É fácil perceber a razão pela qual este "filme que não é filme" do iraniano Jafar Panahi recebeu tanto amor e paixão: trata-se, afinal de contas, de uma espécie de video-diário proibido de um realizador condenado a prisão domiciliária e a vinte anos de abstenção cinematográfica por "esticar a corda" nas suas obras. Um grito de revolta que furou fronteiras numa pen usb escondida num bolo, mesmo a tempo de chegar a Cannes e arrecadar uma Palma de Ouro. Uma ode de liberdade a toda uma classe reprimida de fazer o que mais ama, sem medos nem restrições. O herói que o Irão e o cinema enquanto arma política precisavam... e que ninguém esperava. Uma carta de amor, filmada parcialmente com um telemóvel, com Panahi a ler guiões nunca filmados, a alimentar uma iguana, a tratar do cão da vizinha - até este começar a chatear -, a entrevistar um jovem estudante que recolhia o lixo do prédio para ganhar uns meros trocos, etc. De tudo um pouco, do pouco quase tudo, porque na verdade sabemos à partida todo o contexto sócio-político que o envolve. Tiremos isso, e não sobra quase nada. E o que mais importa? O conteúdo? Ou a mensagem?
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