domingo, fevereiro 20, 2022

Até Que o Porno Nos Separe (2018)

"Ser mãe é um amor que nunca se esgota", grita Eulália Almeida directamente do fundo do seu coração e da sua alma durante os créditos finais. E é nesta esfera maternal de alguém disposto a aceitar "escancarar o seu armário" para deixar o amor derrubar qualquer preconceito - seu mas também dos que a rodeiam - que o documentário de Jorge Pelicano ganha uma camada emocional absolutamente prodigiosa e rara, que nos confronta com os nossos próprios pecados enquanto filhos, sejam eles de que natureza forem. A solidão, o abandono, a vida que nos leva para uma distância física que inevitavelmente se transforma num sentimento de ausência e ingratidão, sempre com os planos certos - os crucifixos na casa e no palco, o marido rezingão sem cara, a luz do computador que se apaga - e os silêncios nos momentos perfeitos. Falta o mesmo impacto desta vida que se esgota num desespero angustiante na perspectiva que nos é oferecida de Sydney no segundo acto do documentário - o foco está mais centrado na homossexualidade e na sua profissão do que, como creio que devia, nos seus defeitos enquanto filho -, mas ainda assim "Até Que o Porno Nos Separe" revela-se uma obra singular e excêntrica num género - o documental - que adora factos e evidências e que, por isso mesmo, raramente consegue colocar algo tão espiritual e platónico como objecto final da sua arte.

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