A festejar o seu sexagésimo aniversário, Robert Miller (Richard Gere) é presenteado com a sua cara na capa da conceituada revista Time, ou não fosse ele um dos empresários de maior sucesso nos Estados Unidos da América, milionário a pulso e pai de família respeitado. O que ninguém sabe, nem mesmo os que lhe são mais próximos, é que o seu império está à beira da falência e a sua sobrevivência depende de um último negócio, no qual a sua imagem de homem íntegro e intocável será fundamental para desvalorizar algumas incongruências financeiras que serão descobertas no processo. O problema é que nessa mesma semana, Robert irá envolver-se num trágico e fatal acidente de viação com a sua... amante, o que irá obrigá-lo a refugiar-se numa teia de mentiras e contradições que podem levar não só ao fim do seu casamento e da sua empresa, mas também ditar o seu encarceramento vitalício.
Thriller riquíssimo a vários níveis, dos valores de produção - ainda para mais se tivermos em conta o seu modesto orçamento - à magnânima interpretação de Richard Gere - sem dúvida alguma a sua melhor desde "Pretty Woman" -, "Arbitrage - A Fraude" concilia de forma muito competente duas linhas narrativas díspares (uma profissional e outra pessoal), orquestrando um sentimento omnipresente de tensão e condescendência do espectador perante uma personagem que, à primeira vista, teria tudo para ser odiada e repugnada nos seus propósitos criminosos e de ganância exacerbada. Escrito e realizado pelo promissor Nicholas Jarecki, o nova-iorquino coloca-nos várias vezes a pensar que, estivéssemos nós na pele de Robert, provavelmente faríamos exactamente o mesmo que o vilão-herói desta história, de modo a proteger todos aqueles que amamos. Se o final aberto acaba por ser algo frustrante e intelectualmente pouco recompensador depois de hora e meia de suspense em alta voltagem, destaque obrigatório deve ser dado para a forma sublime em como os vinte minutos iniciais da fita colocam-nos completamente a par da personalidade, feitio e carácter de Robert. Pena apenas que o mesmo não tenha sido feito em relação ao detective interpretado por Tim Roth, personagem esta completamente desaproveitada na sua dicotomia entre caçador e presa; uma única cena de diálogo intenso entre Gere e Roth soube a muito pouco. Moral da história? O dinheiro e o poder são um bom álibi.
2 comentários:
Também gostei imenso! Tenho pena que seja tão subvalorizado. É assim meio old school, mas muito poderoso.
Indeed Tiago ;)
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