terça-feira, outubro 20, 2009

District 9 (2009)

Já lá vão vinte anos desde que uma nave espacial repleta de extra-terrestres semelhantes a camarões gigantes “estacionou” nos ares de Joanesburgo, capital da África do Sul. Foi o seu primeiro contacto com o planeta Terra e a dimensão assustadora da nave prometia um ataque iminente e uma espécie hostil e mortal para os humanos. Mas nada disso acabou por se confirmar. Antes pelo contrário: sem poderes e inadaptados, os seres de outro mundo tornaram-se refugiados na Terra, depois das grandes forças políticas que governam e regulam o planeta terem decidido ostracizá-los num campo de concentração: o famoso Distrito 9, que dá nome ao filme.

Numa alegoria óbvia, clara e descarada – o que por si só contraria a essência indirecta da forma de estilo – ao Apartheid, o regime de separação e exclusão social que vigorou durante gerações no país que serve de base aos acontecimentos de “District 9”, o realizador também ele sul-africano Neill Blomkamp orquestra uma obra habilidosamente política, moderadamente original e, acima de tudo, soberanamente cativante. Mas será “Distrito 9” um dos maiores marcos do seu género cinematográfico – aquele que encerra em si tantos amantes como difamadores -, tal como tem sido apelidado um pouco por todo o lado? A resposta parece-me ser negativa.

Isto não quer dizer que “Distrito 9” seja um mau filme, muito pelo contrário. Serão, inclusivamente, as altas expectativas que foram criadas à volta da estreia do filme no continente americano que têm desiludido alguns dos cinéfilos internacionais da obra, até agora delirantes com a notável propaganda de passa a palavra que surgiu inesperadamente através de correntes de informação cibernética. Isto, como é óbvio, para não falar da atractiva, original e deliciosa campanha de marketing que rodeou a promoção do filme.

Com influências óbvias de filmes como “Invasion of the Body Snatchers” ou “Starship Troopers”, “Distrito 9” é a continuação natural da curta-metragem de estreia de Blomkamp, “Alive in Joburg”. Enquanto falso documento, “District 9” é brilhante; enquanto drama de acção, não há nada que o faça realçar dos padrões e desenvolvimentos narrativos típicos do género. Mas quando a ideia central é tão espirituosa, as falhas acabam por ser naturais e não são suficientes para arruinar o projecto no seu todo.

Em suma, “Distrito 9” aborda assuntos tão díspares como os conflitos raciais, a moralidade de experiências laboratoriais à Dr. Mengele ou a fragilidade da condição humana. É essa preocupação que o torna no mais interessante “blockbuster” do Verão, deixando antever uma luta de David contra Golias na comparação na praça pública com “Avatar”, de James Cameron, a estrear no final do ano. Dê por onde der, “Distrito 10” será certamente uma realidade no futuro.

8 comentários:

Bruno Cunha disse...

Este filme é mesmo muito bom...gostei imenso, especialmente porque o filme não foi muito divulgado tendo pouco marketing de início e só depois de atingir um mini "blockbuster" é que começou a ser visto com olhos de gente...

É pena que muitos filmes como este passem despercebidos e só alguns(felizmente este) são reconhecidos a tempo...

Abraço

Tiago Ramos disse...

É uma das surpresas de 2009 e revela-se uma lufada de ar fresco no género sci-fi. Pena a segunda metade que se assemelha a um filme de Michael Bay, mas o estilo mockumentary (apesar de já não ser original) assenta-lhe que nem uma luva. Sobretudo a sua ironia social, muito relacionada com o Apartheid torna-se bastante interessante.

F. disse...

Obrigado por chamares camarões e não gafanhotos!

É uma bela surpresa. Uma brisa de bom cinema. Uma lufada de uma boa história.

Poderia desenvolver-se melhor mas eu gostei muito

lmlas disse...

Gostei do filme... No entanto apercebi-me de uma falta de coerência na forma como a estória é trazida até nós... Ora começa em mockumentary como a seguir abandona esse estilo e passa a ser um filme normal, sendo que mais tarde volta ao estilo mockumentary. Para mim foi o perder desse fio condutor que estragou aquilo que podia ser um grande filme. Ou se segue um caminho, ou se segue outro.

Nuno Pereira disse...

Eu sou um daqueles que apesar de algumas falhas considero este District 9 um titulo absolutamente Sci-Fi.. entre os melhores do genero!

O Argumento é tão bom que ficamos com aquela sensação ... o que isto poderia ter sido!!!

E depois quem é que não gosta de sair do cinema a comentar o filme que acabou de ver.... e este é daqueles que dá para falar pelos cotovelos :)

brain-mixer disse...

Só achei que o personagem não consegue criar empatia (nenhuma!) com o espectador. Cobarde e traiçoeiro, terá sido só a mim que desejava ver o gajo morrer?
Desabafo dado e passadas umas semanas após ver o filme, vejo agora como uma boa jogada do realizador ao se afastar do herói-modelo...

Anónimo disse...

apesar de abordar assuntos interessantes como os referidos, o filme é francamente mau.

Unknown disse...

Achei que a proposta do filme foi bem executada. Acredito que uma continuação seria bem aproveitada!
Abraço a Todos!

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