E vocês, já viram um filme uruguaio esta semana? Montevideu, 1993. Dica para a malta que trabalha nas bilheteiras dos cinemas: nunca confiar num tipo de gabardine escura com capuz e saco vermelho de ferramentas, que paga os bilhetes e os pega com luvas de cabedal postas. É capaz de não estar a ir ao cinema com a melhor das intenções. Pormenores, enfim. Um velho projeccionista que deixa a última sessão a cargo da sua filha, um casal em que ele é nerd e ela é galdéria, um miúdo que ficou às escondidas na sala desde a sessão anterior, um grupo de adolescentes cujo tema de conversa é a parecença de uma outra espectadora com a Brooke Shields n'A Lagoa Azul e uma versão também ela uruguaia do "
Frankenstein" na grande tela. O conceito é apaixonante - um serial killer à solta numa sala de cinema -, mas a execução por mais visualmente competente que seja - efeitos práticos cujo expoente máximo é aquele olho pendurado ou a morte com o projector - acaba por pecar praticamente em todos os restantes aspectos técnico-narrativos que podem ser analisados: as interpretações são fraquitas, não há qualquer tipo de aprofundamento nas motivações e nos medos das personagens - as razões do coleccionador de olhos, para começar - e a sonoplastia começa por assemelhar-se a uma interessante homenagem aos giallos para rapidamente se tornar deveras irritante. Enfim, para memória futura, fica um sempre apaixonante primeiro beijo, um trabalho manual (sim, tradução literal do termo inglês amigos) numa sala de cinema e o pormaior engraçado nos créditos finais, com os nomes a ficarem ensanguentados conforme vão desaparecendo no topo.
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