Margaret Thatcher é hoje uma sombra da mulher forte, decidida e lúcida que durante mais de uma década criou amores e ódios no Reino Unido, com as suas políticas ultraconservadoras mas quase sempre determinantes para o sucesso económico e social britânico, dentro e fora de portas. O seu falecido marido continua a fazer parte do seu dia-a-dia, com alucinações que preocupam todos aqueles que a rodeiam menos a própria "Dama de Ferro", que as usa como motivação para continuar a viver e, através de conversas imaginárias, recordar os momentos mais marcantes da sua vida pessoal e política.
Retrato triste e eficaz sobre o envelhecimento, "The Iron Lady" é, no entanto, uma obra biográfica que não faz jus à carreira política de uma das mulheres mais influentes e poderosas da história recente, reduzindo momentos capitais da sua vida profissional a breves cenas em que imagens de arquivo misturam-se com frames ficcionais e, por outro lado, histórias familiares pouco ou nada interessantes prolongam-se infinitamente entre conversas banais, memórias retorcidas e mensagens sensacionalistas. Realizado por Phyllida Lloyd ("Mamma Mia!"), o grande destaque vai, naturalmente, para mais uma interpretação arrepiante de Meryl Streep, que encarna a personagem e todos os seus maneirismos na perfeição, valendo-lhe merecidamente mais um Óscar na sua carreira. Mas se Streep é fenomenal, o filme não o é, desvalorizando incompreensivelmente o contexto das grandes batalhas que Thatcher lutou, obrigando o espectador quase sempre a focar-se na inevitabilidade do passar dos anos na perca das nossas faculdades - e a sentir-se mal com isso - invés de o atrair para a personalidade única de uma líder governamental que marcou gerações. Com um estilo narrativo desadequado, "A Dama de Ferro" futiliza-se a cada minuto que passa. No fim, mais do que admiração por Thatcher, temos pena dela; e eu não acredito que isso a deixasse contente.
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