Martha e Jonathan Kent mantiveram durante anos um segredo que sabiam que iria mudar o mundo e a nossa percepção do universo assim que fosse descoberto: Clark, supostamente filho do casal, foi sim descoberto enquanto bebé num objecto de origem extraterrestre que se despenhou perto da sua quinta. Com a idade, Clark apercebeu-se que era diferente dos restantes colegas de escola, graças a faculdades especiais derivadas da sua hipersensibilidade e da reacção do seu organismo à luz solar. Mas deverá ele dar a conhecer-se ao mundo e usar os seus poderes para fazer o bem? Ou permanecer anónimo e desconhecido, evitando uma mudança radical nos alicerces da humanidade? Uma decisão que será facilitada pelo aparecimento em cena do General Zod, sobrevivente do apocalipse no seu planeta de origem Krypton e que pretende agora usar a Terra para construir uma nova casa adequada às suas necessidades.
Realizado pelo blockbusteriano da moda Zack Snyder, produzido pelo muito amado no género Christopher Nolan e escrito para a tela pelo respeitado guionista de sucessos no público e na crítica como "Inception" ou "The Dark Knight", as expectativas para o reboot daquele que já foi considerado o maior e mais influente super-herói da história dos comics eram naturalmente e justificavelmente elevadas. Talvez culpa disso, e mesmo tendo esta nova abordagem ao herói da capa vermelha muitos e bons trunfos visuais, estéticos e narrativos comparativamente com tentativas anteriores, a palavra de ordem após os créditos finais de "Man of Steel" tem sido "desilusão". As razões para tal são muitas: a fita de Snyder cai por demasiadas vezes em tresloucadas cenas de acção onde explosões, factos científicos duvidosos e lutas supersónicas - Michael Bay style - em nada contribuem para a profundidade dramática da história, sendo mesmo por vezes difíceis da acompanhar ou justificar; como se tal não bastasse, mesmo os momentos tradicionais de desenvolvimento competente de um background para o comportamento do Super Homem no presente são intercalados por pura propaganda e nacionalismo barato à nação do seu criador, os esplendorosos Estados Unidos da América, onde todos são correctos, fortes e um exemplo a seguir para o resto do mundo.
Apesar das já cansativas analogias visuais relacionadas com o afamado 11 de Setembro - uma delas, com a equipa do Daily Planet ao barulho no meio de alguns destroços, deu mesmo vontade de rir e não de chorar -, nem tudo é mau em "Homem de Aço": a longa introdução que faz a ligação entre Krypton e a Terra foi bem conseguida, com o inesperado Russell Crowe a revelar-se um Jor-El à altura de Marlon Brando. E são mesmo as escolhas pouco prováveis de todo o elenco que tornam "Man of Steel" algo refrescante: Amy Adams satisfaz na pele de uma Lois Lane nunca antes imaginada; e Michael Shannon brilha bem alto enquanto vilão, acompanhado na perfeição pela surpreendente Antje Traue. Já Henry Cavill não aquece nem arrefece vestido de azul e vermelho, deixando mesmo a impressão de algum underacting em duas ou três cenas em que o valor das suas palavras não é, nem de perto nem de longe, acompanhado pela forma pouco convincente como as diz. Falta de subtileza que poderia ter assassinado o sonho de uma nova saga, mas cujos resultados recentes na bilheteira parecem provar o contrário. A confirmarem-se novos capítulos, que venha o gatinho na árvore, as cabines telefónicas e o Daily Planet para animar um pouco a coisa. Porque o lado humano do Super Homem tem tudo para funcionar melhor entre o público e a crítica do que o lado super e extraterrestre de Clark Kent.
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