Sixto (sexto filho de um casal de imigrantes mexicanos) Rodriguez é desde os anos setenta uma estrela pop rock ao nível dos Beetles e dos Rolling Stones na África do Sul. O único problema é que o terceiro artista mais vendido de sempre na terra de Mandela, cujas músicas foram um símbolo de liberdade, esperança e revolução em tempos conturbados de apartheid, não fez ideia disso até 1998 e, pior do que tudo, nunca lucrou com o seu trabalho pois todas as empresas que distribuíam as suas músicas nos mais variados formatos acreditavam - ou dava-lhes jeito acreditar - num velho mito que o desconhecido norte-americano se tinha suicidado em palco no início de carreira, pegando fogo a si próprio. E é exactamente a tentar descobrir detalhes dessa morte macabra que dois fãs do artista - um jornalista e o dono de uma loja de discos na Cidade do Cabo - vão descobrir que, não só este não morreu em palco dessa forma tão sádica, como está bem vivo numa cidade no interior do Texas, a trabalhar na construção civil.
Com uma voz a meio caminho entre gigantes como Leonard Cohen e Bob Dylan, Rodriguez vendeu meia dúzia de discos aquando do lançamento dos seus dois álbuns em 1970 ("Cold Fact") e 1971 ("Coming From Reality") nos Estados Unidos da América. Rendido ao facto que a música não lhe garantiria subsistência nesta vida, dedica-se à construção civil e não guarda sequer um único exemplar dos seus álbuns. Trinta anos depois, do nada, descobre que é um ícone num país que desconhece. É essa jornada do zero ao tudo, de lenda morta a herói vivo, que acompanhamos de forma surreal e comovente em "Searching for Sugar Man", documentário do sueco Malik Benjelloul que venceu recentemente um Óscar e um BAFTA.
Filmado em algumas cenas com um simples iPhone - por falta de financiamento -, recorrendo várias vezes a imagens de arquivo acompanhadas pelas músicas do até aqui desconhecido Rodriguez - e possuidor de uma alma excepcional, "À Procura de Sugar Man" relata-nos um caso tão absurdo quanto espectacular do efeito da internet na construção de um mundo global, onde a informação não fica mais retida entre continentes nem é separada por muros, oceanos ou ditaduras. Depois de anos de investigações, bastou uma simples página com um pedido de procura de informações na world wide web para receber um telefonema da filha de Rodriguez e desvendar um mistério que se condensava há décadas. Depois, uma narrativa bem construída, com um timing perfeito na ligação dos diversos elementos que prendem o espectador à expectativa da revelação seguinte tornam este documentário uma das mais interessantes obras a estrear em 2013 nas nossas salas de cinema.
2 comentários:
Já escrevi também sobre o filme, muito interessante a história e também a relação que se pode estabelecer com os media, só nesta época é que seria possível dar a conhecer à escala global o Sixto.
http://planos-perpetuos.blogspot.pt/2013/06/a-procura-pelo-homem-morto.html
Indeed Carlos. Um abraço!
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