sábado, dezembro 02, 2006

Borat: Cultural Learnings Of America For Make Benefit Glorious Nation Of Kazakhstan (2006)

"Borat: Aprender Cultura da América Para Fazer Benefício Glorioso à Nação do Cazaquistão” é estúpido? Sim. É um filme na verdadeira essência do termo? Não. Se é das obras mais hilariantes da última década? Definitivamente sim. De trazer as lágrimas aos olhos. E a meu ver, a uma boa comédia não deve ser pedido mais do que isso: eficácia de riso. Num mercado saturado de comédias leves e politicamente correctas (Will Farrell, Adam Sandler, Ben Stiller, Owen Wilson e por aí adiante...), em que tudo é mais do mesmo, “Borat” mistifica a criação de uma nova fronteira: a do absurdo inteligente.

Moralmente incorrecto, irresponsável tanto religiosa como etnicamente, Borat Sagdiyev (o inglês Sacha Baron Cohen, também conhecido pela sua personagem Ali G) é um repórter cazaque enviado para terras do tio Sam, com o objectivo de documentar para a televisão do Cazaquistão o “maior” país do mundo. Mas acaba por se apaixonar por C.J, das Marés Vivas e a focar a sua viagem nesse mítico símbolo americano que é Pamela Anderson. Básico (muito devido ao choque de culturas) mas hilariante, simpático mas cruel, fictício mas a demonstrar a triste realidade (vejamos o cowboy de rodeo a falar sobre estrangeiros), Borat transforma o que antes era vergonhoso e extremo falar e brincar em saudável e natural. Sem medos.

E porque é que “Borat” é tão eficaz a fazer rir? Porque a própria realidade é o melhor suporte para qualquer comédia. Por mais falso e exagerado que o humor seja, é baseado em pessoas reais, em preconceitos naturais, em provocações existentes. Ao contrário do que muitos podem pensar, quem é “gozado” são os americanos e não tanto os habitantes do Cazaquistão. Estes são apenas estereótipados, correcta ou incorrectamente, através da figura de Borat. Personagem falsa, logo não tão grave como as reais barbaridades que vemos acontecer na “terra dos sonhos”.

Em suma, “Borat” é um falso documentário, por vezes repugnante e ofensivo, mas que faz rir do princípio ao fim. Faz rir porque é ingenuamente real e não tem preocupações com nada nem com ninguém. Uma comédia de embaraço para ser visto com os amigos. Mas não, não é só para rir. Em muitas cenas, é para pensar também. Pensar como é que o ser humano, por mais informado que seja, em tantos lados, pode ser tão simplório e ignorante.

20 comentários:

Hugo disse...

Confesso que só ri nos primeiros 2-3 minutos (se tanto!). Borat é sinónimo de insulto e abuso. Quer dos objectos que se propõe abordar, quer dos intervenientes acidentais que se cruzam com Sacha Cohen. Mas dá que pensar. Muito. O Primeiro ponto de reflexão é, acho, sobre os limites do humor. Sacha Cohen quebrou-os todos. Para o bem e para o mal...

Agora como "filme", não vale mesmo um caracol. Acho eu.

Carlos M. Reis disse...

Concordo completamente quando diz que Borat é sinónimo de insulto e de abuso. Extremo mesmo. Mas está ai a sua piada, não enquanto filme em si, mas como comédia eficaz. Ou se lhe faltar os requisitos para sequer ser chamado de comédia, para fazer rir de forma eficaz, seja o que ele fôr.

Mesmo para mim que gostei, estou longe de considerar Borat um filme. Mas que do material que tem aparecido nos últimos anos no cinema com o objectivo de provocar umas gargalhadas no espectador, este foi sem dúvida alguma o mais bem sucedido, foi. Não me lembro da última vez que tinha ido ao cinema e tinha ouvido gargalhadas constantes durante todo o filme, culminadas com uma salva de palmas no final.

Quanto aos limites do humor, é uma boa questão para ser debatida. Aliás, tal como disse na minha crítica, Borat cria a sua própria fronteira e ultrapassa-a.

Cumprimentos Hugo.

Hugo disse...

Ora nem mais! :-) Cria a fronteira e ultrapassa-a.

brain-mixer disse...

Fiquei sem perceber se as situações provocadas na rua eram reais ou combinadas... Se à maneira de Jackass ou se havia "acordo" entre os intervenientes. Pareceu-me ser genuíno. Ora sendo assim, o filme é um grande sovão à cultura americana, um "apontar o dedo" à sociedade mesquinha que é a dos EU de A.

No final, recapitulando todo o filme, Sacha teve muita lata em correr em pelota no meio do pessoal, arriscar ser linchado no meio do rodeo e poder mesmo assim ganhar milhões nas bilheteiras com o próprio povo a pagar... E a gostar!

