Dono de uma simpatia contagiante, Larry Thomas ficará para sempre na história da televisão norte-americana como o “Nazi das Sopas”, uma das personagens mais divertidas e exacerbadas dos anos noventa. Com mais de trinta anos de carreira em Hollywood, bastou-lhe uma breve aparição em “Seinfeld” para arrecadar uma nomeação aos Emmys e ficar para sempre associado à personagem. A Take teve o prazer de o entrevistar, numa conversa à qual nem Osama Bin Laden ou Uwe Boll tiveram oportunidade de passar impunes.
Larry, antes de começarmos, obrigado pela entrevista. O que fazes para te divertir quando não estás a trabalhar?
Adoro ver filmes. Vou ao videoclube e tento ver tudo o que saiu recentemente. Também gosto de sair com os amigos e ter longas conversas com eles. Consigo ficar a falar horas e horas a fio, por isso… cuidado!
Em 1996, foste nomeado para os Emmys, na categoria de “Melhor Actor Convidado numa Comédia”, pelo teu papel enquanto “Soup Nazi”, em “Seinfeld”. Foi algo que estavas à espera ou foste apanhado de surpresa?
Temos que preencher um formulário e pagar 100 dólares para termos uma hipótese de sermos nomeados. Eu fui proactivo e, por iniciativa própria, fiz isso. Apesar de não imaginar que fosse nomeado, sabia que estava na corrida com outros trinta actores. Coloquei pequenos anúncios na Variety e no Hollywood Reporter, mas nada que se comparasse aos de outros grandes actores que procuravam essa nomeação. Na manhã das nomeações, telefonei para a sede dos Emmys e perguntei quais eram os nomes nomeados para essa categoria. Fiquei completamente em choque quando ouvi o meu nome. Foi uma explosão de alegria do início ao fim - sendo que o fim foi quando ouvi a Estelle Getty ler o nome do Tim Conway. Mas ainda nessa noite da cerimónia, o já falecido Peter Boyle foi simpatiquíssimo para mim, elogiando o meu trabalho, e isso valeu tanto para mim como ter ganho a estatueta.
Nessa altura, sentiste que a tua carreira ia mudar. O que esperavas que viesse a seguir?
Claro que sim. Não fazia ideia do que esperar mas tinha a noção de que tinha ganho o respeito de muitos com aquela nomeação. Pensei que os directores de casting iriam lembrar-se de mim para vários projectos.
O “Soup Nazi” quase que merecia uma série homónima. Que personagem maravilhosa. Podes-nos contar como conseguiste o papel? Alguma história divertida de bastidores?
Obrigado. Foi um processo normal de casting. Para lá chegar, pedi ao Jeffrey Tambor (estudávamos juntos) para me apresentar ao Marc Hirschfield, que era o responsável de casting da série. Na altura, trabalhava para uma empresa que cobrava dívidas e o Marc ficou fascinado com isso. Telefonou-me na noite anterior ao casting a convidar-me para aparecer e disse-me que não havia guião, apenas que era um tipo chamado “Soup Nazi” e que era preciso uma pronúncia do Médio Oriente. Após desligar a chamada, coloquei logo a minha cassete do “Lawrence of Arabia” e tentei imitar a pronúncia do Omar Sharif. Imaginei-me no cenário a dizer ao George: “You, small fry, get to the end of the line or no soup!”. Na manhã seguinte, com a minha barba de alguns dias e o meu bigode que faziam com que me parecesse com o Saddam Hussein, vesti uns verdes militares e um barrete e lá fui para o casting. Era essa a imagem que tinha da personagem. Quando lá cheguei, acabei por dizer “No Soup for You” e frase ficou no ouvido de quem lá estava. Três semanas depois, recebi uma chamada para ir ler o guião do “Soup Nazi” para o Jerry, o Larry David e o guionista, Spike Feresten. O Jerry desmanchou-se a rir enquanto eu ainda estava a representar e foi ai que me apercebi que estava no bom caminho. Quando acabei, fizeram-me esperar cerca de 40 minutos e chamara-me de volta à sala. O Jerry pediu-me para ler o guião uma vez mais, mas sem ser tão malvado. Fi-lo, mas ele não se riu por aí além. Lá esperei mais 40 minutos e fui mandado para casa, sem nenhuma confirmação de que tinha sido escolhido. Pensei que não tinha ficado com o papel. Mas eis que quando estava quase a sair do prédio, o Jerry apanhou-me e disse-me para estar de volta passado uma hora, para começar a filmar. Pediu-me para esquecer o que ele tinha pedido e fazer em estúdio o que havia feito na primeira tentativa de casting. Sempre o respeitei pela coragem em deixar de lado o seu ego enquanto produtor e ter dado o braço a torcer. O “Soup Nazi” estava destinado a ser assim. Posteriormente ouvi que eles discutiram na sala de casting, pois o Jerry e o Larry queriam escolher outro actor, mas que o Spike Feresten disse: “Adorei o que o Larry fez. Eu quero um nova-iorquino irritado e mal disposto e ele é o melhor para isso”. Acho que é isso que sou, de gema. Mesmo vivendo na calma Los Angeles, ninguém me tira Nova Iorque do coração.
Continua...
Entrevista publicada na Take 14, edição Abril de 2009.
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