Alexander (Bruno Ganz) está prestes a ser internado num hospital, com dores demasiado insuportáveis para se conseguir manter, sozinho, em casa. Este é o dia anterior ao internamento, aquele em que decide arrumar a velha casa à beira-mar onde sempre morou, revisitando velhas memórias através das cartas de Anna, mulher com a qual casou cedo e cedo partiu deste mundo. E é nessas recordações que Alexander vai perceber que o seu tempo está a chegar ao fim. Vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes de 1998, “A Eternidade e um Dia” é a obra-prima máxima do conceituado realizador grego Theo Angelopoulos, uma que aborda tantos temas fulcrais da nossa existência quanto assuntos sociais e políticos sensíveis dos estados modernos. O tempo, a memória, a perda, o nascimento, a morte, o casamento, a prisão, o espírito aventureiro, tudo é recordado e analisado ao longo de um passeio à beira-mar, nas cartas da falecida esposa do protagonista narradas através da insinuante voz de Isabelle Renault, apelos poéticos tão apaixonantes quanto nostálgicos que reconstroem uma vida, a de Alexander, e possivelmente a de infinitos cinéfilos, perdidos e destroçados nas associações que fazem à sua própria existência. O tempo, tridimensional, intemporal, esvanece-se na interpretação fenomenal de Bruno Ganz, actor com uma presença magnética, que ganha força para viver no amor sagrado e secular da mulher da sua vida. A solidão de Alexander transforma-se com a nostalgia dessa paixão e a sua perspectiva existencialista altera-se. Até quando dura o amanhã? Uma eternidade e um dia, responde Alexander, perante o espelho de uma vida, ou como todos chamam, a morte. Um filme intenso, humano e belo, mesmo que triste.
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