Dark Electronic disse...

Eu achei um pouco decepcionante. Pareceu-me um longo episódio do programa dele :x
Mas pronto, deu para nos enojar/divertir um pouco.

Carlos M. Reis disse...

Edgar, pareceu-me que algumas eram reais (as de rua principalmente, pela cara das pessoas), mas outras nitidamente combinadas (a da noite passada em casa dos judeus etc). De qualquer forma não me preocupa minimamente. Ri imenso só com a possibilidade de serem reais, mesmo que não sejam. Um abraço.

Dark, a mim superou e bastante as minhas espectativas, que eram baixas pois detestava Ali G e o pouco contacto que tinha com Borat não era lá muito positivo. Um abraço!

Pedro Duarte disse...

Bem, tomando como verídicas as notícias que me têm chegado pela comunicação social (isto de lhe chamar "comunicação" têm que s lhe diga) não acho moralmente correcto que as pessoas filmadas do cazaquistão tenham sido pagas a tostões enquanto que o filme gerou milhões (como seria de esperar, tenho a "estrela" da MTV).

Tb não é moralmente correcto que algumas das pessoas apanhadas tenham perdido o seu emprego.

Mas se calhar o moralmente correcto foi atirado completamente p o lixo nestes tempos... Até no cinema.

Nao me choca q o tal de Borat faça o q queira dentro do filme. Agora, prejudicar irresponsavelmente outras pessoas na vida real, isso é outra história.

Por acaso li q pessoas q gostaram do filme gostariam de ver o mesmo aplicado a Portugal em vez do Cazaquistão. Posso apostar qual seria a reacção.

Carlos M. Reis disse...

Caro Pedro, nenhuma cena foi filmada no Cazaquistão. Foi tudo filmado na Roménia e nos Eua. Nenhum cazeque aparece sequer no filme.

Acho estranho as pessoas terem perdido o emprego, e se perderam foi por culpa própria, pois para as imagens aparecerem tiverem que ser feitos acordos. E as pessoas concordaram, receberam a sua parte e só por isso passa no filme. Existem dezenas de cenas cortadas que podes ver no Youtube, que os envolvidos não aceitaram entrar no filme.

O próprio Kid Rock divorciou-se de Pamela Anderson por ela ter, depois do que aconteceu, aceitado o acordo para aparecer no filme por bastante dinheiro.

Um abraço!

MPB disse...

Ainda não vi o filme, mas o filme levanta-me desde logo um sem numero de questões estetico-etica, já para não falar em Etnicas.

Filmar o casaquistão na Roménia e pagar 5 euros às pessoas (segundo noticia da Sic) desde logo mostra uma certa arrogância de Produção. Porque não se filmou no Casaquistão? Até que ponto é que o Casaquistão e a Roménia são parecidos culturalmente? Pouco ou nada, segundo alguns emigrantes do Casaquistão.
Depois o humor deve ter limites???? Porque não, é como a liberdade a liberdade tem limites quando se tenta ultrapassar e pisar a Liberdade dos outros. O cinema não tem limites? Não terá, esteticos, tecnicos, formais... agora a ética tem de estar sempre ligeiramente presente.

É claro que a maior parte dos filmes são feitos em cenários fictícios ou outros locais que sejam parecidos para recriar o ambiente de outro local (LEONE e os seus westerns filmados em Almeria, Espanha), mas se o filme "BORAT" é algo que pretende gozar com uma realidade com um aspecto documental, então estamos a desrespeitar uma questão ética com a própria estática, se assim é deveriam ter de ir filmar ao Casaquistão, à procura da realidade que procuram "promover". Seria como Pedro Costa querer filmar "juventude em -marcha" no bairro do Aleixo no Porto e fazê-lo passar pelas Fontainhas.

Cumprimentos :d se calhar ta aberta uma discussão não sobre o filme mas sobre aspectos FORA do filme e mais virado para os produtores sanguessuga de Hollywood. ;)

abraço

Carlos M. Reis disse...

Julgo que Borat está proibido de entrar no Cazaquistão, logo, mesmo que a produção assim desejasse, seria díficil. Depois certamente teriam bastantes problemas governamentais.

Depois, acho que a questão do sítio de filmagem acaba por ser irrelevante. São 3 ou 4 minutos do filme que ocorrem supostamente no Cazaquistão. Muito mais grave é o que supostamente Borat como cazeque pensa, e que esteriotipa esse povo. De um semitismo atroz e despropositado. Desnecessário até, e a razão pela qual não lhe dei nota máxima.

Um abraço Ne-to, obrigado pela visita. É sempre um prazer.

Anónimo disse...

