Seria politicamente correcto e moralmente salutar num círculo fechado e vicioso como é o que rodeia o cinema em Portugal – em todas as suas demais vertentes – nunca trazer para este espaço de opinião editorial um ou outro apontamento que se assemelhasse, mesmo que não tenha essa intenção, a um ataque à “concorrência”. “Concorrência” essa que, antes de mais, não existe e nunca existirá num mercado que tem espaço para mais do que uma publicação e em que a existência de uma não anula a outra. Diga-se a verdade, todos sabemos que o público a quem se dirige uma revista de cinema nunca ficará saciado com o mínimo e indispensável. Mais do que uma alternativa, qualquer publicação extra de cinema será sempre um complemento, seja para os cinéfilos portugueses, seja para quaisquer outros. Na Take, fomos os primeiros a saudar o regresso da Premiere portuguesa em Outubro do ano passado. Temos pena que, no sentido inverso, o sentimento de atracção moral não pareça ser o mesmo, segundo relatos de algumas conversas que acabaram por ser menos privadas do que era suposto. Isto tudo quando nem sequer actuamos na mesma plataforma. Será que algumas críticas e comparações menos desejadas custam a engolir?
Seguindo em frente, vejo este mês passado o director da maior e mais conceituada revista portuguesa de cinema presente nas bancas – ah, é verdade, a única – antever no seu editorial que com tantos “remakes” e “reboots” que aí vêm, “o cinema dos próximos tempos vai ser baralhar e dar mais do mesmo”. Na mesma edição, dá classificação máxima ao “remake” de “Assalto ao Metro 123” e classificação mínima ao inovador e refrescante – apesar de ser baseado (e não mais do que isso) num série-B de Enzo Castellari - “Sacanas sem Lei”, categorizando-o como “diversão barata” e os seus diálogos como “longa verborreia e maçadora conversa”. Longe de colocar em causa a opinião pessoal de cada cinéfilo sobre um determinado filme – essa será sempre indiscutível -, mas onde está a coerência? Como provocação – esta sim, verdadeira – resta-me citar as palavras de um dos nossos convidados desta edição, o gentil director de programação do “Douro Film Harvest”, Salvato Telles de Menezes, a propósito da última obra de Tarantino: “só quem é cego não capta o grandioso barroquismo técnico-formal de “Sacanas Sem Lei” e a ironia e a nostalgia que permeiam todas as imagens e todos os diálogos. Quanto à pirotecnia da violência, como disse William Faulkner algures, “cigarros e pijamas são coisas de mininos e de mulheres”. Et voilá...
3 comentários:
Devem ser as "tradições futebolísticas" que correm no sangue de muitos portugueses que causem essas azias aos tais senhores que preferem fechar os olhos às mudanças que se assistem.
... É que, como disseste, nem se dão ao trabalho de ser coerentes... é só atirar da boca pra fora e pronto, ficam contentes (ou descontentes, ou lá que seja.)
Parabéns a mais uma edição da Take! :)
já o disse uma vez e volto a repetí-lo. Esqueçam lá essas querelas. É um desperdício estar a gastar-se um editorial com fogo de artifício inócuo. Assim até parece que quem está preocupado com a "concorrência" são vocês.
mais uma bela edição da Take!
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