não Fernando uma lenda -, bem como ao magnetismo da belíssima Marta Larralde, que obrigada pelo pai (treinador) a sair com o monstro (esse mesmo, Fernando), proporciona os momentos mais divertidos da fita. Destaque final para Fernando Tejero, que com o seu guarda-redes escanzelado levou um Goya para casa.

quinta-feira, julho 03, 2014

Cheira a estatuetas

quarta-feira, julho 02, 2014

Nova Iorque VI

terça-feira, julho 01, 2014

Cinema e Futebol: um casamento impossível?


Dizem-nos os amantes da Sétima Arte um pouco por todo o mundo que o futebol é um animal que resiste ao cinema, mesmo sem perceberem muito bem as razões pelas quais os dois grandes elementos de ócio, convívio e cultura dos últimos cem anos não conseguem dar as mãos e caminhar felizes ao pôr-do-sol. Quando a abordagem ao jogo é feita de forma lateral, dos conflitos entre adeptos às rivalidades de bairro, das metáforas de vida a paixões escaldantes, de dramas a comédias sobre inadaptações sociais, o cinema em si safa-se. O problema é o jogo. A beleza do jogo que ninguém ainda percebeu como filmar. Foram vários os realizadores que nos ofereceram retratos fantásticos associados ao boxe, ao basebol, ao golfe, aos mais diversos desportos automobilísticos, ao futebol americano e, até, ao basquetebol. Qualquer ângulo de abordagem serviu e são vários os exemplos em que a acção desportiva é filmada de forma, no mínimo, credível. Nada de dez jogadores ao redor de uma bola em meio metro quadrado de espaço, carrinhos fora de tempo, guarda-redes anedóticos ou remates ridículos que acabam no fundo da baliza em situações que Michel Preud'Homme pararia a bola com o peito. No boxe, com tanta pancada física e emocional, chegam mesmo a existir exemplos cinematográficos maravilhosos que até nos fazem sentir incomodados perante tão dura realidade.

O cinema nunca encontrou problemas com nada, do futuro ao passado, da imaginação sem limites da ficção científica à realidade crua e dura de um homem a lutar pela vida. Com nada, à excepção do futebol - e, talvez, do ténis. Nem quando é colocado Pelé em campo e John Huston atrás das câmaras, o cinema consegue evitar que o jogo em si seja filmado num tom grotesco, infantil e, acima de tudo, surreal. Quando o futebol entra em acção, o cinema é derrubado. Os adeptos, os árbitros, os jornalistas desportivos, as crianças, as mulheres que sonham ser como Beckham, os dirigentes, todos eles encaixam na sétima arte. O que não encaixa é a maravilha do jogo jogado. Seja pela sua dificuldade de execução, pela sua complexidade, pelo facto de ser um dos desportos mais seguidos em todo o mundo ou porque nasceu na Europa e não nos Estados Unidos da América, a verdade é que o futebol dentro das quatro linhas nunca consegue ser tratado com harmonia e rigor dentro de uma linguagem cinematográfica coerente e cativante. É este o grande Evereste por escalar do cinema, filmar o futebol como este merece. Nós, adeptos das duas artes, continuamos à espera de um alpinista que alcance o cume mais alto de todos.

Quando a mítica Cahiers du Cinema, revista cinematográfica francesa associada à nouvelle vague (Truffaut, Godard e tantos outros escreveram na mesma) publicou em Julho de 2002, na sua edição 570, uma tabela de estreias cinematográficas com a opinião dos críticos da casa resumida a estrelas, onde as duas últimas linhas foram guardadas para dois jogos do Mundial de Futebol de 2002 (Brasil vs Inglaterra e Itália vs Coreia do Sul), a K2 cinéfilo-futebolística foi escalada. A importância sociológica e de inclusão cultural do futebol foi reconhecida pela bíblia intelectual e as clivagens entre as classes desapareceram. Os cinéfilos já não tinham de apreciar o futebol às escondidas. Um feito histórico que não foi acompanhado a nível de execução técnica.

Apesar de todos os avanços tecnológicos, filmar o futebol não é filmar uma paisagem em movimento ou um ecrã verde por trabalhar. É preciso conhecer as entrelinhas do jogo, a sua complexidade e, ao mesmo tempo, a sua simplicidade, para evitar imagens falsas. Porque mesmo que cultura e futebol andem agora de mãos dadas, poucos cineastas são suficientemente futeboleiros para saber filmar a modalidade. E, os que o são, sabem que estão perante infinitos handicaps, principalmente aqueles relacionados com os jogadores/actores. A primazia, por respeito e até pela lógica de uma indústria imparável, é dada aos actores; e os inconvenientes com a bola que parece mais quadrada do que redonda multiplicam-se até ao desastre. Não serão os fantásticos anúncios publicitários destinados ao futebol - principalmente os da Nike - a prova que é mais fácil transformar um jogador num actor que o inverso?

A esperança surge mesmo nestas novas vias, da publicidade às transmissões televisivas. O dinamismo com que os grandes jogos são hoje filmados, com jogadas e não-jogadas capturadas ao mais pequeno detalhe, na multiplicação das câmeras ao slow motion, das gruas e cabos aéreos aos travellings, tudo isso prova que os realizadores de televisão descobriram a forma ideal de tratar o futebol numa tela, forma essa que os cineastas não podem ignorar. Um transmissão televisiva de um jogo de futebol tem hoje rasgos de autor, partilha elementos artísticos com o cinema e deixa as imagens falarem por si próprias. Controlar estas imagens é controlar o jogo. Mas mesmo quando não se trata de um jogo a sério, a publicidade - esse ramo tantas vezes denegrido pelo cinema - mostra que é possível transmitir sensações, rivalidades, tradições, heroísmo e uma sensação de aventura através de metáforas associadas ao movimento de uma bola entre jogadores, crianças, heróis e vilões, seja num aeroporto movimentado ou numa arena em pleno inferno. De uma vez por todas, chegou a hora de cinema e futebol encontrarem o seu lugar no meio de tantas possibilidades. Por outras palavras, chegou o momento de aparecer um "Raging Bull" futebolístico, um "Any Given Sunday" europeu.