quarta-feira, maio 10, 2006

Inside Man (2006)

Quando "Inside Man" saiu e eu vi o nome de Spike Lee associado a um filme tipicamente comercial, fiquei renitente em deslocar-me ao cinema para o visionar. Mas depois de tantos e tantos aplausos da blogosfera cinéfila, e até, da imprensa especializada, lá fiquei eu repleto de prévias e saudosas espectativas, que me levaram a ir assistir com urgência ao mais recente filme de Spike Lee, dono e senhor de uma das obras mais marcantes dos últimos anos, “25th Hour”. Como se isto não bastasse, ainda sabia que no elenco ia encontrar nada mais nada menos do que Denzel Washington e Clive Owen, dois dos meus actores de eleição. Ora bem, temos então logo à partida um realizador com provas dadas, dois excelentes protagonistas, um enredo interessante e o fantasma do filme para massas e não para a mente afastado. Mas será “Inside Man” tão bom como realmente o proclamam?

A resposta é não! É a mais pura das verdades que Spike Lee consegue juntar um argumento engenhoso, um humor subtil, óptimas representações, uma montagem eficiente e um ponto de partida sem dúvida interessante em “Infiltrado”, mas tudo isso por vezes não basta quando finda o filme e pensamos cá para nós: “Ok, isto foi inesperado q.b mas e então?”. Se estilo não falta ao novo filme de Spike Lee, também não é mentira se dissermos que o argumento poderia ter dado para muito mais. Mais quebra-cabeças, mais diálogos profundos e com classe, mais invenções de realização e por aí adiante.

Agarremos por exemplo na personagem de Jodie Foster. Será que todo o conceito e importância da mesma não poderia ter dado para mais do que 5 ou 6 minutos “on-screen”? Aliás, mesmo as personagens de Denzel e Owen são extremamente mal estudadas e aprofundadas. As suas razões e motivações são pinceladas muito levemente e toda a intriga acaba por cheirar a falsidade. Se tudo isto tivesse acontecido nas mãos de algum realizador estreante ou menos dotado, era desculpável e “Inside Man” até seria um bom exercício de estudo e de esperança futura. Agora das mãos e cabeça de Spike Lee esperamos sempre muito mais, o que torna mais fácil a critíca negativa.

Aliás, o próprio Spike Lee sabe que a principal razão do seu sucesso foi sempre ter sabido mexer, de uma forma ou de outra, com o interior dos seus “súbitos”. Fosse qual fosse o assunto, Lee tocava, inquietava e deixava o espectador a pensar quando saía da sala de cinema. E com este “Inside Man”, é mais do que óbvio que Spike Lee puramente não se preocupou com isso. Não reinventou o género para um estilo mais próprio e encontrou a mediania desnecessária conservadorista, necessária entretanto para encher, mais do que é normal, os bolsos. Será que tal como tantos outros o fizeram, Lee também rendeu-se ao “monstro” do dinheiro?

Longe de ser um mau filme, “Infiltrado” também não é um filme fora do vulgar. É um filme para massas de um realizador que por norma nos habituou a algo mais restrito e pessoal. A sua (bem como a de Denzel e Clive) energia não é suficiente para adoçar a verdadeira amargura que foi esperar tanto e ter tão pouco de Spike Lee. A todo a obra falta a subtileza de outros tempos, os momentos profundos de reflexão (Edward Norton, 25th Hour anyone?) e a paixão clara pelo assunto em causa. Esperemos então pelo próximo para descalçar esta pequena pedra do sapato.

2 comentários:

Anónimo disse...

Vejo que concordas comigo relativamente a este filme :). Boa análise!

Abraço

Carlos M. Reis disse...

Mário e Helena, obrigado pela passagem. Pelos vistos não fui o único desiludido com o filme.

Cumprimentos.

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