A Kyle (Nicolas Cage) e Sarah (Nicole Kidman) nada falta: uma luxuosa mansão protegida pelos mais sofisticados sistemas de segurança, piscina, carros topo de gama, muito dinheiro (ou não lidasse Kyle com diamantes) e uma filha que, apesar de estar a passar por uma fase rebelde, os adora. Tudo perfeito até ao dia em que quatro ladrões, disfarçados de seguranças, assaltam a casa e prometem não sair de lá enquanto Kyle não abrir o cofre, custe isso o que custar. Com o objectivo de assegurar que a sua mulher e filha sobrevivem ao assalto – a família já viu as caras dos assaltantes e por isso não acredita que os deixem sair de lá vivos após estes terem conseguido o que queriam -, Kyle vai usar uma série de truques baratos e psicologia barata para evitar um banho de sangue. Mas saberá ele de todas as cartas que estão na mesa?
“Transgressão” é mais um exemplo da quão degradante se tornou a carreira de Joel Schumacher. O um dia interessante realizador de “Falling Down”, “The Client” ou “A Time to Kill”, é hoje uma sombra de si próprio. E pior do que um filme do novo milénio com Joel Schumacher, só um filme do novo milénio com Joel Schumacher e Nicolas Cage, outro que, nos longínquos anos noventa foi um dos meus heróis favoritos de acção e que, recentemente, não dá uma para a caixa. Ou, melhor dizendo, cada filme que passa coloca mais um prego no seu próprio caixão. E já que estamos a falar do elenco, o que dizer de Nicole Kidman, cujo talento de outros dias foi neste filme substituído pelo botox e gritaria sem emoção?
Dito isto, mais triste é afirmar que o problema principal de “Trespass” está longe de ser o seu elenco e o seu realizador. Apresento-vos o guião, meu Deus, o guião. Não há ponta de originalidade – já vimos este filme dezenas de vezes -, não há preparação nenhuma para a acção e, pior do que isso, não há sequer vestígios de um único neurónio nas atitudes e armadilhas de heróis e vilões. Numa comparação futebolística adaptada a este género de thrillers, se “Panic Room” está para o cinema como Cristiano Ronaldo está para as balizas adversárias, “Trespass” equipara-se a Hélder Postiga. Sim, esse mesmo que diz que “nunca foi um avançado de marcar muitos golos”.
Flop total na bilheteira cinematográfica norte-americana – foi lançado em DVD apenas dezoito dias depois de ter estreado nos cinemas (e isso quer dizer alguma coisa) -, arrecadando uns miseráveis vinte e cinco mil dólares, quando o seu custo de produção está estimado nos trinta e cinco… milhões de dólares, “Transgressão” consegue ainda três notáveis feitos: que o espectador esteja a borrifar-se para o que vai acontecer à família do herói no final do filme; que a casa, apesar de toda a situação de terror, nunca se torne claustrofóbica; e, finalmente, ter aquele que é provavelmente um dos mais sérios candidatos a pior poster dos últimos anos.
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