Graham Hill, Jackie Stewart, Niki Lauda, James Hunt ou Emerson Fitiipaldi, apenas para referir alguns. Todos estrelas deste documentário sobre a época dourada da Fórmula 1, aquela que entre meados dos anos sessenta e as primeiras temporadas da década de oitenta provocou profundas alterações num dos desportos mais glamorosos, mas também mais perigosos e mortíferos dos tempos modernos. Sim, há pouco mais de trinta anos, a morte era um factor comum nos perigosos "Grand Prix", circuitos onde a inexistência de regras, barreiras, protecções e limites tanto para os pilotos como para o público tornavam a Fórmula 1 num verdadeiro circo desportivo e emocional, onde tudo valia desde atropelamentos a embates contra árvores, a carros em chamas com condutores lá dentro sem um único extintor ou socorrista por perto a corridas que não paravam mesmo que tivessem cinco ou seis carros completamente destroçados na pista. Esta é a história de como alguns carismáticos pilotos enfrentaram o poder e obrigaram quem de direito a tornar mais seguro - apesar de menos interessante - o desporto motorizado que mais paixões - e dinheiro - movimenta em todo o mundo.
Acredito numa máxima crítica: um documentário é bom quando gera interesse e capta a nossa atenção para um tema para o qual somos, à partida, indiferentes. Nunca fui fã de qualquer desporto motorizado e apenas segui a Fórmula 1 quando Ayrton Senna acelerava em manhãs épicas na RTP Açores. Não vejo, aliás, uma única corrida de F1 desde 1994, ano em que o brasileiro faleceu no Grande Prémio de San Marino, e de automóveis e motores em geral pouco percebo - até o facto de gastar aqui e ali uma pipa de massa num carro novo é, para mim, um fenómeno que não compreendo na totalidade. Dito isso, terminado "1", de Paul Crowder, fiquei cheio de vontade de trocar as tardes de fintas, defesas e remates na televisão por umas ultrapassagens e colisões em circuitos como o de Mónaco ou o de Monza.
Moldado numa estrutura narrativa muito mais cinematográfica do que documental, onde a perspectiva humana triunfa sobre o carácter técnico que justifica a sua importância enquanto relato de uma época, Paul Crowder domina de forma excelsa os timings de cada "capítulo", conseguindo manter-se interessante mesmo em períodos em que tanto enfoque na segurança e não tanto na adrenalina em si poderiam ter colocado em risco a ligação com o espectador. A narração começa por estranhar-se - apenas para mais tarde entranhar-se -, sendo os contributos regulares de lendas como Jacky Stewart ou Niki Lauda decisivos para apimentar certas histórias. Justa homenagem a lendas que deram a sua vida pelo desporto, o excelente trabalho de pesquisa de imagens e gravações é adornado com uma banda sonora electrizante que catapulta a fita para uma atmosfera magnetizante, cativante tanto para o mais acérrimo fã de duelos épicos como os de Lauda e Hunt, como para os ignorantes que desconheciam o lado boémio e playboy deste último. E porque é impossível exemplificar o progresso na segurança sem demonstrar alguns dos acidentes mais polémicos e famosos da F1, somos muitas vezes afogados em imagens desconfortáveis onde pilotos a arder sem salvação possível invadem a nossa zona de conforto e fazem-nos perceber o carácter informativo, pedagógico e provocador deste documentário.
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