Há algo no cinema humanista de Kiarostami que torna os seus filmes irresistíveis. Não se percebe bem o quê, não se explica, mas sente-se. Sente-se a inquietação das suas personagens, a força e o potencial das ideias e dos temas que aborda. E, no entanto, este "
O Sabor da Cereja", filme com que arrecadou a Palma de Ouro em Cannes em 1997, soube-me a muito pouco. Senti o cinema do iraniano mas também a sensação constante de todo um mundo de motivações e razões que ficaram por explorar no meio da abordagem serena e emocionalmente fria de uma narrativa que gira em torno de um homem que procura alguém para tapar o buraco onde se planeia suicidar. Não é que a abordagem quase niilista da parte do Sr. Badii me tenha incomodado muito e que não entenda o seu encanto; simplesmente senti que se perdeu uma oportunidade de levar a história para um patamar muito mais complexo que faria justiça não só à personagem-chave como ao espectador. Já a cena final, em que Kiarostami quebra completamente a quarta parede recorrendo a imagens de bastidores das gravações, que patetice; fora de contexto, arrasa com o poderio da cena que lhe precede e quebra o contrato de credibilidade e empenho celebrado entre o espectador e o cineasta. "
É só um filme" é algo que não queremos levar como lembrete no final de uma jornada destas.
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