Dois homens, dez debates e a televisão nunca mais seria a mesma. De um lado, o republicano conservador, braço direito de Reagan, William F. Buckley Jr.; do outro, o escritor democrata pós-modernista, amigo de JFK (mas posteriormente inimigo de Bobby Kennedy, que o considerava um rival numa possível futura candidatura a Presidente) Gore Vidal, um homem muito à frente do seu tempo, por exemplo um dos primeiros a assumir em praça pública que era homossexual - termo que detestava, pois achava que ninguém devia ser classificado de acordo com quem gostava -, sem qualquer medo das represálias que tal reconhecimento traria à sua vida pública e privada em plena década de cinquenta. Porque é que a televisão nunca mais seria a mesma? Numa época (final dos anos sessenta) em que existiam duas grandes cadeias de notícias, a CBS e a NBC, a pequena ABC tentava ganhar notoriedade e audiências; sem dinheiro nem meios para fazer as coberturas integrais das convenções políticas que as concorrentes faziam, a ABC apostou num formato de estúdio nunca antes pensado: um frente-a-frente entre dois opinion-makers, senhores de uma retórica inigualável, mas que defendiam pontos de vista totalmente opostos sobre quase tudo na vida política e social norte-americana. O que hoje é banal em todo o mundo, o debate televisivo, seja sobre política ou futebol, teve a sua génese com Buckley e Vidal, que com um ódio de morte um ao outro, chegaram a trocar ameaças de agressões físicas em directo, bem como insultos (queer de um lado, criptonazi de outro) que marcariam para sempre as suas imagens na cultura popular. Um documentário edificante, que não toma partidos, mas que abre o apetite ao espectador para explorar a vida e obra de Gore Vidal.
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