O tráfego deixou de surgir de uma ligação inter/intrablogosférica - da partilha de links aos comentários nos próprios blogues que geravam visitas de retorno, algumas por cortesia "profissional" - para ser quase todo proveniente do Facebook e das partilhas que lá são feitas. A vistoria obrigatória do início do milénio, antes do Google Reader e de outros feed readers posteriores, que obrigava a colocar os nossos blogues predilectos nos favoritos e visitá-los com frequência, foi substituída pela falsidade de uma leitura incógnita e misteriosa que pouco ou nenhum feedback nos dá sobre o nosso trabalho, sobre um número real de pessoas que nos lêem e seguem. Ser blogger era uma paixão amadora, não um negócio profissionalizado. Ser blogger era ter uma voz independente, que criava conteúdos únicos e não se limitava a copiar press-releases ou divulgar notícias que podiam (e podem ainda) ser encontradas em mil e um outros locais. Ser blogger era ter dez, quinze comentários estruturados por publicação guardados para a eternidade e não trinta ou quarenta de meia dúzia de palavras que, em menos de uma semana, caiem no esquecimento. Ser blogger era estar genuinamente preocupado em ter uma conversa com os nossos leitores, não com o grau de viralidade (os likes que geram likes) de um post. Que saudades tenho eu da velha escola da blogosfera; aquela que evoluiu e se transformou hoje numa mutação entre várias espécies sociais (FB, Twitter, etc.) de modo a não cair no esquecimento. Resta-me a consolação de imaginar, um dia distante daqui a cinquenta anos, sentado à frente de um aparelho qualquer tecnológico a reler e relembrar uma vida inteira dedicada a um hobbie. E, quem sabe daqui a um século, com os meus netos a admirarem o falecido avô que era "muito à frente" e falava de maminhas e rabos pelo menos uma vez por mês.
quinta-feira, novembro 12, 2015
A morte dos blogues
O tráfego deixou de surgir de uma ligação inter/intrablogosférica - da partilha de links aos comentários nos próprios blogues que geravam visitas de retorno, algumas por cortesia "profissional" - para ser quase todo proveniente do Facebook e das partilhas que lá são feitas. A vistoria obrigatória do início do milénio, antes do Google Reader e de outros feed readers posteriores, que obrigava a colocar os nossos blogues predilectos nos favoritos e visitá-los com frequência, foi substituída pela falsidade de uma leitura incógnita e misteriosa que pouco ou nenhum feedback nos dá sobre o nosso trabalho, sobre um número real de pessoas que nos lêem e seguem. Ser blogger era uma paixão amadora, não um negócio profissionalizado. Ser blogger era ter uma voz independente, que criava conteúdos únicos e não se limitava a copiar press-releases ou divulgar notícias que podiam (e podem ainda) ser encontradas em mil e um outros locais. Ser blogger era ter dez, quinze comentários estruturados por publicação guardados para a eternidade e não trinta ou quarenta de meia dúzia de palavras que, em menos de uma semana, caiem no esquecimento. Ser blogger era estar genuinamente preocupado em ter uma conversa com os nossos leitores, não com o grau de viralidade (os likes que geram likes) de um post. Que saudades tenho eu da velha escola da blogosfera; aquela que evoluiu e se transformou hoje numa mutação entre várias espécies sociais (FB, Twitter, etc.) de modo a não cair no esquecimento. Resta-me a consolação de imaginar, um dia distante daqui a cinquenta anos, sentado à frente de um aparelho qualquer tecnológico a reler e relembrar uma vida inteira dedicada a um hobbie. E, quem sabe daqui a um século, com os meus netos a admirarem o falecido avô que era "muito à frente" e falava de maminhas e rabos pelo menos uma vez por mês.
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10 comentários:
Quer dizer, ainda agora cheguei a este mundo, e já estou atrasado. :P
Parece-me que o problema ultrapassa os blogues. É o facto de ninguém parar para ler, está toda a gente ocupada a fazer cliques. A maioria dos utilizadores da internet provavelmente só lê um livro se for obrigada. Ora quando é assim onde fica aquele gosto paciente pela escrita e leitura de um longo texto? Onde fica o tempo para pensar sobre o que se leu, e quem sabe elaborar uma resposta?
Eu sou do tempo em que se tinham discussões infindáveis em fórums e mailing lists de fazer corar um parlamento. Hoje ninguém o faz, porque tudo tem de ter no máximo 120 caracteres.
Já agora, grande texto, e vivam as maminhas e rabinhos de que vais continuar a falar!
Se quem entrou na nossa altura era por prazer e quem chegou depois era na tentativa de construção de um portfolio para vôos mais altos, quem ainda hoje permanece será certamente por amor.
