quarta-feira, março 26, 2014

Veronica Mars (2014)

Passou quase uma década desde que Veronica Mars deixou a corrupta Neptune em direcção à cosmopolita Nova Iorque. Agora uma recém-formada advogada à beira de conseguir o seu primeiro contrato profissional numa empresa de topo, Veronica vai ter que, no entanto, voltar às origens para ajudar o ex-namorado Logan, uma vez mais, a livrar-se de um assassinato do qual é injustamente acusado. Sem hipótese de escapar ao seu conturbado passado - ou não fosse esta também a altura da reunião de dez anos da sua turma -, Veronica terá que voltar a ser a rapariga destemida que uma vez foi, enquanto luta contra a mulher que agora é.

Experiência cinematográfica gratificante que muitos julgavam ser um sonho impossível de se concretizar, "Veronica Mars", o filme, é muito mais do que um episódio "deluxe" de reunião, como é costume acontecer nestas reaparições televisivas. Outrora série de culto adorada por milhões de marshmallows - eu fui, e ainda sou, um deles - Veronica Mars ressuscita graças a uma campanha de recolha de fundos online histórica, cuja elevada procura fez com que este se revelasse, sem margem para dúvidas, um projecto cujo investimento privado da Warner Brothers teria sido justificado.

Com uma reintrodução inicial ao universo neptuniano de alto gabarito, capaz de activar memórias entretanto perdidas aos fãs e, ao mesmo tempo, apresentar a personagem querida da carreira de Kristen Bell aos que caíram na fita de pára-quedas, o grande trunfo de "Veronica Mars" é, em linha com o que acontecia no pequeno ecrã, um guião de q.i superior repleto de pormenores e diálogos deliciosos - "Agente da FBI? Talvez noutra vida!" -, que permite às personagens manterem-se fiéis a si próprias, ao mesmo tempo que os admiradores do culto televisivo encontram referências escondidas de uma naturalidade apaixonante a momentos-chave da aventura televisiva que começou em 2004 e terminou, ao fim de três temporadas, em 2007.

O mérito vai todo, obviamente, para Rob Thomas, mente brilhante que nunca desistiu deste seu ente querido, abandonado e mal tratado pelos estúdios que lhe anteciparam uma morte inevitável. Acumulando funções de guionista, realizador, produtor, angariador de fundos e sabe-se lá mais o quê, Thomas oferece aos fãs tudo o que estes queriam (a relação pai-filha, o "duelo" Logan-Piz, Leo D'Amato ou o polícia Sacks, os amigos Weevil, Mac e Wallace, entre tantos outros), sem que isso prejudique minimamente o mistério noir que se tornou imagem de marca da série. Melhor que tudo, Thomas deixa as portas abertas a possíveis sequelas - tanto no final agridoce do filme quanto em entrevistas recentes -, o que deixa o futuro de Veronica Mars nas mãos dos resultados de box-office e video-on-demand (estreou ao mesmo tempo nos dois meios). Disse-nos o tema do genérico, ao longo de 64 episódios, que "há muito tempo atrás, costumávamos ser amigos". Pois bem, esta sequela cinematográfica só reforçou esta amizade.

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