"Na ilha de Santa Maria, nos Açores, assistimos ao fim dum mundo. Da epopeia internacional que aconteceu no aeroporto, nada resta senão um quarteirão residencial que se arruina, lentamente. Antes chamávamos-lhe Little America. Era a metáfora perfeita do sonho americano, um efémero Eldorado. A sua desaparição criou um vazio imenso. Dali em diante, os habitantes da ilha não páram de interrogar o passado. Face à eterna juventude das paisagens de Santa Maria, agora procuram reencontrar-se."
"Little America. Era o nome que lhe davam. A encarnação perfeita do sonho americano, um verdadeiro El Dorado. Uma pequena cidade, moderna e luminosa, continuava a desenvolver-se à volta do aeroporto. Quem ali habitava, vivia na opulência. Encontrava-se tudo o que existia em sonhos maiores : um hotel luxuoso, um centro comercial, uma igreja multiconfessional, uma piscina, um parque infantil, um ginásio para todos os desportos, campos de hóquei, bares, clubes, e até mesmo uma estação de rádio. Um cinema moderno onde se podia ver as últimas imagens de Hollywood. Mas a pequena América era um mundo fechado e exclusivo. Uma ilha dentro da ilha. Enquanto se nadava na piscina do bairro residencial, continuava a não existir água corrente na maior parte das freguesias da ilha. As estradas alcatroadas e a eletricidade eram destinadas a quem vivia na localidade do Aeroporto, transformando-a na vitrine internacional do Estado Novo, "decorada" pela ditadura portuguesa. Postos de polícia controlavam as entradas e afastavam os "indesejáveis". Mas o mundo "livre" que passava por lá, fechava os olhos, e a prosperidade do Aeroporto parecia eterna."
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