A quarta temporada da britânica "
Sherlock" tinha tudo para funcionar: a morte de uma personagem-chave no primeiro episódio, um vilão inquietante - o brilhante Toby Jones, com um talento inversamente proporcional ao seu tamanho - no segundo e aquela que poderia ter sido a personagem mais complexa e assombrosa da série, logo agora que esta ficou orfã de Moriarty, no finale. Mais: várias ideias que se podiam ter revelado brilhantes se fossem tratadas como no passado, ou seja, com alguma lógica e plausibilidade: a bengala armadilhada, o planeamento antecipado dos movimentos, o reviver da infância de Sherlock e Mycroft, a prisão isolada do mundo numa ilha remota, a repentinamente cool Mrs. Hudson com o seu carro desportivo e Iron Maiden na playlist etc. etc. O que deram todos estes ingredientes fantásticos? Uma refeição azeda, aquela que foi, de longe, a pior temporada da série, demasiado fantasiosa, mal montada - várias vezes parecem faltar cenas de ligação, como é exemplo quase chocante o final do segundo episódio (tiro) com o início do terceiro (tudo bem,
move on, era um tranquilizante, já estamos noutra) ou a explosão no apartamento que passa de imediato para uma cena no barco com todos os que tinham sido afectados -, quase insultuosa para o espectador na forma como esperam colar tanta sequência impossível de ocorrer. Sim, expliquem lá como é que a maluquinha de camisa de dormir - melhor termo que arranjo para não spoilar nada a ninguém - arrastava sozinha três matulões da ilha para o cenário da revelação final. Tudo muito difícil de engolir, mal explicado - algo impensável nas restantes temporadas - e, cheira-me, com um adeus escondido naquele recordar do que a dupla já passou e, claro, na inesperada humanização de Sherlock. O tempo dirá.
Sem comentários:
Enviar um comentário