Este "filme" (leia-se rol de gags humoristicos) é das melhores comédias que vi nos últimos tempos. Não me lembro da última vez que tenha entrado numa sala de cinema e me tenha engasgado de tanto rir, nem de houvir tantas gargalhadas sinceras á minha volta (maioritariamente masculinas, confesso).

Qualquer filme que tenha a frase "por tua causa o meu BIGODE ainda cheira a merd...", tem o meu voto positivo!

Mas pronto... o que é que percebo de "politicamente-correctos", e onde é que isso interessa, realmente?

Um abraço.

Anónimo disse...

Acho que estamos perante um tipo diferente de humor. Que não consegue ser catalogado. O formato deve muito aos apanhados, mas a caricatura grosseira do actor revela mais sobre as pessoas com quem se relaciona do que dele próprio. O facto de ele ter filmado o seu background na roménia só diz que isso é completamente irrelevante, porque verosímil.
Eu gosto do humor e de como ele confronta os outros através da sua falsa ingenuidade ou de trocadilhos linguísticos.
Já agora, as pessoas do cazaquistão não são cazeques, mas sim cazaques, e diz-se "estereótipados"... ;-)
abraços
frunobulax

Carlos M. Reis disse...

Nunca tive dúvidas que Borat, com aquela bigodeira, seria do teu agrado irmão gémeo maléfico :) Um abraço.

Frunobulax, tens toda a razão nos dois apontamentos. Serão corrigidos :) Obrigado. Eu também gostei deste tipo de humor sem catálogo :) Cumprimentos.

Juom disse...

É uma comédia engraçada, divertida e, sem dúvida, ofensiva. Mas não é bem cinema, mas sim como antes foi dito, uma versão longa do programa de televisão, o que lhe retira algum fulgor.

Quanto aos limites do humor, é sempre uma questão complicada e penso que depende de cada um. Eu julgo que é muito difícil encontrar limites no humor, mas por outro lado também nunca fui vítima de um ataque tão agressivo como o que "Borat" lança às suas vítimas. Claro que, ainda assim, foram elas que se disponibilizaram a dar a cara e, como pode acontecer com qualquer pessoa com quem nos cruzemos na rua, estão sempre sujeitas a apanhar um maluquinho qualquer, como foi o caso.

Aliás, João Lopes, na sua crítica ao filme, refere o exemplo do programa de televisão que foi invadido por "Borat" e causou o despedimento da produtora do mesmo. Ora, não se percebe como é que numa crítica onde se ataca a irresponsabilidade televisiva, se defenda alguém que, produzindo um programa de televisão, desconheça "Borat" ou nem sequer se tenha dado ao trabalho de investigar a sua origem e o seu trabalho antes de o aceitar no programa. E é essa mesmo a arma maior do filme: conseguir extrair da sua grande estupidez coisas bem mais estúpidas que normalmente nos passam despercebidas.

Carlos M. Reis disse...

Eu acho que toda a discussão sobre o filme foi muito bem feita no blogue do Nuno Markl. Várias opiniões, vários lados, teorias do humor em Portugal e explicações.

Um abraço Paulo.

Anónimo disse...

Muito bom! Creio que parte do sucesso da abordagem de Borat, vem da condição do público que ele aborda. È a paranóia coletiva dos americanos que ele capta no filme. Borat consegue explicitar a loucura da sociedade yankee com uma personagem aparentemente rasa, idiota. E em tempos do "politicamente correto", um manto de formalidade e hipocrisia, é saudável ver alguém questionar isso de forma tão irreverente. Se borat viesse ao brasil, em semelhante expedição, e por acaso passase por salvador, não tenho dúvidas, que arrancaria gargalhadas de muitos daqueles que abordasse.

Flying Dutchman disse...

Nao vou estar a formular o conteúdo supramencionado por palavras mionhas, concordo com grande parte dos comentarios!

Para mim uma cena bastante forte é naquele bar onde ele canta "throw the jew down the well", sabendo que o Sasha Cohen é judeu (como o nome indica). É uma excelente forma de crítica à sociedade, vamos ver o que Cohen vai fazer nos próximos anos...
abraço

Flying Dutchman disse...

^^minhas

Carlos M. Reis disse...

Anónimo, concordo por completo ;) Cumprimentos.

Huge Dutch, a caminho vem um filme de Bruno, a sua outra personagem da série, um cabelereiro homossexual. Tem potencial mas confesso que nunca engraçei com a personagem, ao contrário de Borat. But... let's wait and see ;) Um grande abraço!

Ricardo disse...

Filme muito bom!

Alguém aí sabe o nome da música que toca de fundo quando Borat se apaixona por CJ ao vê-la num episódio na TV?

qualquer coisa...
mande para:

ricardo@veran.srv.br
ricardu.sd@hotmail.com


abraços

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