Vencedor do Óscar de Melhor Filme em 1990, "Driving Miss Daisy" do australiano Bruce Beresford ("Double Jeopardy") transpôs para o cinema a peça teatral de Alfred Uhry vencedora de um Pulitzer, contextualizada no final dos anos quarenta do século passado, onde uma abastada idosa judia é obrigada pelo filho a ter um motorista negro depois de um acidente em que demonstrou já não estar capacitada para conduzir. Ferida no seu orgulho e com um feitio terrível, contra tudo e contra todos, também culpa da sua história de vida, Miss Daisy (Jessica Tandy) e Hoke (Morgan Freeman) vão desenvolver aos poucos uma amizade improvável que quebrará barreiras e perdurará no tempo.
Verdadeiro sucesso financeiro - o seu orçamento de sete milhões de dólares rendeu bem mais do que cem milhões na altura do seu lançamento -, "Miss Daisy" conquistou ainda de forma algo inesperada a glória nos principais prémios da indústria, derrotando favoritos da crítica como "Born on the Fourth of July" ou "Dead Poets Society". Mais do que uma história sobre as implicações do racismo na sociedade norte-americana, "Driving Miss Daisy" é um hino à amizade e ao envelhecimento, à tolerância e à bondade. A química fenomenal entre Tandy e Freeman é um verdadeiro caso de estudo para qualquer actor em formação e a forma como o espectador acompanha a transformação de Daisy perante as atitudes e comportamentos de Hope ao longo de todos os obstáculos que lhe são apresentados, uma lição de vida que nos deixa a pensar que muitas vezes só aprendemos a viver quando a vida já passou quase toda por nós. No meio de cenários, automóveis, montras e cartazes de época dignos de uma cinematografia de excelência, não há nada na narrativa de Uhry que seja totalmente inesperado ou digno de surpreender até o mais crédulo dos cinéfilos; apenas uma simples história de vida contada num ritmo brando e sereno. Sem reviravoltas no guião, são as riquíssimas interpretações do duo principal que agarram o espectador, com especial destaque para duas cenas de laboratório que ficam na memória: para Freeman, o passeio de carro pelo Alabama em que diz "basta" à patroa; para Tandy, valeu-lhe o Óscar aquela arrebatadora performance nos primeiros dias em que o Alzheimer tomou controlo sobre a sua personagem.
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