terça-feira, setembro 02, 2014

Au nom du Christ (1993)

Vou ser honesto com o leitor: foi um sacrilégio visionar este “Au nom du Christ”, ainda para mais numa cópia ranhosa disponível no Youtube, sem qualquer legendagem, onde quase todas as falas francófonas mais complexas ficavam para além do meu entendimento. Torna-se injusto avaliar o que quer que seja nestas circunstâncias, pelo que o melhor que posso fazer para não o induzir em erro será restringir-me ao que entendi da narrativa. Se pelo caminho ficaram várias piadas geniais e uma outra perspectiva do cinema feito na Costa do Marfim, aceitem desde já o meu pedido de desculpas. Parábola em forma de sátira que explora a proliferação do pseudocristianismo nas regiões mais remotas do planeta – obviamente com foco no continente africano -, “Em Nome de Cristo” (o filme já foi exibido em território nacional em festivais de cinema africano) conta-nos a história de um criador de porcos, ignorado e desprezado por toda a sua aldeia, que ao cair num rio muda radicalmente de vida quando tem uma visão que lhe anuncia que foi escolhido por Deus para salvar o seu povo. Após almejar alguns milagres duvidosos (curar mulheres irritadas é um deles, outros envolvem roubos às escondidas), rapidamente torna-se o líder da aldeia e é seguido por um exército de crentes religiosos que acreditam estar na presença de um Messias. Pouco habituado a tamanhas liberdades, rapidamente o “primo de Cristo” – assim se anuncia – charlatão vai abusar do novo poder que tem e estragar a festa. Vencedor do prémio para melhor filme em 1993 no FESPACO (o maior festival de cinema do continente africano) e nomeado para um Leopardo de Ouro no Festival Internacional de Locarno, “Au nom du Christ” é uma proposta cinematográfica radical para quem quiser descobrir um produto de características pouco usuais que mistura tradição, humor, modernidade e poder numa mescla de interpretações tão débeis quanto hilariantes, num conjunto de imagens tão amadoras (a realização é terrível) quanto ocasionalmente harmoniosas (algumas paisagens africanas são de cortar a respiração).

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