As modas estão a mudar e acredito que os blogues mudando pouco voltarão a ter um papel muito importante.
Concordo com quase tudo aquilo que escreveste. Juntava ainda o hábito que se está a criar em alguns espaços de se escrever críticas sobre filmes que "dão visitas" ao invés de se escrever sobre aquilo que se gosta. Confesso que cheguei a passar por essa fase (nos tempos iniciais da Take), mas cada vez mais tenho tirado um prazer enorme em escrever apenas sobre aquilo que me apetece.
Ainda existem blogs que continuam a merecer bastante atenção (este é um deles), embora eu próprio contribua muitas das vezes para algo que me desmotiva imenso no Rick's: ler os textos e não comentar. A certa altura parece que praticamente estamos a escrever para paredes (é tão estranho ter textos com mais de mil visualizações e nem contar com um "isso está uma merda" a expressar azedume). O próprio pessoal parece muitas das vezes estar a lixar-se para entrar em debates ou contestar argumentos para não se chatear (já me chegaram a responder no meu perfil pessoal a um comentário mais acalorado que efectuei no Facebook de um blog, algo que também diz muito da falta de interesse de algumas pessoas em alimentarem os debates nos seus espaços). No entanto, as redes sociais não só mataram em parte o debate nos espaços dos blogs mas também a forma como se escreve nos mesmos e nos sites. Nem é preciso entrar em blogues, basta ler algumas críticas do Público que praticamente cabem em 2 ou 3 tweets, ou entrar em sites que procuram reduzir os textos ao máximo para não correrem com os leitores. No entanto, escrever no Rick's é um gosto que espero nunca vir a perder, independentemente da inevitabilidade de ter de diminuir o ritmo das publicações.
Vale ainda a pena realçar que são textos como aquele que escreveste que demonstram que, apesar de tudo, os blogs ainda continuam pertinentes e merecedores de toda a atenção.
Abraço
Infelizmente tudo é verdade o que torna ainda mais triste está dura realidade, hoje todos os comentários curtos ou longos perdem-se no meio de tanta confusão de facebooks e companhia, felizmente ainda existem alguns blogues a tentar dar-nos cada vez com mais esforço alguma alegria... A esses que ainda resistem à decepção queria aqui deixar um obrigado pela força e dedicação, a todos os que iniciaram estas viagens à anos e anos atrás fica a minha eterna admiração... para eles outro obrigado do fundo do meu coração. Obrigado a todos a sério, um abraço e nunca se arrependam de ter ajudado um leitor a sorrir
Um artigo bastante certeiro.
Pessoalmente, notei o declínio do meu hábito de comentar nos blogues quando comecei a usar o Google Reader... eram muitos blogues para acompanhar diariamente. Hoje uso as redes sociais como feed reader...
Agora fiquei a pensar....obrigado
Eu acho que todos temos uma relação de amor / ódio com o Facebook. Porque é responsável por trazer bastante tráfego mas não é tráfego de qualidade. Esta é também a minha guerra e a minha paixão e quase ninguém a compreende. As pessoas dizem que é a ordem natural o facebook e o twitter, mas estamos a falar de conteúdo de qualidade estar a ser substituído por uma máquina de servir lixo que de tira toda e qualquer sensibilidade. Além de que o Facebook contribui activamente para que não se leia ao meter o "ler mais" de 4 em 4 palavras como se os frageis cerebros dos seus utilizadores precisassem de descanso. Para não falar no modelo de negócio. Além de não recompensarem a quem mete conteúdos, ainda tens que pagar para que as pessoas leiam o que escreves. Eu uso o blogging como um escape às agruras da realidade e só nesse contexto tem lógica.
PS: Não sou um robot, ao contrário do que o teu blog pensa.
Não é um mal dos "blogs" é um mal geral.
Os meios de comunicação social queixam-se "do mesmo". A morte da imprensa escrita e a preferência da "noticia de 160 caracteres" e comentários directos e imediatos a posts.
A inexistência de comentários nos blogs pode ser explicada pela dificuldade que muitas vezes isso implica. Há blogs com tantas restrições nos formulários que uma pessoa perde a tesão de comentar o que quer que seja.
Quanto à morte dos blogs em si, acho que os maiores homicidas são os próprios autores. O truque está na diferença e na personalidade que se dá ao espaço. No dia em que o meu blog seja igual a outro, encerro as portas. Enquanto o meu blog for o espelho de mim própria e continuar a ter o que mais nenhum tem, tenho muito gosto e prazer em continuar "a arte".
Aqui há uns tempos andei precisamente a pensar nesse assunto e cheguei à conclusão que o problema é nosso. Ou melhor, da nossa blogoesfera. A minha mais-que-tudo tem um blogue há uns 3 anos. É um blogue pessoal, não tem nenhum tema em específico, mas tem sempre a caixa de comentários cheia. Com discussões e perguntas, como nos nossos velhos tempos. Então comecei a pensar que a culpa era do nosso "nicho".
