2028. Em qualquer acção militar norte-americana no resto do mundo, robôs e drones com tecnologia de ponta da multinacional OmniCorp garantem uma eficácia irrepreensível com zero casualidades humanas indesejadas. Já nos Estados Unidos, uma lei votada no Senado proíbe o uso destas máquinas pelas forças de segurança internas, evocando faltar uma componente humana fundamental de raciocínio, compaixão e decisão em momentos que podem definir a vida ou a morte de um malfeitor. Pelo que, quando um polícia fica gravemente ferido após uma explosão, a OmniCorp encontra a solução ideal para resolver o seu problema e, numa jogada de marketing portentosa, criar um polícia cibernético invencível que mudará a opinião do público e pode abrir portas a uma mudança na lei e, consequentemente, muitos biliões nos cofres.
Reboot desnecessário do clássico de culto dos anos oitenta, o "Robocop" do brasileiro José Padilha ("Tropa de Elite") é uma tremenda desilusão, um Robofilme de estúdio completamente moldado para os milhões de um público alargado, com medo de correr riscos e prestar uma homenagem sincera ao original assinado por Paul Verhoeven. Ao Alex Murphy de Joel Kinnaman falta o carisma de Peter Weller, ao vilão de Padilha a raiva e o rancor de Boddicker, ao background futurista de Detroit a sujidade da distópica cidade que entranhava as personagens no hit de 1987. Mas, acima de tudo, e já que esta renovação artística se tenta meter por esses caminhos, falta-lhe saber conquistar o público emocionalmente; é, aliás, nessa vertente, um zero à esquerda, repleto de silêncios tão patéticos quanto desconfortáveis, fechando literalmente portas de betão em reencontros familiares e, inexplicavelmente, saltando e evitando cenas com potencial intrínseco para criar ligações fortes de afinidade com o espectador. Talvez não seja assim tão inexplicável: foi tornado público o descontentamento de Padilha com o estúdio por este o obrigar a alterar “nove em cada dez ideias que tinha”, tornando a realização deste “Robocop” a “pior experiência da sua vida”. Sem humor – o comic relief Jay Baruchel foi um tiro ao lado no casting -, sem reviravoltas na narrativa e visualmente tão competente quanto estandardizado pelos padrões recentes do género em Hollywood, salvam-se dois aspectos: a interpretação deliciosa de Oldman enquanto cientista em conflito interno e o facto de nem o público nem a crítica terem ficado a pedinchar por uma sequela. É que, morto ou vivo, eu não dava um dólar por ela.
1 comentário:
Também não gostei nada...esta franchise continua amaldiçoada ;)
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