Provavelmente Ben Collins será um nome que pouco ou nada dirá ao tradicional leitor cinéfilo da nossa revista. Mas se o apresentarmos como o "The Stig" original, aquele que criou em seu redor uma autêntica mitologia televisiva e pop, as coisas já mudam de figura. Quando em 2010 decidiu quebrar uma das cláusulas do seu contrato - manter o herói mascarado anónimo, um verdadeiro enigma para o público e para a imprensa, que chegou a pensar que dentro daquele capacete branco estaria o heptacampeão mundial de F1 Michael Schumacher (o que acabou por ser usado pelo programa num episódio para confundir os fãs) - e publicar a sua autobiografia em livro, anunciando ao mundo que era ele o "Homem no Fato Branco" - título que deu ao livro -, a sua vida virou-se do avesso. Clarkson e a produção correram imediatamente com ele de "Top Gear", mas Collins ganhou popularidade suficiente - o seu livro foi um dos mais vendidos do ano no Reino Unido e recebeu fortes elogios da crítica - para compensar financeiramente e pessoalmente a sua saída. Piloto de corridas com currículo invejável, duplo de James Bond nos últimos dois capítulos 007 e fã de Ayrton Senna, a Take mostra ao mundo o lado mais pessoal do "The Stig", numa entrevista exclusiva realizada no passado mês de Agosto.
Take Cinema Magazine: Ben, antes de mais, muito obrigado por nos concederes esta entrevista. Vamos começar... pelo fim da tua vida enquanto "The Stig": estás em paz com o trio de apresentadores do "Top Gear"? Pelo que saiu nas notícias, a coisa ficou feia entre vocês. Desde que saíste, voltaste a falar com algum deles?
Ben Collins: Depois de eles me terem tratado como um bombista por ter ousado abandonar o programa, acho que as coisas já começaram a acalmar. Já estive recentemente com o James e o Richard e demo-nos bem. Ou seja, falta apenas o outro, aquele mais alto. O Jeremy tem um forte gancho de direita mas eu sou rápido, logo espero encontrar-me com ele no futuro.
Take: Foste o "The Stig" durante oito anos, treze temporadas. Como é que tudo começou? Houve alguma espécie de casting?
Ben: Foi todo um processo muito oficial. Fui convidado pelo produtor da série Andy Wilman para um casting no circuito do Top Gear, um antigo aeródromo militar do tempo da Segunda Guerra Mundial, no meio do nada. Cheguei lá, deram-me as chaves de um carro velho, e contaram o tempo que demorei a fazer duas ou três voltas. Bati o melhor tempo por volta que eles tinham lá em dois segundos. Mas não soube logo no dia, até porque o Andy é uma velha raposa. Deixou-me dois meses na expectativa por uma resposta até finalmente contratar-me para a série.
Take: Os nossos leitores querem saber qual foi o carro que conduziste no programa que mais gostaste. E o pior! E qual a celebridade que mais gozo te deu conhecer.
Ben: Gosto muito de carros desportivos, principalmente os Ferraris. O 459 provavelmente continua a ser o meu favorito mas nunca esquecerei o dia em que conduzi o Porsche Carrera GT, o único modelo da Porsche com o motor no meio do carro. É ainda hoje um dos mais desafiantes e mais recompensadores carros que já conduzi. Desafiante porque o carro derrapou-me várias vezes durante as voltas iniciais, depois recompensador porque quando o aprendemos a conduzir, é simplesmente a melhor máquina do mundo para conduzir em velocidade. E eu adoro velocidade. O pior carro foi o TVR (ndr: carro desportivo inglês), absolutamente horroroso à vista e perigoso à condução, porque confere ao condutor uma falsa sensação de segurança e depois... tenta-te matar. Foi terrivelmente mal construído e até os espelhos estavam sempre a cair. Quanto às celebridades, gostei de conhecer todas elas mas é claro que ensinar alguns truques de condução ao Tom Cruise e à Cameron Diaz não pode ser considerado um dia normal no trabalho. Eles foram espectaculares ao volante e igualmente encantadores com a equipa longe dele. Ficamos todos surpreendidos com a sua simplicidade. O Tom quase que capotou o carro barato, mas depois divertiu-se tanto a dar umas volta a 250 km/h num Bugatti Veyron que o próprio atrasou-se para a antestreia britânica do seu filme. Inesquecível.
Take: Escreveste "The Man in the White Suit", considerado pelo New York Times como o "Garganta Funda do Mundo Automóvel". O livro foi muito bem recebido pelos fãs do "Top Gear" mas acabou por ser a razão pelo qual tiveste que abandonar o programa. Fala-nos um pouco do livro e diz aos portugueses porque é que o devem comprar.
Ben: O meu livro é leitura obrigatória para qualquer pessoa com insónias. Espero que dê uma perspectiva real das sensações que uma pessoa sente quando leva um carro ao seu limite. Quando a necessidade pela velocidade nos atinge e a adrenalina começa a correr nas nossas veias, é uma experiência mágica, uma pela qual sou viciado desde criança. Conduzir carros a 320 km/h e ser duplo de condução nos filmes do James Bond pode ser considerado por alguns como algo extremo, mas o que me deixa feliz é que consigo retirar dessas experiências, bem como da minha condução do dia-a-dia o mesmo prazer, a mesma energia. No livro há ainda, claro, inúmeros segredos sobre o Top Gear, mas nenhuma referência a qualquer "garganta funda", pelo menos que me recorde. Estou agora a trabalhar no meu segundo livro, mais focado em como conduzir bem do que na minha vida pessoal. Saiu recentemente um estudo que defendia que conduzir bem e com estilo ajuda-te a levar as miúdas para a cama, portanto é uma altura boa para lançar esta nova obra.
Continua...
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