A interpretação da Gena Rowlands é de outro planeta, de um calibre e de uma natureza rara na história do cinema. Sim, leram bem, enfio mais de um século de vidas, filmes e personagens nesta expressão. Não há aparente exagero que envergonhe o que Rowlands fez aqui. Filme cru, como se não existisse uma única câmera em torno daquelas pessoas, daqueles jantares de amigos, daqueles momentos de amor e loucura de um casal, de ternura e cansaço entre pais e filhos - e aqui conto também com os pais dos pais. Cassavetes coloca-nos como meros observadores de uma história de vida, melhor, de uma fatia de uma história de vida, com uma cinematografia tão naturalista quanto tremendamente eficaz. A loucura, a sanidade mental e a forma como era tratada e abordada nos anos setenta, Peter Falk e Gena Rowlands sempre no limite, deixando-nos psicologicamente exaustos. Nem tudo é perfeito - o filme sofre longe de Rowlands, tanto a nível narrativo como rítmico, e o corte e costura nem sempre tem atenção a detalhes simples de posicionamentos -, mas tudo isso é absorvido pela performance de Rowlands. Um grito de guerra feminino contra uma sociedade patriarcal, um hino ao cinema.
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