História de um assalto a três que acabou em traição por pura ganância financeira e da respectiva vingança do homem que foi deixado ferido para morrer em Alcatraz pela sua namorada e melhor amigo, "Point Blank" revolucionou o cinema norte-americano em 1967 e, hoje, quase cinquenta anos depois, continua a ser bastante radical a nível técnico e artístico. Primeiro filme americano do inglês John Boorman ("Deliverance" e "Excalibur"), "Point Blank" começa de forma completamente atabalhoada, com um jogo de flashbacks constantes entrelaçados com o presente a confundirem o espectador, mas desenvolve-se quase de maneira perfeita num thriller de acção tão linear e convencional quanto niilista e provocador a todas as noções estabelecidas do género e do típico herói de Hollywood. Boorman atravessa o oceano com os métodos de realizadores europeus como Godard ou Resnais e enfia-os neste seu pós-noir, onde o isolamento de um homem num universo imoral é filmado com cores fortes e cenários visualmente ricos e espaçosos. Embutido de uma ironia quase mórbida na face irrepreensível de Lee Marvin, o seu Walker é definido pela demanda e, quando esta acaba, também a sua personagem se esmorece na escuridão. A resposta revela-se insignificante quando é a pergunta em si que não faz qualquer sentido - Walker não saberia o que fazer com aqueles noventa e três mil dólares, agora que estava sozinho no mundo - e para a eternidade fica uma questão: terá sido tudo aquilo o sonho de um homem moribundo numa cela abandonada? Boorman sugere muito mas diz pouco; e é esse abrir a múltiplas interpretações que torna "Point Blank" ainda mais interessante.
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