sábado, abril 25, 2020

Paths of Glory (1957)

Kirk Douglas disse uma vez numa entrevista que não precisava de esperar cinquenta anos para saber que "Horizontes de Glória" seria sempre um grande filme. Pois bem, morreu este ano, com 103 anos de muita vida, a saber que tinha tido razão. Banido durante duas décadas em França pela forma como retratava a hierarquia militar gaulesa durante a Primeira Guerra Mundial, "Paths of Glory" segue inicialmente uma batalha numa "terra de ninguém", onde tropas francesas e alemãs lutam pela conquista de metros de terreno, num jogo militar estratégico que, de forma absurda e sem qualquer objectivo plausível, provocava incontáveis baixas - principalmente aos franceses. Segue-se um julgamento por cobardia na face do inimigo, uma luta de galos - os hierárquicos superiores - que procuram encontrar bodes expiatórios para os seus fracassos ao mesmo tempo que passeiam por pomposos chateaux ou participam em festas espalhafatosas da alta sociedade. Sobrou a câmara implacável e fervilhante de Kubrick entre trincheiras e tribunais e uma performance sentida de Douglas contra a injustiça e, porque não, estupidez humana. Nos estonteantes quinze minutos finais, a esperança do espectador transforma-se em dor, numa cena de execução que afinal não teve nenhuma reviravolta que a impedisse; de seguida, a dor desvanece-se no comportamento animal e irracional do Homem perante uma rapariga alemã capturada para mero entretenimento das tropas; e eis que, quando já ninguém esperava, finalmente surge a cambalhota emocionante, uma voz apaixonante que os faz render, chorar, sentir o peso da condição humana. Por um momento apenas, claro, que a Guerra continuava logo de seguida.

Sem comentários:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...