As pessoas que não são da blogoesfera entram nos nossos blogues à procura de informação e não têm nada a dizer sobre o assunto.
As pessoas que se interessam pelo assunto provavelmente estão cegas por aquela arrogância que veio com o acesso universal que temos quase a todos os conteúdos e por isso vêem-nos como uma ameaça/concorrência. Preferem criar um espaço onde são eles que mandam do que comentar no espaço dos outros.
Em todo o caso, eu gosto do que faço e não estou a pensar parar tão cedo. Felizmente não preciso das visitas para sobreviver e nem tenho outras ambições para além de me divertir. Continuo satisfeito com a pequena mas simpática comunidade que me lê :)
E por isso cá vou andando.
Li todos os vossos comentários com muita atenção e de todos retirei algo importante. Por isso, antes de mais, obrigado pela participação aqui e não no facebook, lembrando os velhos tempos, respeitando o que defendo no artigo.
De um modo geral, alguns pontos quem importa esclarecer e/ou discutir:
- Não sou contra estas "evolução", mesmo tendo muitas saudades do funcionamento antigo da blogosfera, da importância que era dada a esta. Acho sim que temos que nos adaptar à evolução, às portas que todas estas mudanças tecnológicas e culturais abrem. Saber aproveitá-las, usá-las a nosso favor.
- Ultrapassa os blogues? Sem dúvida. Também sou do tempo de discussões intermináveis em fóruns. Hoje tal é impensável, resume-se tudo a comentários de duas, três linhas no facebook.
- Parte da adaptação passa também pela nossa forma de escrever. Se o público habituou-se a ler "fast-words", se queremos escrever à procura de feedback e não apenas por puro prazer (como defendo que deve ser), teremos que ser mais sintéticos no que fazemos, sem perder qualidade. A não ser que seja um texto sobre um filme que amamos, duvido muito que alguém tenha paciência para ler parágrafos e parágrafos sobre um assunto (filme) que não nos é relevante. É normal, é a cultura de hoje.
- Os comentários perdidos no facebook é o que mais me aflige. Comentários por vezes pertinentes. Que aqui seriam eternos, lá rapidamente caiem no esquecimento.
- Os feed readers mudaram o panorama, para o bem e para o mal. A verdade é que não há blogger que não os use.
- Sem dúvida alguma que um blogue tem que ter personalidade, uma voz própria, certa ou errada, que não se limite a partilhar algo sem juntar no mínimo um comentário pessoal. Nem que seja um trailer, o mínimo será dar-lhe um título de post original/divertido/opinativo. Ou pelo menos tentar ;)
- Por fim, quem parar um blogue por tudo isto, é porque não o criou com os objectivos certos. Um blogue é um espaço pessoal que não deve estar dependente de números mas sim de questões intrínsecas ao autor.
Obrigado a todos pelos preciosos comentários!
Compreendo em parte o teu ponto na alteração do modo de escrita, mas aí até posso contrapor com o exemplo de dois realizadores que entrevistei no âmbito do FESTin em que falavam que cada vez mais começam a dar relevância àquilo que é escrito nos blogues e sites exactamente por existirem análises muitas das vezes mais completas do que na imprensa escrita que (infelizmente) está muito limitada a nível de caracteres e às estrelinhas. No entanto, a quantidade nem sempre é qualidade (embora eu privilegie sempre a primeira hehehe).
No caso das notícias. Já tentei dar opinião, já tentei fazer dois posts diários que reúnem as notícias e o feedback é o mesmo (no blog). No entanto, é algo que mantenho, ainda que em doses menores, mais por egoísmo do que outra coisa (procurar estar sempre informado sobre o que está a ser feito ou a sair). Nisso invejo (positivamente) casos como o Visão de Mercado em que conseguem ter centenas de comentários em posts de notícias. Diga-se que a blogosfera no que diz respeito ao desporto, moda e afins continua bem viva, parecendo existir um maior à vontade do pessoal em trocar opiniões do que nos blogues de cinema (basta veres que tiveste mais gostos e comentários no Facebook do que aqui).
Concordo quando dizes que quem parar um blogue por tudo isso que mencionaste é sinal que não criou o mesmo pelos motivos certos. Mas aí também entronca no que salientei sobre, em alguns casos, existir uma preocupação maior em acompanhar aquilo que dá visitas ao invés de se escrever ou fazer aquilo que se gosta. A longo prazo acaba por não funcionar, embora existam muitos casos que escrevem sobre aquilo que gostam. No entanto, também existem outros factores como o cansaço, falta de motivação, etc, que acabam por pesar.
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