Vamos começar pelo longo soundbite: "
Contratiempo" é um mistério brilhante, uma engenhosa armadilha narrativa que nos deixa perdidos (de alegria e excitação, entenda-se) num jogo entre um gato com pele de coordeiro e um lobo com pele de rato - a confusão nesta expressão é mais do que propositada -, numa hora e quarenta que passa a voar, sem chouriços para encher, onde tudo o que parece não é, obrigando a uma atenção redobrada a todos os pormenores de uma história fenomenalmente bem construída do princípio ao fim. Realização espantosa de Oriol Paulo ("
El Cuerpo"), sempre com os ângulos certos, o ritmo adequado, as revelações e as dúvidas no momento certo, com um elenco que não perdoa. Certamente propositado, olhamos para Mario Casas e não conseguimos ler as suas expressões e o seu olhar; acreditamos na frieza de Ana Wagener quando esta afinal tantos sinais deu que estava nos trópicos; e, por fim, sofremos da angústia descontrolada de José Coronado, apenas para mais tarde percebemos que se trata da personagem mais cerebral de todas.
Estruendoso, magnánimo.
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