Baseado num livro publicado em 1853, "12 Anos Escravo" documenta a história verídica de Solomon Northup, um afro-americano livre que, apesar de ser um talentoso e respeitado violinista/carpinteiro em Nova Iorque, é raptado, drogado e vendido por dois homens, transformando-se, da noite para o dia, num escravo sem quaisquer direitos em fazendas do interior norte-americano. Com uma nova identidade, o agora Platt Hamilton terá que sobreviver o máximo tempo possível na esperança que justiça seja feita e que volte a ver, um dia, a sua mulher e filhos.
Realizado pelo agora em voga Steve McQueen (autor dos intimistas "Hunger" e "Shame"), "12 Years a Slave" é, mais do que um filme sobre a liberdade - ou a ausência dela, neste caso -, um retrato cruel e emocionalmente devastador sobre a falta de humanidade do ser humano num período não muito distante da sua história e a forma como esta se invariavelmente dissipa naqueles que a possuem quando a decência e a dignidade são valores punidos de forma severa pelos opressores. McQueen sabe filmar como poucos da sua geração e não receia os longos planos angustiantes, que incomodam o espectador não só pela sua barbaridade física, mas principalmente por serem neles que se encerram a aniquilação de almas humanas inocentes. Provocador, McQueen não tem pudor nas imagens que mostra, tornando "12 Anos Escravo" uma obra de difícil digestão, tão desnecessária na forma abrupta como transmite a sua mensagem-chave quanto importante e fundamental para fazer a mesma perdurar nas nossas memórias. Se "Django Unchained" satisfaz-me muito mais enquanto cinéfilo de ocasião, a verdade é que "12 Years a Slave" enriquece-me assustadoramente além enquanto Homem. E, não sendo o meu favorito para os Óscares - a culpa é de Scorsese -, irá sem dúvida alguma arrebatar o principal prémio da noite pelo seu relevo social e humano. O que, tendo ainda para mais em conta que é infinitamente melhor que "Argo", último vencedor da Academia, não me chateia absolutamente nada.
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